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Schumann - Sinfonia Nº 2

Por Rafael Torres

Esta é a Segunda Sinfonia, em Dó Maior, Op. 61, do compositor Romântico alemão Robert Schumann (1810-1856) e foi composta entre 1845 e 1846. Schumann é autor de 4 Sinfonias, mas eles as compôs em ordem diferente da que conhecemos hoje.

  1. Sinfonia Nº 1 "Primavera", em Si Bemol Maior, Op. 38. Publicada em 1841.

  2. Sinfonia Nº 4, em Ré Menor, Op. 120. Publicada em 1841.

  3. Sinfonia Nº 2, em Dó Maior, Op. 61. Publicada em 1846.

  4. Sinfonia Nº 3 "Renana", em Mi Bemol Maior, Op. 97. Publicada em 1851.

Ela é, portanto, a penúltima que ele escreveu.


Algumas notas sobre Schumann


Compositor absolutamente atormentado, nobre, caótico, generoso e genial. Nasceu em Szwickau, no Reino da Saxônia, atualmente Alemanha, em um período em que nasceram muitos compositores importantes do Romantismo - Frédèric Chopin (1810), Franz Liszt (1811), Felix Mendelssohn (1809), Richard Wagner (1813).


Schumann começou a compor aos 6 anos. Era apaixonado, acima de tudo, por literatura - seu pai era livreiro, escritor e editor. Seu autor favorito era o romancista e contista alemão Jean Paul, por quem era obcecado. Começou a estudar piano e teoria musical aos 7, com um professor local, e desde então desenvolveu um fascínio inesgotável pela música. Dentre seus compositores favoritos estavam Ludwig van Beethoven, Franz Schubert e Felix Mendelssohn, que foi uma criança prodígio. Schumann começou a escrever literatura aos 14.


Robert Schumann, daguerreótipo de 1850
Robert Schumann, daguerreótipo de 1850.

Em 1826, seu pai, que encorajava suas aspirações musicais, morreu. A mãe, que nunca o apoiou na música, o pressionou até que, em 1828 ele partiu para Leipzig (Alemanha) para estudar direito. Em Leipzig ele foi a um concerto de uma jovem pianista, Clara Wieck. Tão entusiasmado ficou que começou a estudar piano com seriedade, com o professor Friedrich Wieck (pai de Clara), que o garantia que ele se tornaria o maior pianista da Europa. Acontece que ele sofreu um acidente - ninguém sabe ao certo, mas conta-se que ele possuía um mecanismo para fortalecer os dedos fracos (anelar e mínimo) que acabou prejudicando os outros dedos da mão direita (outra tese diz que isso ocorreu porque ele tinha distonia). Por isso ele teve que abandonar o piano e se voltar à composição. Virou também crítico musical, com seu jornal Neue Zeitschrift für Musik. Nesse jornal ele leva adiante uma antiga e problemática ideia: a de escrever encarnando dois personagens, Florestan, que representa seu lado passional e febril, e Eusebius, representando seu lado meditativo e sonhador (havia um terceiro, chamado Master Raro, de que pouco se fala, representando o equilíbrio entre os dois). Ele assinava suas críticas, algumas vezes, como um ou outro. Florestan e Eusebius também podem ser observados em sua obra musical, que frequentemente alterna entre os dois humores. O problema, eu conto .


Por volta de 1835 ele começa a se apaixonar pela filha do professor de piano, a Clara. Ela tinha 15 anos (isso era normal na época) e já era uma pianista consagrada, tendo feito sua estreia aos 9 anos. Clara viria a se tornar uma das mais prestigiadas pianistas da Europa, além de ser compositora. Mas a carreira de compositora ainda era mal vista pela Europa machista de então, de modo que ela publicou poucas obras.


Em 1940 eles se casaram, depois de uma batalha jurídica com o pai dela (que só voltaria a falar com eles 3 anos depois). O casamento foi próspero, ela estreou muitas das peças dele. Mas a verdade é que a vida em família pesou sobre a carreira dela. Eles tiveram 8 filhos, dos quais 7 vingaram. Quando Robert morreu, em 1856, Clara passou a ter que cuidar da família sozinha.


Robert e Clara Schumann
Robert e Clara Schumann em 1847.

Mas os Schumann eram um casal unido, respeitado, querido e prestigiado. O problema é o seguinte: é a saúde mental de Robert. Sua irmã Emilie havia cometido suicídio, e ele mesmo sentia uma aflição mental desde 1833, que foi evoluindo para possivelmente o que chamamos de depressão bipolar (aculture-se aqui - link externo). Muitos estudos médicos, da época e mesmo de hoje, feitos através de cartes e diários, não conseguiram definir o que Schumann tinha. Mas, o que quer que fosse, continuava a se agravar.


Esta mesma sinfonia de que trataremos nos traz sinais de um possível transtorno bipolar, com seus momentos líricos, calmos, contrastando com outros de saudade e solidão. É como se Florestan e Eusebius lutassem para ver quem toma conta da mente de Robert. O fato de ele usar dois personagens tão distintos pode ser sinal do transtorno. Por um tempo, nos anos 1840 e 1850, porém, ele pareceu se recuperar, viajando com a família e tendo momentos de lazer. Em 1850 a família se muda para Düsseldorf, onde Schumann tinha sido contratado como regente. Acontece que ele era notoriamente um péssimo regente, e logo passou a ser hostilizado pelos músicos da orquestra. Não durou um ano. Mas, em 1853, ele voltaria a viver em Düsseldorf.


Em 1853,bate à porta dos Schumann o jovem compositor Johannes Brahms (aos 20 anos e trazendo consigo as partituras de suas três Sonatas para Piano). Os três criam intimidade, mútua simpatia e admiração rapidamente e Brahms passa alguns meses vivendo com eles. Schumann escreveu em seu jornal: "é o escolhido"... "destinado a dar expressão aos tempos da mais elevada e ideal maneira"... De fato, Brahms viria a se tornar uma espécie de sucessor musical de Beethoven.


Mas em 1854 Robert teve uma piora significativa. Ele via demônios e ouvia constantemente a nota lá. Em certo ponto, ele relatou que a nota lá se transformara na mais angelical das músicas, só para depois, em uma certa noite, acordar de madrugada alegando que o fantasma de Mendelssohn ou Schubert havia lhe ditado um tema dos espíritos. Ocorre que tal melodia era do próprio Schumann, ele já havia escrito obras com o tema, como o Concerto para Violino. São os sinais definitivos de que ele estava enlouquecendo.


No mesmo ano de 1854 ele tentou suicídio, atirando-se no rio Reno. Sua carta de despedida fecha assim: "Irei encerrar agora. Está ficando escuro". É internado em um Sanatório em Bonn e impedido de ver Clara, pois o médico o considerava perigoso. Ela tem que confiar as visitas ao grande amigo do casal, Brahms, que fielmente notícias frequentes. Em 1856, Clara é autorizada a vê-lo. Ele a reconhece e diz umas poucas palavras. Dois dias depois, Robert morre de pneumonia.


A obra de Schumann é uma das mais importantes na tradição erudita europeia (tradição que já tinha estudiosos nas Américas). É uma música colorida, de belos temas e de escrita impecável. Assim como o compositor era atormentado, a música descrevia sentimentos (por vezes febris), em vez de ações, um dos ideais do Romantismo. Forestan e Eusebius são frequentemente evocados, muitas vezes os dois em uma mesma peça. Uma parcela enorme da sua obra é para piano solo. Além disso ele escrevia música de câmera, música sinfônica (algumas aberturas, além das 4 sinfonias), três Concertos (para Piano, para Violoncelo e para Violino) e até um pouco de música coral e alguns lieder (canções).


Suas peças mais conhecidas incluem:

  • Papillons (para piano);

  • Kinderszenen (para piano);

  • Fantasia em Dó Maior (para piano);

  • Kreisleriana (para piano);

  • Estudos Sinfônicos (para piano);

  • Carnaval (para piano);

  • Álbum para a Juventude (para piano);

  • 3 Sonatas para Piano;

  • Concerto para Piano em Lá Menor (para piano e orquestra);

  • Concerto para Violoncelo em Lá Menor (para violoncelo e orquestra);

  • Quarteto com Piano (para piano e trio de cordas);

  • Quinteto com Piano (para piano e quarteto de cordas);

  • As 4 Sinfonias.


A obra


A 2ª Sinfonia, em Dó Maior, Op. 61, é uma obra suavemente serena, como se Eusebius tivesse sequestrado a pena. Florestan, com seus arroubos, pode ser ouvido várias vezes na música, mas não chega a dominá-la. Essa leveza da obra não condizia com a vida real de Schumann, que se achava cada vez mais perturbado. Foi quando escrevia o final dela que apareceu a nota lá, dentro de sua cabeça, para não sair nunca mais.


Ah, é importante ressaltar que, em 1845, justo quando começava a compor a sinfonia, Schumann reformulou seu método de compor. Agora, ele não escrevia sentado ao piano, coisa que ele fazia antes, mesmo que só uma mão lhe servisse. Essa nova abordagem pode ter aparecido como fruto dos intensos estudos de contraponto que havia feito com Clara. Contraponto é a arte de escrever duas ou mais melodias para soarem ao mesmo tempo, sendo necessária, para isso, uma série de regras e parâmetros. O estudo do contraponto, cuja prática vinha desde o fim da Idade Média, fortalece, entre outras coisas, o ouvido interno (a capacidade de "escutar" uma partitura na mente, apenas imaginando os sons).


Uma influência presente, ainda que sutil, é a da obra de Beethoven (que havia morrido em 1827). Não necessariamente na concepção melódica ou na escrita orquestral. Na verdade é na narrativa (essa palavra tão apoucada atualmente é deveras útil quando se trata de música), sendo que, segundo alguns, a Segunda Sinfonia pode ser parente da 5ª Sinfonia de Beethoven. Especialmente no concernente à ideia da superação de um destino adverso, chegando ao triunfo.


Ela ganhou reconhecimento após a morte do compositor, no século XIX, mas se tornou uma peça esquecida, no século XX. Atualmente volta a ganhar amantes, atraídos pela interessante ligação que há entre os movimentos e pela beleza deslumbrante do terceiro movimento.


Schumann sempre foi e ainda é considerado um mal orquestrador. Mas temos que lembrar que a Orquestra de Leipzig era pequena, se comparada às de hoje. Os regentes atuais tentam antepor a escrita para sopros (às vezes um par de cada madeira) a 50 instrumentos de corda, e aí se queixam da falta de equilíbrio (os sopros não soam com clareza). O fato é que, se o maestro trouxesse um naipe de cordas menor, mais apropriado, o equilíbrio chegaria naturalmente. Dito isto, ainda assim, sua orquestração pode ser considerada um tanto sem cor. Falta de manejo orquestral, dobrar um instrumento com outro instrumento certo. Desde a época de Beethoven, era norma dobrar Flautas com Oboés e Clarinetes com Fagotes, além de milhões de outras minúcias. Era como se a música orquestral de Schumann fosse um esboço, cuja orquestração ele talharia mais tarde.


No caso da Sinfonia Nº 2, a orquestra que ele determina contém: 2 Flautas, 2 Oboés, 2 Clarinetes, 2 Fagotes, 2 Trompas, 2 Trompetes, 3 Trombones, Tímpanos, Violinos 1, Violinos 2, Violas, Violoncelos e Contrabaixos. Lembrando que qualquer compositor raramente especifica quantos de cada instrumento de corda ele quer.


Em seguida farei uma postagem sobre uma obra realmente bem orquestrada e vou me referir a essa como comparativo.


Não considero essa sinfonia (e nenhuma outra dele) mal orquestrada. Na verdade, acho que ele faz um belo estrago com a orquestra que pediu. É só uma orquestração tímida.


A obra dura cerca de 40 minutos e tem 4 movimentos. É uma sinfonia quase cíclica. Uma obra cíclica é aquela em que o material temático de um movimento invade os outros movimentos. No caso dessa sinfonia, os temas dos três primeiros movimentos vão se acumulando e são todos invocados no quarto movimento.


 

Abaixo, temos a NDR Elbphilharmonie Orchester (Orquestra do Elphilharmonie, uma sala de concertos lindísssima - link externo - e moderna em Hamburgo) sob a regência do maestro alemão Christoph von Dohnányi.



1º Movimento - Sostenuto Assai - Allegro, ma non Troppo


Introdução

Marcada Sostenuto Assai (muito sustentado), a introdução (que é longa e toma 1/3 do movimento) se inicia com o preguiçoso acordar dos Trompetes e das Trompas, com fanfarras ascendentes, em uma linha de notas longas, enquanto as cordas, em duplo piano, pp (baixinho), tocam uma linha um pouco mais ágil. Esta é uma das passagens traiçoeiras da orquestração de Schumann: em pianissimo, os trompetes e as trompas soam bem mais alto do que as cordas, de maneira que cabe ao regente equilibrar a intensidade dos dois naipes. Isso não chega a ser problema para as super orquestras e os super regentes da atualidade, mas, no começo do século XX, era uma barreira tão forte, que os regentes tinham que trabalhar à exaustão (o compositor tcheco-austríaco Gustav Mahler chegou a escrever uma edição reorquestrada por si, que ele considerava mais satisfatória - arredondando as arestas e polindo as texturas, vou recomendar uma gravação no final). A melodia amorfa dos metais continuará ao longo da música. Shumann aproveita para lançar algumas dissonâncias pontuais (35s) de muito efeito.


Flautas e Oboés irrompem (1m27s), enquanto a música vai ganhando corpo, desta vez com verdadeiro aspecto de música coral de J S Bach.


Aos 2m20s a música começa a ganhar mais substância, a partir das notas curtíssimas das madeiras, metais, Violinos 1, Contrabaixos, Violoncelos e Tímpanos. Agora, a partitura instrui aos músicos: Un poco più vivace (um pouco mais vivo). A orquestra vai, pouco a pouco, se tornando mais densa e assertiva. Perceba que as cordas, agora, fazem alusões às fanfarras dos metais (2m48s).


Uma sessão repleta de notas em staccato (a partir de 3m02s), seguida (3m34s) por uma em que os Violinos assumem. A passagem está marcada stringendo (acelerando gradualmente) e nos conduz à exposição.


Exposição (3m48s)

A exposição já começa lançando o saltitante Tema A (3m48s), nos Violinos 1 e 2, Fagotes e Clarinetes, logo agregando os Oboés. Repare nas frases de resposta das Flautas, Oboés e Fagotes (a partir de 4m07s), com material que já foi apresentado na introdução.


Aos 4m17s temos, nos Violinos 1 e 2, Violas e uma Flauta, o Tema B, que começa com uma subida cromática de 4 notas também derivada da introdução. Nesse ponto fica claro que a introdução é mais que uma introdução, antecipando muitas das ideias do primeiro movimento.


O Tema C aparece logo em seguida (4m42s), nos Violinos 1, Flautas e Oboés e tem caráter de tema de transição, passageiro, mas não o é. Aos 4m53s aparece novamente o Tema A, ao que se segue uma repetição da exposição.


A repetição termina aos 6m15s, abrindo espaço para o desenvolvimento.


Desenvolvimento (6m15s)

Aqui Schumann vai desenvolver, trabalhar, os três temas. De cara (6m15s), o Tema A é pincelado, pelos Clarinetes e Fagotes. Após uma breve e bela divagação (6m20s), com arpejos dos Primeiros Violinos e notas intrusas do Oboé e da Flauta, o Tema B aparece, em outra tonalidade, aos 6m32s, nos Violinos 1 e Flautas. Tudo em tons mais escuros, de caráter enigmático. A aparente ingenuidade que os temas apresentavam no início se revela um sentimento mais profundo, no desenvolvimento.


Perceba, aos 7m04s, que o Tema C vem com seu caráter completamente transformado, como é típico de Schumann. Sutilmente e muito mais lento do que o conhecemos, o Tema C (7m27s) pode ser percebido várias vezes nessa sessão, assim como sua inversão (as notas são ascendentes), que acaba por se transformar no Tema B. Aos 7m48s ouvimos uns fortepianos (o músico ataca a nota forte, mas logo diminui para piano) que lembram claramente a música de Beethoven. Aos 8m10s ele pode ser ouvido com mais clareza nos Violinos.


Aos 8m22s temos o Tema A alterado, nas madeiras. Aos 8m38s nós o temos em tom menor. Aos 8m46s vários temas e melodias menores do movimento começam a ressurgir. Um crescendo da orquestra (9m24s) finaliza o desenvolvimento e já se conecta à recapitulação.


Recapitulação (9m27s)

Recapitulação é o momento em que o compositor traz todos os temas sem grandes alterações. Começando em triunfo, ela traz primeiro o Tema A (9m27s), nas madeiras (flautas, oboés, clarinetes e fagotes), com respostas das cordas. O Tema B aparece aos 10m09s, nos Violinos 1 e 2 e Violas, com respostas das madeiras. Aos 10m34s surge o Tema C, nos Violinos 1 e Flautas.


Coda (10m52s)

O Coda é a finalização do movimento, podendo ser curto (especialmente no Barroco) ou comprido (especialmente no Romantismo). Esse é relativamente longo. Ele começa com uma descida das cordas (10m52s) que faz a música modular (mudar de tom). Logo os Clarinetes e Fagotes (10m54s) fazem uma melodia. Surge, então, nas Flautas e Oboés, uma referência ao Tema A (11m06s). A partir daí a música ganha a instrução Con Fuoco (com fogo), tornando-se mais agitada.


Ouvimos, aos 11m34s, nos Trompetes, o pequeno motivo da introdução. A partir dos 11m45s somos conduzidos ao final da música, que termina alegre e ruidosa, sendo a utilização dos metais mais presente aqui.



2º Movimento - Scherzo: Allegro Vivace (12m55s)


O Scherzo é um movimento Romântico que substituiu o Clássico Minueto. Tal como o Minueto, ele tem partes A-B-A (nesse caso A-B-A-C-A). A Parte B é chamada de Trio, e o de Schumann tem dois desses trios. A diferênça do Scherzo para o Minueto é que ele é bem mais dinâmico e rápido que o outro. Os dois costumam ter compasso de 3 tempos (3/4), mas este aqui apresenta um compasso de 2 tempos (2/4).


Scherzo

Os Violinos 1 já aparecem apresentando o Tema Principal do Scherzo, baseado no Tema B do primeiro movimento (4m17s). Lembra que esse Tema B tem uma subida cromática? Agora, essa subida é transformada e apressada. O Tema logo é repetido (13m07s), com respostas das madeiras.


Como esse movimento não tem desenvolvimento, Schumann trata de variar a melodia (13m24s).


Trio 1

Observe que, agora, a música adquire outra personalidade, mais sossegada e burlesca. O Tema do primeiro trio surge (14m32s) nas Flautas, Oboés, Clarinetes e Fagotes, em quiálteras e staccato, com respostas das cordas. Aos 14m42s os Violinos 1 e 2 e as Violas tocam uma frase lírica e, aos 14m54s, as madeiras retomam seu Tema. A frase lírica volta, aos 15m05s, nos Violinos 1. Aos 15m15s as quiálteras do Scherzo começam a voltar, nos Violinos 1.


Aos 15m24s o Tema ressurge nas madeiras e aos 15m59s os Violinos 1 o reproduzem, mas de maneira lânguida, com ritenuto (desacelerando) e um pouco modificado. Aos 16m05s ocorre o contrário: a música começa a acelerar. O Tema do Scherzo (16m10s) pode ser ouvido nas cordas antes que acabe o Trio, em crescendo.


Scherzo

Aos 16m11s voltamos a ouvir o Scherzo, com o Tema tocado pelos Violinos 1. Ele é tocado à guisa de variação da primeira vez.


Trio 2

Iniciando aos 17m07s e bem mais lírico do que o Trio 1, este aqui se trata de uma homenagem a Johann Sebastian Bach, sendo escrito em forma Coral (as aulas de Contraponto tiveram serventia). Ele usa um tema conhecido commo BACH (assim chamado por conter as notas si bemol, , e si natural, que, na nomeclatura alemã, são chamadas de B, A, C, H). Você pode escutá-lo discretíssimo nos Violinos 1, aos 17m14s.


Esta sessão é absurdamente linda e bem escrita. A homenagem a Bach é perceptível, o trecho é um Coral (escrita Coral é aquela em que vários instrumentos tocam, simultaneamente, notas diferentes, mas obedecendo mais ou menos o mesmo ritmo e a mesma harmonia do instrumento que faz a primeira voz, ou primeira linha melódica).


Durante uma intervenção dos Oboés (18m06s), os Violinos 1 começam a ameaçar o Tema do Scherzo. A célula de semicolcheias ascendentes vai cada vez mais tomando conta até explodir no Scherzo.


Scherzo

Aos 18m23s o Scherzo volta para sua derradeira apresentação, novamente nos Violinos 1. Trata-se de uma variação ainda mais viva que as outras. Aos 19m20s começa o Coda, todo baseado no Tema do Scherzo (ainda que conte com uma aparição do motivo da fanfarra de metais da introdução do primeiro movimento, aos 19m38s), e que termina a peça de maneira assertiva.



3º Movimento - Adagio Espressivo (20m12s)


Parte A

O movimento lento da sinfonia é a coisa mais linda em que eu posso pensar. É o único da obra que não é em Dó Maior, sendo em um apropriado Dó Menor. Ele é em forma ternária (A-B-A), embora alguns estudiosos o enxerguem em forma sonata e eu mesmo prefira pensar nele como em forma ternária. Começa com os Violinos 1 e 2 já tocando o Tema Principal, marcado cantabile, (20m12s), que se baseia nas suas 4 primeiras notas, mas segue por quase 8 compassos. Ele será repetido incontáveis vezes, mas nunca cansa. Schumann aplica uma técnica de variação singular: o Tema permanece intacto, enquanto seu acompanhamento é que vai se transformando. O Primeiro Oboé assume, adicionando seu belo e melancólico timbre, com a mesma melodia (20m46s), sendo que, aqui, a variação é o belo contracanto do Primeiro Fagote.


Aos 21m39s as Trompas intervêm com um motivo simples, respondido pelas madeiras. No final da sua parte as duas Trompas fazem belos arpejos (21m50s). Aos 22m11s as cordas respondem, começando pelos Contrabaixos e Violoncelos, mas logo seguidos pelo restante do naipe. Os Violinos 1 e 2, especialmente, tocam várias vezes o motivo do arpejo das Trompas, oferecendo coesão temática ao movimento.


A Tema A logo retorna, sendo declamado pelo Primeiro Clarinete (23m), entrecortado pela Primeira Flauta e o Primeiro Fagote e utilisando também o Primeiro Oboé. A ideia de usar, frequentemente, apenas um instrumento de cada madeira (ele tem dois de cada) confere uma atmosfera mais desolada, sendo a sonoridade individual dos instrumentos muito bonita. Nos movimentos rápidos, convém usar o par, pois a orquestração costuma ser mais pesada e, só assim, eles são escutados com clareza. Neste trecho o Tema tem várias alterações tonais (modulações).


A partir dos 23m36s os Violinos 1 tocam o motivo do arpejo das Trompas, antes de desembocar no Tema (23m56s) em registro agudo, com os Violinos 2 apoiando uma oitava abaixo. Termina com trinados (duas notas repetidas alternadamente com rapidez), enquanto o Primeiro Clarinete e o Primeiro Oboé repetem o Tema.


Parte B

A Parte B é um fugato, que é como a gente chama um trecho curto e sem o rigor de uma Fuga, mas que tem elementos de uma. Inicia-se no Violino 1, em staccato, em uma frase relativamente comprida (25m01s), derivada dos arpejo ascendente das Trompas. Aos 25m10s os Violinos 2 começam o mesmo Tema, mas as notas estão um grau acima. Aos 25m25s as Violas retornam, executando a frase no mesmo tom dos Violinos 1, e aos 25m42s entram os Violoncelos, no mesmo tom dos Violinos 2. O fugatto continua, mas se transforma em acompanhamento para o Tema A, atacado pela Primeira Flauta, Primeiro Oboé e Primeiro Clarinete.


Parte A

Assim que o Tema A entrou, retornamos à Parte A, ainda que ecos do fugatto continuem a ser ouvidos nas cordas (25m50s). O Tema A aparece, mais uma vez, variado - lembrem-se, no acompanhamento, que é derivado do fugato, e na estrutura tonal. Aos 26m25s a música modula para Dó Maior, a tonalidade geral da sinfonia. Esta passagem tem caráter de Coda e se baseia na parte final do Tema A, mas o Coda em si começa um pouco mais tarde. Aos 27m12s o Tema A soa novamente, no Primeiro Clarinete, alternando com Primeiro Oboé, Primeiro Fagote e Primeira Flauta.


Aos 27m46s os Violinos 1 fazem o motivo do arpejo das Trompas. Aos 28m08s os Violinos 1 e 2, oitavados, executam o Tema A e as madeiras agudas respondem.


O delicado Coda começa aos 29m12s, fechando a música de maneira sutil e com as derradeiras aparições do saudoso Tema A, com um acompanhamento e toda sua configuração modificados, mas sem jamais perder seu apelo emocional. A última vez em que ele aparece é nos Violoncelos e Contrabaixos, aos 29m25s. O movimento termina em Dó Maior.


Schumann posicionou o movimento lento da sinfonia, de maneira estratégica, de forma a o atepor ao alegre e festivo finale, o quarto movimento. O contraste é gritante.


4º Movimento - Allegro Molto Vivace (30m34s)


O Finale é o movimento mais criticado. Barulhento, um tanto artificial, de estrutura confusa, sua forma sonata não é bem explicada... É rapidíssimo, com a Mínima valendo 170 BPM. Sua alegria e seu bom humor podem ser explicados por uma melhora de Schumann, que disse que, desde que começara a escrever a sinfonia, nunca tinha se sentido tão bem.


Vou escrever em tópicos, que é como fica mais ágil e interessante.


  • Começa com uma rápida escala de Clarinetes, Fagotes e cordas (30m34s) (essa escala é remanescente da que começa o seu Concerto para Piano) e um teminha que, a princípio, pertence às madeiras;

  • É o Tema A. Ele lembra o Tema principal da Sinfonia Nº 4 "Italiana", de Felix Mendelssohn, nas Flautas e Oboés, aos 30m37s, repetido, aos 30m40s pela orquestra em tutti;

  • Aos 31m12s, uma rápida e virtuosística passagem dos Violinos 1, auxiliados pelas Flautas e demais madeiras;

  • Temas de todos os três movimentos anteriores reaparecem aqui.


 

Considerações finais


A peça foi estreada em novembro de 1846, por Felix Mendelssohn, regendo a Orquestra do Gewandhaus de Leipzig. Mas foi escrita em Dresden, para onde a família Schumann havia se mudado em 1844 atrás de bons ares. Ainda assim, o período de composição foi marcado pela dilatação dos problemas de Robert, sobretudo a depressão, a agonia e a quase certeza de que estava enlouquecendo.


Mas a Sinfonia não transparece isso nem um pouco. O que temos é uma doce melancolia ecoando no belíssimo terceiro movimento. Esse movimento se baseia principalmente em um motivo de quatro notas, que aparece o tempo todo. Às vezes eu considero este movimento a música mais bonita já escrita.


É uma obra quase cíclica (aquela em que os temas de um movimento vão aparecendo nos outros). Na verdade é assim: ela vai acumulando temas dos três primeiros movimentos e os traz de volta no quarto. Fazendo isso, o compositor ganha credibilidade e autoridade, já que ele precisa encontrar temas que se encaixam tanto nos movimentos a que pertencem quanto nos movimentos que os repetirão. Eu, particularmente, acho que a forma cíclica é muito mais valorizada do que deveria, sendo mais simples de fazer do que se costuma pensar.


É comum atribuir ao terceiro movimento grande influência sobre o Adagietto da 5ª Sinfonia de Gustav Mahler (de 1902) e sobre o Largo da 5ª Sinfonia de Dmitri Shostakovich (de 1937). Eles têm uma espécie de parentesco metafísico.


 

Gravações recomendadas


- Christian Thielemann, regendo a Orquestra Philharmonia - Esta surpreendente gravação de Thielemann é obviamente favorecida pela execução excepcional da Philharmonia, além de sua maravilhosa sonoridade. O maestro também vai muito bem, extraindo da orquestra energia, onde cabe, robustez ou delicadeza. O disco contém, também, a Abertura Manfred e o Konzertstück para 4 Trompas e Orquestra. Acho superior à (também excelente) gravação mais recente (2019) de Thielemann com a Staatskapelle de Dresden. É de 1997.


- Leonard Bernstein, com a Filarmônica de Nova Iorque - Muito superior à indulgente gravação de Bernstein com a Filarmônica de Viena, mais de 20 anos posterior, esta gravação, de 1962, é cheia de méritos. Sua contagiante energia nos movimentos 1, 2 e 4, além da impressionante expressividade do terceiro movimento, a tornam inesquecível. O som gravado também é ótimo, especialmente na remasterização desse CD (confira a capa abaixo), que também traz a Sinfonia Nº 1 "Primavera".


- Riccardo Chailly, regendo a Orquestra do Gewandhaus de Leipzig - Conforme prometido, aqui está uma gravação da Sinfonia Nº 2 de Schumann reorquestrada pelo compositor Romântico Tardio e tambem regente Gustav Mahler, feitas no começo do século XX. Muitos preferem essa versão, mas existem poucas gravações, prevalecendo amplamente as gravações com a orquestração original. Normalmente eu não recomendaria as reorquestrações, que tendem tornar as peças extravagantes, mas, especificamente na Segunda Sinfonia, as mudanças são pequenas, limitando-se a amenizar os problemas de textura e equilíbrio instrumental e, ao mesmo tempo, tornar a obra mais grandiosa. E graças a um trabalho muito delicado de Chailly e da orquestra (a mesma com que Mendelssohn estreou a peça), que executam tudo com convicção, ardor e uma concepção perfeita, o trabalho é muito bem-sucedido. A gravação é de 2007 e foi lançado em 2009 um disco duplo contendo as 4 Sinfonias.


- Thomas Dausgaard, com a Orquestra de Câmera Sueca - Uma gravação seca e de sonoridade grave, o que não é ruim. A sinfonia se beneficia muito com uma orquestra de câmera, que tem o mesmo número de instrumentos de sopro (os que o compositor pediu) e uma quantidade substancialmente reduzida de cordas. O resultado é que a gravação sai bem mais leve, os rítmos são tocados com absoluta precisão. O talento do regente dinamarquês Dausgaard de controlar as dinâmicas e os andamentos é sobrenatural. É de 2005, mas a compilação com as 4 Sinfonias e uma porção de Aberturas foi lançada em 2019.



 

E, como sempre, o/a encorajamos a comentar. Para comentar, continue rolando abaixo e encontre a faixa vermelha, abaixo de "Posts Relacionados". Nosso dever é difundir a música clássica, e não sabemos exatamente se estamos conseguindo. Às vezes parecemos rádio-amadores, transmitindo para as galáxias solitárias (possivelmente solitárias). Seu comentário faria muita diferença. Pode ser de pirraça, de elogio, de desabafo, de conversa. O que for. Agradecemos.


Algumas postagens importantes

Uma opção para o dilema de tocar ou não Música Russa nos concertos hoje em dia.

Aqui, 10 Livros Sobre Música Clássica


Compreensão Musical


As Maiores Orquestras do Mundo


Perfil da pianista portuguesa Maria João Pires, postagem da nossa correspondente prodígio lusitana Mariana Rosas, do Blog Pianíssimo (www.pianissimo.ovar.info).


Perfil da violinista francesa Ginette Neveu, falecida aos 30 anos em um acidente de avião, em 1949.


Perfil do pianista brasileiro Nelson Freire, considerado um dos maiores dos tempos modernos e falecido em 2021.


Veja também:


Músicas Fofinhas


As Famosas Listas


Música Popular Brasileira


Análises de obras

Rachmaninoff - Sinfonia Nº 2


Compreendendo o Maestro

Parte 1 - História

Parte 2 - Pra Que Serve?

Parte 3 - Curiosidades


Argonautas

Saiba, aqui, tudo sobre os Argonautas, um quarteto de MPB Clássica e Contemporânea Autoral Cearense.


Papo de Arara (Entrevistas)



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