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  • Foto do escritorRafael Torres

Schumann - Estudos Sinfônicos - Análise

Atualizado: 19 de jun. de 2022

Mistura de Tema com Variações, Estudos e movimento de Sonata, esta peça, os Études Symphoniques, ou Estudos Sinfônicos são o Op. 13 de Robert Schumann, compostos entre 1834 e 1837. De fato, a obra começou como um Tema com Variações e passou por várias evoluções.

Robert Schumann
Robert Schumann.

Por Estudos Sinfônicos, entende-se que não são estudos como os de Chopin, que podem ser tocados separadamente (uma música tem pouco a ver com a anterior). Nos de Schumann, cada movimento é consequência do anterior. Entende-se também que são para orquestra, mas aí é que está: não são. São para piano. A palavra sinfônicos, então, nos dá a entender que a obra vai tratar de formar um organismo só, ter uma narrativa coesa.


Abaixo, o magistral Sviatoslav Richter nos dá uma belíssima interpretação.

Na primeira edição, vinha escrito "É obra de um amador". Schumann fazendo charminho. Porque ele já era um dos maiores gênios do seu período, o romantismo. Mas ele se referia ao tema original da obra, do Barão von Fricken (que estava para ser seu sogro, mas não foi), no qual a peça se baseia para fazer as 9 variações. Acontece que Schumann compôs 16 variações, mas só achou que ficava muito difícil: publicou estas 9. Anos depois de sua morte, seu amigo e dicípulo Johannes Brahms selecionou mais 5 das restantes (que chamou de Variações Póstumas) e a obra ficou como é conhecida agora.


Quando você estiver escutando Schumann, lembre-se sempre dos seus dois personagens-pseudônimos: Eusebius e Florestan . Um é o provocador de mudanças, o ativador da multidão e o outro é o sonhador romântico. Há estudiosos que dizem que isso reflete uma bi-polaridade do compositor. O fato é que ele quase sempre escreve as obras de modo que alterne as duas personalidades, e isso vocês vão notar facinho aqui também.


A Obra


Tema - Andante (5s)

É um tema trágico, romântico e bonito. Ele tem um caráter especial que o torna perfeito para variações.


Estudo I (Variação 1) - Un poco più vivo (1m36s)

Um pouco mais vivo, começando a aquecer as mãos para as partes mais difíceis que virão. É um estudo de acordes.


Estudo II (Variação 2) - Andante (2m41s)

Estudo de notas repetidas, repare na inscrição "Marcato il Tema sempre con Pedale", na partitura. Aos 4m11s repare a facilidade com que Richter toca a mão esquerda, que nem parece que está oitavada.


Estudo III - Vivace (5m18s)

Um estudo rápido de arpejos em staccato na mão direita, enquanto o que caracteriza o tema está na esquerda. Depois de uma parte legato, com pedal, retornamos para o staccato.


Estudo IV (Variação 3) - Allegro marcato (6m28s)

Bem mais uma variação do que um estudo, trata de acordes curtos tocados nas duas mãos, sempre lembrando o tema. A escrita é extremamente criativa, com o uso das apojaturas.


Estudo V (Variação 4) - Scherzando (7m29s)

Esse é difícil, porque alterna oitavas e sextas, nas duas mãos. Scherzando significa brincando.


Variação póstuma I - Andante, Tempo del tema (8m34s)

A primeira variação adicional tem um ostinato em legato na mão direita (que depois se complica e até passa para a esquerda), enquanto a melodia se desenvolve na esquerda. É um dos mais bonitos.


Variação póstuma II - Meno Mosso (10m11s)

A mim, parece mais um estudo de expressividade. Extremamene Schumanniano e romântico.


Variação póstuma III - Allegro (12m19s)

Outro estudo de expressão, parece levar adiante a ideia do anterior.


Variação póstuma IV - Allegretto (13m50s)

Esse também é mais uma variação do que estudo. É belíssimo. Você percebe que o tema está sempre por aí?


Variação póstuma V - Moderato (16m33s)

Mais uma variação lenta, essa é difícil de acertar. Aqui, o que conta não é a velocidade e habillidade do pianista, mas sua musicalidade. Sua capacidade de fazer essa passagem com inspiração, leveza e caráter.


Estudo VI (Variação 5) - Agitato (19m12s)

Voltando aos estudos canônicos, esse, agitado, é daqueles Chopinianos, cheios de truques de mão.


Estudo VII (Variação 6) - Allegro molto (20m06s)

Um estudo divertido e criativo. Parece mais difícil do que é.


Estudo VIII (Variação 7) - Sempre marcatissimo (21m16s)

Essa peça é uma jóia. Ele varia de uma maneira completamente marcante, inédita. Além de dramática.


Estudo IX - Presto possibile (23m44s)

Presto possibile é o mais rápido possível. É extremamente complicado e igualmente criativo. É uma sucessão ligeira de acordes.


Estudo X (Variação 8) - Allegro con energia (24m33s)

Também é uma variação mais que um estudo, embora seja relativamente difícil.


Estudo XI (Variação 9) - Andante espressivo (25m43s)

Extremamente expressiva, essa variação já nos dá o tema em outra circunstância, realmente desenvolvendo-o.


Estudo XII (Finale) - Allegro brillante (28m04s)

O finale é o trecho mais longo da obra. Ele acaba em Réb maior, que é o mesmo que Dó# maior. Lembrando que o resto da peça quase todo é em Dó# menor. Típico de Schumann, este movimento é realmente brilhante e termina a peça recapitulando várias das dificuldades que tivemos no decorrer da obra.


Considerações finais

Enquanto Chopin e Liszt fizeram estudos com a finalidade única de explorar e extrapolar as possibilidades técnicas do piano, Schumann estava interessado na capacidade que esse instrumento tem de ser praticamente uma orquestra, com suas possibilidades de mudança de cor e de textura.


No final, os Estudos Sinfônicos acabam sendo tão difíceis ou mais que os Estudos de Chopin, pois o pianista precisa usar toda a sua musicalidade e estratégia para atingir esses desígnios sinfônicos.


Gravações recomendadas

- Mikhail Pletnev - É considerada a referência. Pletnev é um dos maiores pianistas da atualidade.


- Shura Cherkassky - Uma espécie de "poeta do piano" (argh, coisa cafona) Cherkassky toca tudo sem uma técnica avassaladora, mas é um colorista nato e sua expressividade está sempre apropriada.


- György Cziffra - Outra leitura bem poética e linda por um gênio húngaro. Cziffra podia ser confuso, tentando demonstrar sua técnica invejável mais do que o necessário, mas às vezes acertava em cheio.


- Éric Le Sage - Bem vivo e juvenil, essa interpretação é cativante.


- Andrei Gavrilov - O contrário da anterior, essa versão é explosiva e extremamente técnica.


- Nelson Freire - A versão ideal, entre o técnico e o poético. Embora seja ao vivo e o piano esteja um tanto desafinado. Mas Nelson dá um show de precisão e de musicalidade.




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