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  • Foto do escritorRafael Torres

10 Sonatas que você tem que conhecer

Atualizado: 9 de nov. de 2020

Por que 10? Pra depois eu ficar me queixando que não deu pra colocar todas que eu queria aqui.


A forma sonata foi o molde que deu origem à sonata, à sinfonia e ao concerto. Não confundir forma sonata, que é um formato, com a sonata, que é uma categoria de composição. A sinfonia é uma obra para orquestra, enquanto a sonata é para piano (ocasionalmente piano e violino, piano e violoncelo, piano e flauta...).


Ambas têm 3 ou 4 movimentos, sendo o primeiro o que eu considero o mais importante, que é a declaração de propósito da obra; o segundo é um minueto-scherzo (geralmente pra descontrair); o terceiro é o movimento lento, geralmente focado mais na beleza que os outros; e o último, chamado finale, é aquele em que o compositor tenta fazer um resumo e, literalmente, dar um fim à obra. Por algum motivo, quase sempre o finale é o movimento de que menos gosto. Os compositores sempre tentam mostrar que o triunfo e a alegria vêm depois da tempestade e o resultado é um movimento agitado, barulhento, espalhafatoso e, por vezes, incômodo (ao menos pra mim, mas quem sou eu, né?).


Então vamos à lista, em ordem mais ou menos cronológica, de sonatas exclusivamente para piano solo que eu escolhi para vocês.


J. Haydn - Sonata Nº 62 em Mi bemol, Hob. XVI-52


Os compositores nomeiam suas sonatas mais ou menos como a Sony nomeia seus fones de ouvido (Wh 1000Xm4???). Algumas têm apelidos, mas no geral a gente chama de: a 20 de Beethoven, a 10 de Mozart etc.


Essa, a 62 de Joseph Haydn, composta em 1794, é uma das peças de que eu mais gosto do austríaco. Super ligeirinha, ela é leve sem ser vã. Não é a coisa mais profunda do mundo, porque a música ainda estava decidindo que seria profunda (do final da vida de Mozart pro começo da carreira de Beethoven).


É um ótimo veículo para os pianistas mostrarem seu toque clássico, geralmente mais delicado e sem sentimentalismos que o romântico.


Gravação sugerida: Alexis Weissenberg (é uma versão mais dura do que a de Brendel, por exemplo, mas de nitidez e precisão impressionantes).



W. A. Mozart - Sonata Nº 12 em Fá, K. 332


Tive dificuldade em selecionar uma das 18, e acabei optando pela 12ª sonata de Wolfgang Amadeus Mozart. Porque é linda, criativa e, embora despretensiosa, cativante. Coloquei depois de Haydn porque este era bem mais velho que Mozart, mas essa sonata é de 1783, enquanto que a outra, de 1794.


Até hoje é uma das sonatas mais adoradas pelo público. O senso comum (e o incomum) dizem que, em termos de sonata, Mozart não chegou aonde Beethoven chegou. Mas o fato é que ninguém chegou aonde Beethoven chegou. Isso não é demérito para o Wolfgang. Como eu já disse, ele próprio seria um dos responsáveis, anos mais tarde, por começar a inserir a noção de profundidade à música.


Gravação sugerida: Alfred Brendel ou Nelson Freire



L. van Beethoven - Sonata Nº 3 em Dó, Op. 2 - Nº 3

É a primeira sonata de Ludwig van Beethoven a me impressionar. Ele já mostra, embora ainda esteja na sua fase clássica, toda a sua veia românitca. Ela é simplesmente poderosa.


Quando foi escrita, em 1795, a 3ª Sonata foi considerada a peça mais difícil para piano (ou qualquer instrumento de teclado) já composta. O segundo movimento é de uma dimensão que eu acho que nenhuma obra musical tinha atingido antes. Prenunciando a "Sonata ao Luar", que é a 14ª, você tem uma mão direita repetitiva, tocando a harmonia em arpejos enquanto que a esquerda assertivamente muda, uma nota por vez, o contexto harmônico, forçando a outra a se adaptar. É pungente. Parece que você está assombrado e, ao mesmo tempo, encantado.

Gravação sugerida: Alfred Brendel ou Wilhelm Kempff



L. van Beethoven - Sonata Nº 8 em Dó menor, Op. 13

"Patética"


Se tem uma coisa idiota que eu não vou fazer é listar só uma sonata de Beethoven. Alguém disse que, se "O Cravo Bem-Temperado" de Bach é o Velho Testamento do piano, as 32 sonatas de Beethoven são o Novo.


A "Patética" inaugura o romantismo. Agora, a música se distanciava de objetivos angelicais e ficava mais humana. Falava sobre tormentas, dúvidas, certezas. Essa sonata, a oitava, é, depois de "Ao Luar", provavelmente a mais famosa de Beethoven.


Quando a gente vai navegar por 32 sonatas, é fácil ficar perdido. Então a gente tem algumas "âncoras". No caso de Beethoven, tem as sonatas "com nome". "Waldstein", "Tempestade", "Appassionata"... Tem outras coisas que facilitam essa navegação, por exemplo: as três primeiras são um grupo; a sétima e a oitava quebraram paradigmas e iniciam o romantismo; a 19 e a 20 são café com leite (anacrônicas, foram compostas antes das outras, mas só publicadas depois da 18); e aí quebra-se tudo de novo lá pela 27, quando começa o fim da vida do compositor. Isso tudo ajuda a gente a se situar num acervo com 32 obras.


Musicalmente a "Patética" é só novidade. O primeiro movimento é impactante; o segundo, belíssimo e delicado; e o terceiro, arrebatador. Ludwig não estava tentando impressionar (a peça nem é tão difícil assim), mas estava impressionando. Até pros padrões dele, já na época considerado o maior compositor vivo.


Gravação sugerida: Stephen Kovacevich



L. van Beethoven - Sonata Nº 29 em Si bemol, Op. 106 "Hammerklavier"


Em 1818, já completamente surdo e incapaz de tocar piano, Beethoven empreende a proposta de fazer uma sonata que "daqui a 50 anos ainda estarão trabalhando nela". Já se vão 200 anos e ela é cada vez mais estudada e tocada.


De fato, passaram-se 18 anos até que um virtuose, o jovem Franz Liszt, fizesse a estréia, 9 anos depois da morte do compositor. Liszt chegou a escrever uma carta dizendo algo como "consegui achar um jeito de tocar a Hammerklavier".


É uma obra que não é só difícil de colocar os dedos. Tem que ter a abordagem certa. Sentimentalmente ela é quase surreal. Na verdade, diz-se que Beethoven inaugurou o romantismo e, em muitas formas, o pós-modernismo (que de verdade só começaria muitos anos depois de sua morte). Porque os seus contemporâneos tinham dificuldade em saber o que ele queria dizer nas suas obras maduras. Era como se ele falasse outra língua.


Gravação sugerida: Maurizio Pollini



F. Chopin - Sonata Nº 3 em Si menor, Op. 58


Mais um fenômeno que só parece ter composto pérolas e morreu muito jovem (estou comparando a Mozart), o polonês Frédéric Chopin foi um virtuose a quem só Liszt se comparava. A escrita para piano evoluiu muito com os dois. É quase impossível imitar. Mas além da escrita idiomaticamente perfeita para o instrumento, a pura musicalidade e originalidade de suas peças era notável.


É possível que você conheça uma boa dúzia de melodias dele. Uma delas, posso apostar, pertence à 2ª Sonata: trata-se da "Marcha Fúnebre".


Mas a terceira e última sonata, esta de que falo aqui, é a mais bem acabada, na minha opinião. Apaixonante, ela parece nunca se esgotar. Justamente porque não tem um caráter único. Você a cada audição parece enxergar algo novo. É uma das obras para piano mais sofisticadas.


Gravação sugerida: Nelson Freire ou Martha Argerich



F. Liszt - Sonata em Si menor


Conta-se que Franz Liszt foi, criança, a um concerto do violinista virtuose Nicolò Paganini. Dizia-se que Paganini tinha um pacto com o diabo, tão bem que tocava. Liszt ficou tão impressionado que disse "eu vou fazer o mesmo pelo piano". E fez. Até hoje, mesmo não existindo gravações dele tocando, muitos juram que ele foi o maior pianista de todos os tempos.


Outra anedota que se conta, aliás, o próprio Liszt é quem conta, é que, ainda jovem, ele foi conhecer Beethoven. O mestre pediu para que ele tocasse algum Prelúdio e Fuga do "Cravo Bem-Temperado" de Bach. Ouviu atento e, ao fim, perguntou se o menino poderia tocar aquela peça em outra tonalidade. Liszt o fez, arrancando elogios e premonições de Beethoven. Sério, tocar um Prelúdio e Fuga (ou qualquer peça, na verdade) em outra tonalidade, ainda de lambuja, você não imagina o quanto é impressionante.


Liszt escreveu muita coisa. Parecia não ter fim, sua criatividade. Quando não estava a fim de criar algo novo, pegava uma obra de Schubert ou Wagner e transpunha, por exemplo, de orquestra para piano.


Essa dificílima sonata é bem mais conhecida que sua outra, chamada Dante Sonata. E bem mais original. Ela não tem movimentos separados, sendo, portanto, um único fluxo de discurso musical. Foi dedicada a Robert Schumann, pouco antes da morte deste. Clara, esposa de Schumann, uma pianista altamente respeitada, nunca tocou. Considerava-a um "barulho cego". Ah, Clara...


Gravação sugerida: Claudio Arrau ou Martha Argerich



S. Rachmaninoff - Sonata Nº 2, Op. 36


Sergei Rachmaninoff nos deixou gravações. Eu tenho uma caixa com todas elas, são 10 CDs. Mas ele não gravou essa sonata, de 1913, que foi tomada pelo pianista ucraniano Vladimir Horowitz. Ele fez uma versão autorizada pelo autor com algumas alterações.


É a versão de Horowitz que costuma ser mais executada. A sonata, em 3 movimentos, começa com uma escala descendente extremamente veloz. A gente não sabe ainda, mas aquela escala é o tema principal, porque o compositor vai dilatar, domar e acalmar até ela virar uma melodia coerente.


O segundo movimento é de beleza ímpar, e o terceiro, dificílimo.


Gravação sugerida: Vladimir Horowitz



A. Scriabin - Sonata Nº 9 "Missa Negra", Op. 68


Alexander Scriabin foi um compositor russo bastante peculiar. Fazia música atonal (quando a maioria ainda escrevia música tonal), mas sem ser maçante. Tínha um acorde próprio, o "Acorde Místico". Sobre esse acorde escrevia suas elocubrações. Ele mesmo era um tanto místico.


Era um pianista fenomenal, pelo que consta. Rachmaninoff chegou a dizer que estudava horas por dia para soar como Scriabin, que tinha uma sonoridade notavelmente colorida.

O conjunto de sonatas de Scriabin é um dos mais importantes da história da música. Esta é, possivelmente, a mais tocada. De 1913, é a minha favorita dele.


Não é música pra você pegar a partitura e analisar, pelo menos não a princípio. Basta escutar com calma e se deixar levar pelas sensações.

Gravação sugerida: Vladimir Ashkenazy ou Roberto Szidon



S. Prokofiev - Sonata Nº 7 em Si bemol, Op. 83


Sergei Prokofiev escreveu 9 sonatas. Esta sétima, de 1942 e a seguinte são as mais conhecidas. Altamente dissonante, um bocado difícil de ouvir e mais ainda de tocar, representa um desafio para qualquer pianista. Prokofiev era um pianista excelente, numa época em que o compositor já estava tão especializado que dificilmente conseguia se dedicar a outra coisa que não escrever.


Já ouvi uma gravação dele tocando Rachmaninoff, que deve ter por aí.


Gravação sugerida: Maurizio Pollini ou Sviatoslav Richter (que estreou a peça)

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