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Foto do escritorRafael Torres

Chopin - Os Estudos (Études) - Análise

Atualizado: 2 de fev. de 2021

Frédéric Chopin (1810-1849), pianista e compositor polonês do romantismo, gostava de escrever coisas em série - 1 livro de 24 Prelúdios, 4 Baladas, 4 Scherzi, muitas Valsas, Polinaises e Mazurkas. E ele nos deixou 2 livros de 12 Estudos cada. Na sua época era comum que professores de piano compusessem séries de estudos, na verdade, já era tradição. Eram peças sem graça, destinadas a exercitar cada parte da técnica do piano.


Frédéric Chopin e seu suntuoso nariz.
Daguerreótipo de Frédéric Chopin e seu suntuoso nariz.

O que Chopin fez foi colocar música nesse conceito. Seus Estudos são, acima de tudo, interessantes ao ouvinte. Aliás, não sei se acima de tudo, poruqe eles são bem difíceis, também. Funcionam como estudos, sim. Abordam quase tudo da mecânica de tocar piano. Mas são também, acho até que principalmente, peças de concerto.


O Livro 1, Op. 10


O 1º Caderno é de 1833. Tem alguns dos Études mais famosos, que são o 3º, às vezes chamado de "Tristesse", e o 12º, chamado "Revolucionário". Mas todos são famosos. Esmiucemos.


1. Em Dó Maior- O primeiro é bombástico, embora dê a impressão de que o conjunto vai ser musicalmente besta. É que ele nada mais é que uma série de arpejos para a mão direita, com a esquerda fazendo uns baixos rudimentares. Mas lembrem-se, esses estudos são pro pianista se exibir. Veja abaixo.


2. Em Lá Menor - O segundo é uma peça dificílima. Ouvindo, parece fácil. Mas o cromatismo na mão direita é feito com só três dedos, porque ele ocupa (propositalmente) os outros dois com acordes em staccato. Em vários momentos você tem que passar um dedo por cima do outro.


3. Em Mi Maior - Esse é o mais lírico de todos. Chopin dizia que esta melodia era a mais bonita que compusera. O compositor nunca o chamou de Tristesse, mas o nome pegou. É um estudo de cantabile, que é adicionar um caráter de voz cantada, cheia de variações de dinâmica e tempo, ao piano. A parte central é completamente diferente, parecendo mais com uma peça de exibição. Mas logo volta a bela melodia.


4. Em Dó Sustenido Menor - É um estudo de velocidade, o que a gente chama de 5 dedos (sem truques, sem oitavas, terças, só agilidade, mesmo). O legal é que a mão esquerda tem tanta importância quanto a direita, muitas vezes a espelhando.


5. Sol Bemol Maior - É o Estudo das Teclas Pretas, porque as usa todas. Trabalha um padrão de dedilhado na mão direita, tocado muito rápido. É um dos mais famosos.


6. Mi Bemol Menor - Mais um lírico, ainda que triste. Trabalha a expressividade, bem como a extração de melodias escondidas.


7. Em Dó Maior - Um estudo um bocado difícil, a mão direita fica alternando entre terças e sextas de uma forma muito contraintuitiva.


8. Em Fá Maior - Adoro esse. É bem leve e iluminado, trabalhando arpejos na mão direita, conectando com a esquerda.


9. Em Fá Menor - Esse estudo é mais para a mão esquerda, trabalhando sua flexibilidade. Já foi usado até em uma esquete do Monty Python.


10. Lá Bemol Maior - Ele é um estudo geralzão. Trabalha expressividade (o compositor pede que a mesma figura seja tocada de todas as maneiras possíveis), pedal e polifonia (a capacidade de tocar mais de uma melodia simultaneamente).


O símbolo do arpejo são essas ondinhas.

11. Em Mi Bemol Maior - Esse é para o arpejo propriamente dito. O compositor escreve um acorde chapado e, ao lado dele, o símbolo do arpejo. Então toca-se aquele acorde de baixo pra cima, bem rápido - como se você estivesse tamborilando os dedos na mesa.


12. Em Dó Menor - O famoso "Revolucionário". Não foi Chopin que deu esse apelido. Aliás, nenhum deles foi dado pelo compositor, vindo, às vezes, até de detratores. Esse trabalha a mão esquerda, que faz arpejos e corridas pelo teclado. É um dos mais famosos, e não dá pra deixar de notar por que ele é chamado desse nome.

 

O Livro 2, Op. 25


O 2º caderno foi publicado em 1837. Se o primeiro foi dedicado ao compositor e pianista húngaro Franz Liszt, este é para a sua amante, Marie D'agoult. Não vou entrar em detalhes porque não sou fofoqueiro.


1. Em Lá Bemol Maior - É chamado de "Harpa Eólica", que é um instrumento de cordas que se deixa tocar pelo vento. Trabalha um padrão de arpejos espelhados nas duas mãos.


2. Em Fá Menor - Também estuda velocidade e coordenação: a mão esquerda toca dois grupos de 3 notas e a direita toca quatro grupos de três notas - em quiálteras e ao mesmo tempo.


3. Em Fá Maior - É um estudo de movimento lateral das mãos, que têm que alternar rapidamente notas tocadas com os dedos centrais, com os dedos periféricos.


4. Em Lá Menor - Um estudo para saltos, na mão esquerda, e síncope, já que a melodia da direita está no contratempo.


5. Em Mi menor - O "Estudo da Nota Errada". Através de dissonâncias e síncopes, o compositor cria esse efeito - de que o pianista está sempre errando a nota ou o tempo dela.


6. Em Sol Sustenido Menor - Esse é o "Estudo das Terças Duplas". Surrealmente difícil, talvez o mais complicado de todos. Eu, há muito tempo, escutei uma gravação do grande pianista russo Josef Lhévinne e foi uma das ocasiões em que fiquei mais impressionado com um pianista (ainda mais dos anos 30). Ele toca com uma facilidade e aparentemente sem esforço. É mágico.


7. Em Dó Sustenido Menor - O mais longo dos estudos, nos dois livros. Chamado de "Cello", porque sua linda cantilena vem na mão esquerda, num registro que lembra o do violoncelo.


8. Em Ré Bemol Maior - Esse é um estudo de sextas. Muito difícil, porque se tocam sextas em sucessão em ambas mãos.


9. Em Sol Bemol Maior - Chamado de "Borboleta" (mais uma vez, não foi o compositor que colocou o apelido), ele estuda uma alternância entre o pedal e o staccato. É bem curtinho.


10. Em Si Menor - Outro dificílimo, é um estudo de oitavas duplas. Uma figura cromática é tocada em 4 oitavas simultâneas. Peça de exibição.


11. Em Lá Menor - O "Vento do Inverno" é um dos mais impressionantes. Começa como quem não quer nada e então ataca. É muito difícill, trabalhando uma figura descendente na mão direita. Esse estudo foi usado no final do filme "Green Book", numa das melhores dublagens de piano que eu já vi.


12. Em Dó Menor - Um grande final para os dois livros oficiais de Études de Chopin. Esse estudo tumultuado trabalha arpejos em ambas mãos e é uma típica peça de Chopin - "Sturm und Drang", falo sobre isso em outro post.


Três Novos Estudos


Em 1839, Chopin compôs os 3 Novos Estudos (Trois Nouvelles Études). Bem diferentes em caráter dos Opp. 10 e 25, eles foram concebidos como uma contribuição para a apostila de piano de Ignaz Moscheles. Costumam ser gravados por pianistas que fazem a integral dos estudos. Agora, se não são difíceis (foram feitos para estudantes), são bem bonitinhos.


A Edição de Godowsky


O pianista e compositor polonês Leopold Godowsky (1870-1938), de quem temos gravações (bem antigas), fez uma série de 53 Estudos a Partir dos Estudos de Chopin. Cada um dos de Chopin rendeu 2 ou mais dos dele. Não dá pra dizer que são composições originais, porque as peças de Chopin estão totalmente reconhecíveis. Mas também não dá pra chamar de arranjos, porque ele fez bastantes alterações.


É interessante. No Op. 10 Nº1, por exemplo, ele só inverte os arpejos. Quando um é pra cima, ele faz pra baixo. Se você quiser conhecer, o grande pianista cubano Jorge Bolet gravou alguns.


Gravações Importantes


Andrei Gavrilov - Ninguém toca o Op. 10 Nº 4 tão rápido quanto Andrei Gavrilov. Talvez a Martha Argerich, mas ela não gravou todos os estudos. Os estudos com o Andrei têm falhas (pequenas), mas ganha pontos por não evitar tomar riscos. É de tirar o fôlego.


Nelson Freire - Você encontra o Op. 10 num disco com a Sonata Nº 2; e o Op. 25 em outro, com a Sonata Nº 3. Nelson é simplesmente perfeito, sua famosa técnica cai como uma luva nos estudos.


Vladimir Ashkenazy - Ashkenazy, no primor de sua técnica, nos dá uma versão peculiar. Ele aceita as dificuldades da peça, mas toca, sobretudo, com tranquilidade. Faz parecer fácil.


Guiomar Novaes - Quando gravou os Études, Guiomar já tinha passado do seu auge, mas sua musicalidade certeira, não. Essa é uma gravação para quem quer ouvir mais o aspecto musical do que o técnico.


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