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Foto do escritorRafael Torres

Rachmaninoff - Concerto para Piano Nº 4 - O Patinho Feio

Atualizado: 6 de fev. de 2021

Já tendo falado sobre os outros 3, detenho-me agora no 4º Concerto para Piano de Sergei Rachmaninoff. Ele definitivamente não é o mais gostado dos 4. O é considerado um começo promissor; o , a volta por cima (depois de um fiasco com a 1ª Sinfonia); e o , a montanha, o Everest. O é a ovelha negra. Ele foi considerado por muito tempo uma obra sem atrativos, com pouca fluidez, problemas de continuidade, temas pouco cativantes. Enfim, uma obra árida. Vamos já discordar.

Sergei Rachmaninoff e Eugene Ormandy
Sergei Rachmaninoff e Eugene Ormandy

Composto em 1926, publicado em 1928 e, finalmente, revisado e republicado em 1941, o concerto teve poucas execuções por parte do próprio compositor, que se abatia facilmente com críticas e recebeu algumas nessa obra. A estreia teve uma reação fria. O público queria o famoso, velho e conhecido Rachmaninoff, mas ele lhes deu um Rachmaninoff Belle Époque, um tanto industrial, sofisticado. Só que ele realmente esqueceu de colocar um tema forte no primeiro movimento e no segundo. O terceiro também é um pouco confuso. Mas calma!


Dito isto, bora defender a obra. Eu demorei a me apaixonar pelo 4º Concerto. Poucos pianistas o gravam individualmente: mas muitos o gravam quando querem lançar uma coleção com os 4 mais a Rapsódia Sobre um Tema de Paganini. De forma que ele foi muito gravado. Certamente mais de 50 vezes, sem contar gravações ao vivo.


O pianista mais importante a gravá-lo solto, independente dos outros 3, foi Arturo Benedetti Michelangeli. O genial italiano, conhecido por ter um repertório não muito vasto e por se dedicar mesmo às obras que escolhia (eram poucas comparadas a outros pianistas, mas ainda eram em número considerável), nem tomou conhecimento dos 3 primeiros, mas defendia o 4º. Fez uma gravação maravilhosa, com a orquestra Philharmonia, regida por Ettore Gracis, que deve ser a mais perfeita. É considerada uma gravação de referência. No final deixo algumas sugestões de gravações.


O Primeiro Movimento começa agitado, a melodia é apresentada pelo piano ecoado pelas madeiras em tremolo. O corne inglês apresenta um motivo importante, assim como a flauta. Mas o segundo tema também é do piano. São temas que, pelo menos pra mim, depois que você se acostuma, mostram sua beleza. O movimento é cheio de momentos que você tem que prestar atenção pra perceber que são notáveis. Quando a música entra na sua cabeça, aí toda a sua beleza vem em cada audição. De todos os concertos de Rachmaninoff, esse é o que retem mais a característica de cada vez que você escuta, mais ele se torna atraente.


O Segundo Movimento é um Largo de beleza serena e nostálgica. O ponto culminante é lá pelos 5 minutos, quando ele vai crescendo e desemboca num momento tão sublime que é arrebatador. Pra ser justo, ele já tinha feito a mesma coisa num Étude-Tableau de 1911 que não foi publicado senão postumamente (o compositor morreu de câncer em 1943, aos 69 anos). É o Étude-Tableaux Op. 33, Nº 3, que vai escalando e tem o mesmo desfecho.


O Terceiro Movimento é mais problemático. Destituído do momento de triunfo típico do compositor, como tão eloquente no Concerto Nº 2 e sublime no Nº 3, ficou ele um tanto sem propósito. Mas não que seja desinteressante. Era apenas questão de marketing, deixar uma bela explosão pra fechar a obra. Não o fazendo, manteve sua integridade (sua, pessoal, e do concerto), à custa do amor do público.


Mas ouça o que eu estou dizendo: depois de se acostumar, você vai amar esse concerto, com curvas agudas e orquestração eficiente e muita beleza. Veja algumas opções de gravações:

- Sergei Rachmaninoff, com a Orquestra de Filadélfia, regida por Eugene Ormandy;

- Vladimir Ashkenazy, com a Orquestra do Concertgebouw de Amsterdã, sob a regência de Bernard Haitink;

- Arturo B. Michelangeli, com a Orquestra Philharmonia, sob Ettore Gracis;

- Tamás Vásáry, com a Sinfônica de Londres, sob Yuri Ahronovitch;

- Alexander Ghindin, com a Filarmônica de Helsinki, sob Vladimir Ashkenazy (essa é a primeira gravação da primeira versão do concerto, a que se toca mais é a de 1941. O próprio Ashkenazy gosta mais dessa versão. Eu acho a última mais satisfatória.)


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