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  • Foto do escritorRafael Torres

Outro top 10 Sinfonias a se conhecer (Parte 2)

Atualizado: 7 de ago. de 2022

Mais 10 sinfonias imprescindíveis em qualquer repertório. Essa é a lista 2. A primeira está aqui.


Agora cabe dar uma pincelada na estrutura da sinfonia, falando, nesse caso, do primeiro movimento (lembre-se disso, essa estrutura só vale para o primeiro movimento). Ele consiste na sucessão das seguintes seções, às vezes precedidas, ainda, por uma introdução:


- Exposição, em que o compositor apresenta dois temas principais, geralmente contrastantes - geralmente se repete essa seção;

- Desenvolvimento, em que ele faz divagações sobre os dois temas, os mistura e os explora ao máximo;

- Reexposição, que é quando ele reapresenta os temas de maneira mais pura, lembrando a exposição;

- Coda, que é a parte final. O Coda pode ser desde um simples encadeamento de acordes até uma seção complexa que tem uma preparação para terminar a obra e o final em si.


 

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 - 1791) - Sinfonia Nº 40, em Sol menor



De 1788, 3 anos antes da morte prematura do compositor, essa sinfonia talvez seja sua mais conhecida. É um daqueles poucos exemplos em que a obra de arte mais conhecida de um artista está, realmente, entre as suas melhores. Graciosa, mas meio trágica, ela é uma das duas únicas que Wolfgang Amadeus Mozart escreveu em tom menor.


É superelegante, mas não sem personalidade. O compositor usa muito as cordas, como era o estilo da época, mas já temos algumas frases no clarinete, no oboé e na flauta.


O primeiro movimento tem uma exposição linda, mas é no desenvolvimento que Mozart mostra sua criatividade, prenunciando Beethoven. Mesmo sendo curto, é repleto de modulações, combinações diferentes de instrumentos...


O segundo, marcado Andante, é uma daquelas peças que só Mozart... Contém passagens arrepiantes e, depois do primeiro movimento um pouco conturbado, é uma música contemplativa e graciosa.


O terceiro é um Minueto marcado por uma leve confusão rítmica que nos dá. Às vezes ficamos sem saber direito qual o tempo forte. O Trio (parte do meio do movimento) é leve e belo.


O Finale volta a ser conturbado. Marcado Allegro Assai, começa com um Foguete de Mannheim (um arpejo ascendente) e contém corridas rápidas das cordas. Se bem que o segundo tema é descontraído, mas logo voltam os ritmos agitados. Se essa música fosse em Sol maior, poderia até ser alegre, mas em menor, fica soturna.


Gravações sugeridas: Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker), regente: Herbert von Karajan / Orquestra Filarmônica de Berlim, regente: Simon Rattle


 

Ludwig van Beethoven (1770 - 1827) - Sinfonia Nº 3 "Eroica"



Composta em 1804, essa sinfonia marca uma ruptura de Ludwig van Beethoven com a música tradicional, a clássica, dando início ao romantismo. Tem uma aula interessantíssima do maestro americano Leonard Bernstein sobre a peça.


Ela já começa com duas pauladas: dois acordes de mi bemol maior em tutti (toda a orquestra). A música, que começa tão assertivamente com um acorde perfeito (acordes perfeitos são aqueles maiores ou menores com apenas três notas), vai gradualmente perdendo o equilíbrio tonal, culminando em um acorde altamente dissonante (7m59s), que chega a dar arrepios.


O ritmo é igualmente singular, com síncopes inusitadas, às vezes em fortíssimo. Famosamente, ocorre um novo tema em pleno desenvolvimento (8m08s) (os temas sempre são apresentados na exposição).


O segundo movimento é uma solene Marcha Fúnebre, nobre e orgulhosa, muito bonita e profunda.


Para o terceiro movimento, Beethoven preparou, em vez do clássico Minueto, um Scherzo (tipo de andamento jocoso, por vezes irônico, que ele adotara e que todos adotariam a partir de então). Ele também vem com ritmos sincopados e uma orquestração que dá destaque às madeiras.


O Finale é uma peça extremamente criativa, com uma orquestração bem balanceada.


Tão inovadora é a sinfonia, que seu primeiro ensaio foi um desastre. Os instrumentistas entravam na hora errada e, quando entravam na hora certa, Beethoven, que já apresentava sinais de surdez, interrompia, acreditando que alguém atravessara (em música, atravessar é se precipitar ou se atrasar; ou seja, tocar antes ou depois da hora certa).


Eu costumo dizer que, no caso de Mozart, você ouve as primeiras notas e diz: "mas que gênio!". No caso de Beethoven, você pode até não achar isso no começo, mas à medida em que vai escutando, vai se dando conta de que: "Putz! Mas que gênio!".


Gravações sugeridas: Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker), regente: Herbert von Karajan / Orquestra Filarmônica de Berlim, regente: Claudio Abbado


 

Felix Mendelssohn (1809 - 1847) - Sinfonia Nº 4 "Italiana"



Entre 1829 e 1831, o jovem Felix Mendelssohn empreendeu uma jornada pela Europa. Os frutos da viagem foram muitos: a 3ª Sinfonia ("Escocesa"), a abertura "As Grutas de Fingal", e a Sinfonia Italiana.


Escolhi esta última porque é uma das músicas mais felizes e agradáveis que conheço. Finalizada em 1833, é "a peça mais alegre que já compus", disse ele em carta à irmã Fanny. Ele continua: "só não achei nada para o movimento lento, ainda. Acho que vou deixar isso para Nápoles".


Acho que Nápoles deu certo, porque é um lindo movimento lento.


Mendelssohn foi uma daquelas crianças que encantam a todos: tocava piano muito bem, compunha, escrevia poesia... Menino de ouro. Ele ainda teria uma carreira de regente e é hoje considerado o homem que redescobriu Johann Sebastian Bach para o mundo, basicamente porque ele regeu o oratório A Paixão Segundo São Matheus, do mestre alemão, numa performance lendária em Berlim.


Infelizmente ele faleceu muito cedo, aos 38 anos. Mas são muitas as obras conhecidas dele: as Sinfonias 3 e 4, o Concerto para Violino, as aberturas "As Grutas de Fingal" (ou "As Hébridas") e "Mar Calmo e Viagem Próspera", a música incidental para "Sonho de Uma Noite de Verão" (na qual existe a famosa "Marcha Nupcial"), os oratórios Paulus e Elias e muitas outras.


Gravação sugerida: Orquestra Filarmônica de Nova Iorque (NY Philharmonic), regente: Leonard Bernstein


 

Robert Schumann (1810 - 1856) - Sinfonia Nº 3 "Renana"



Renana quer dizer "da Renânia", que é uma área na Alemanha banhada pelo rio Reno, caso você esteja se perguntando. A última sinfonia escrita por Robert Schumann, em 1850, foi a penúltima a ser publicada (por isso é a terceira, e não a quarta). Foi inspirada em uma viagem de Robert e Clara a esse lugar. Foi uma viagem muito feliz.


O quarto movimento (21m10s no vídeo acima), em que ele imagina um grande ritual de um arcebispo que se torna cardeal na Catedral de Colônia, é o meu favorito. Quase tão lindo quanto o terceiro movimento da 2ª Sinfonia, me lembra o Réquiem de Mozart.


Schumann, como eu já disse, era um artista perturbado, especialmente a partir de 1850, com 40 anos. Nesse próprio rio Reno, ele se jogaria, em 1854, numa tentativa de suicídio. Resgatado por pescadores, de volta à casa, ele pediu, então, para ser internado num asilo de loucos. Clara não podia visitá-lo, mas Johannes Brahms, amigo íntimo do casal, podia (acho que algo a ver com o fato de ser um asilo masculino).

Schumann morreu em 1856. Dois dias antes, sua esposa foi, finalmente, autorizada a vê-lo, e ele parece tê-la reconhecido, mas não disse nada senão coisas desconexas.


Gravação sugerida: Orquestra Filarmônica de Los Angeles (LA Philharmonic), regente: Carlo Maria Giulini


 

Johannes Brahms (1833 - 1897) - Sinfonia Nº 2



Como falei nesse post, Johannes Brahms fizera, em 1876, o que muitos consideravam impossível: tornar-se o sucessor de Beethoven. Isso porque sua 1ª Sinfonia foi recebida pela Alemanha com admiração e orgulho. Ele tinha que manter o padrão e fazer uma 2ª Sinfonia igualmente maravilhosa, mas ele estava tão confiante, que, em 1877, resolveu escrever uma obra menos de impacto e mais contemplativa. Costumamos nos referir a esse tipo de obra como uma Sinfonia Pastoral, em homenagem à obra de mesmo nome de Beethoven, que é a menos turbulenta de suas sinfonias. Acontece que Brahms não a achava contemplativa, não. Ele dizia que era a coisa mais triste que já compusera, a ponto de ser quase insuportável.


A segunda é repleta de melodias lindíssimas, como a do 2º movimento (20m17s), uma linda e longa linha melódica nos violoncelos.


Ela tem 4 movimentos e dura 45 min. Não é a mais tocada das 4 de Brahms, mas é muito adorada. É a minha favorita, se bem que amo as 4.


Gravação sugerida: Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker), regente: Claudio Abbado (uma gravação específica, de 1971)


 

Antonín Dvořák (1841 - 1904) - Sinfonia Nº 7



A Sétima de Antonín Dvořák, de 1885, é uma peça densa e profunda, mas que não deixa de ser agradável. O compositor tcheco era um melodista nato e um orquestrador muito consciente. Ele sabe criar climas ameaçadores, agradáveis, tensos ou casuais. Tudo em poucos segundos. O primeiro movimento da Sétima (que antigamente era chamada de Terceira, pois desprezavam-se as 4 primeiras) é um exemplo dessa capacidade de passear entre humores. O primeiro tema, nas cordas, é sombrio, já o segundo, no clarinete, superjovial.


O segundo movimento, Poco Adagio (um pouco lento), é encantador, mas também alterna com momentos de mais alerta. Nesse momento estou ouvindo uma gravação que nunca tinha ouvido, mas que certamente vou indicar logo abaixo.


O terceiro é o arquétipo de um Scherzo. Em tempo ternário, parece uma valsa nervosa. A melodia fica na sua cabeça. Se você prestar atenção, vai notar texturas orquestrais (isto é, ideias musicais que correm junto com a melodia "da superfície").


O Finale é devastador. Essa é, sem dúvida, uma das maiores sinfonias já escritas.


Gravação sugerida: Orquestra Sinfônica de Londres (London Symphony), regente: Colin Davis


 

Jean Sibelius (1865 - 1957) - Sinfonia Nº 7



Esta incrível sinfonia, considerada por muitos o Opus Magnus de Jean Sibelius, é especial. Primeiro porque não é uma sinfonia convencional de 4 movimentos: tem apenas um. Não é música, é uma outra coisa. Um fenômeno etéreo. Ela lembra um estado de meditação, é simplesmente sensacional. A orquestra vai começando a pegar cor, a fazer sentido, num crescendo (a partir de 6m17s) que vai bater num acorde glorioso em que o trombone, como um rei, declama sua afirmação.

Depois vêm alguns elementos mais reconhecíveis, os ritmos vão ficando mais discerníveis. Mas é apenas ilusão, no final ela volta ao seu estado nebuloso até terminar como que se desfazendo - embora tenha um acorde final muito definido.


Gravações sugeridas: Orquestra Sinfônica de Gotemburgo (Gothemburg Symphony), regente: Neeme Järvi / Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker), regente: Herbert von Karajan


 


Sergei Rachmaninoff (1873 - 1943) - Sinfonia Nº 3



Se a inclusão da 2ª Sinfonia de Sergei Rachmaninoff na outra lista pode ter sido polêmica, esta aqui não será. Porque, além de belíssima, é bastante sofisticada. Você às vezes acha que vai entrar um tema, mas ele te engana, só pra logo depois revelar a melodia.


Escute o segundo movimento (7m13s), que é ambivalente. Começa sereno e vira uma coisa agitada. A melodia da trompa, a do violino, coisas meio ciganas... Rachmaninoff emprega vários instrumentos de percussão, como xilofone, tamborim, triângulo, pratos, bombo sinfônico. É uma partitura arrojada, ainda que não moderna. O compositor nunca se entregou à estética moderna, sendo considerado um romântico tardio. De fato, essa peça é de 1936, quando o mundo já conhecia muito bem a música atonal de Stravinsky, Bartók, Schoenberg e Berg. O que aconteceu com isso foi que, na época, ela foi considerada uma coisa do passado. Mas o tempo passou e a avaliação agora é outra. Não se julga a obra baseado no fato dela estar inserida no seu tempo ou não, já que não estamos mais nesse tempo. E é aí que ela revela sua grandeza.


Gravações sugeridas: Orquestra de Filadélfia (Philadelphia Orchestra), regente: Sergei Rachmaninoff (sim, ele a gravou, e não é difícil de achar) / Orquestra Filarmônica Real de Liverpool (Royal Liverpool Philharmonic Orchestra), regente: Vasily Petrenko


 


Sergei Prokofiev (1891 - 1953) - Sinfonia Nº 5



Lembro de quando comprei, usado, um CD em que Bernstein regia essa Sinfonia de Sergei Prokofiev com a Filarmônica de Israel. É uma gravação, pra mim, tão mágica e perfeita, que eu mal consigo ouvir outras (só achei comparável, para minha felicidade, a gravação da OSESP com Marin Alsop).


Essa sinfonia, composta na União Soviética (Prokofiev era russo, mas morou muito tempo fora), deu esperança às pessoas, tão oprimidas pelo regime em que elas viviam. É uma sinfonia de glória, sucesso, mesmo que tenha uma personalidade misteriosa. O próprio compositor regeu a estreia, em 1945. No que ele subiu no palco, ouviram-se sons de artilharia lá fora. Ele esperou acabar e só então começou a música. Isso impressionou muito a plateia. A música é até hoje uma das mais tocadas de Prokofiev.


Gravações sugeridas: Orquestra Filarmônica de Israel (Israel Philharmonic), regente: Leonard Bernstein / Orquestra Sinfônica Estadual de São Paulo, regente: Marin Alsop


 


Dmitri Shostakovich (1891 - 1953) - Sinfonia Nº 10



De 1953, a 10ª Sinfonia de Dmitri Shostakovich, assim como a , sucede-se a uma denúncia. Dizia-se que um artista era "denunciado", na União Soviética, quando uma obra sua era considerada subversiva, ou moderna demais, ou quando simplesmente desagradava o governo. Em seu livro de memórias, o compositor afirma que a obra é um retrato (homenagem) de Stalin, dos seus últimos anos - ele morrera um ano antes.


Mas não se pode confiar em nada que Shostakovich fala, nem mesmo em sua biografia. O regime vigiava tudo e ele era um sobrevivente, dizia o que queriam que dissesse. Nessa biografia ele se revela extremamente subserviente e obediente ao governo. É que ele tinha filhos, não podia comprometer a vida e nem a carreira deles. Maxim, o mais novo, viria a se tornar um regente competente e bem sucedido. Ele ainda grava e difunde as obras do pai.


O que não mente é sua obra. Você vê um homem (e um povo) sofrido, a alegria, quando vem, é forçada e amarga.


A 10ª sinfonia, depois da 5ª, é a minha favorita, pelo menos no momento. Tem dois acordes (1m33s) que são de importância máxima, mas quase nunca aparecem de modo a chamar atenção. Você pode escutar a sinfonia inteira e não se dar conta da importância deles. Eu fico arrepiado. É de um abatimento, de uma solidão tão grandes. Shostakovich é um dos compositores que mais recentemente eu aprendi a gostar. Depois dos 30. Eu o considerava espalhafatoso, mas aprendi a ver toda a beleza de suas sinfonias e quartetos de cordas. Outro gênio!


Gravações sugeridas: Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker), regente: Herbert von Karajan / Orquestra Filarmônica Real de Liverpool (Royal Liverpool Philharmonic), regente: Vasily Petrenko / Orquestra da Rádio Bávara (Bavarian Radio Orchestra), regente: Mariss Jansons


 

Gostou desse post? Comente aí. E não se esqueça de olhar a primeira lista aqui.


Eu já tenho ideia de como vai ser a terceira lista, que deve encerrar o assunto. Se bem que vou fazer uma lista de sinfonias menos conhecidas que você deve escutar. Em alguma delas você haverá de encontrar algumas obras de que goste. Quem sabe até se dê conta de que música clássica, com um pouquinho de persistência e pesquisa, é a sua praia.

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