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Foto do escritorRafael Torres

TOP 10 sinfonias que você tem que conhecer

Atualizado: 18 de jan. de 2022

A sinfonia é, talvez, a mais importante forma de criação musical. Aqui listo 10, mas ressalto que foi quase impossível chegar nessa seleção.


Criada no período clássico (século XVIII), a sinfonia é uma forma. Isto é, é uma espécie de molde dentro do qual o compositor vai inserir suas ideias. Não raro, sinfonias se estabelecem como as peças mais importantes de seus compositores. São também peças-chave no repertório das orquestras sinfônicas.


A seguir, tome 10 delas para conhecer. Se você não conhece muito música erudita, sugiro que escolha uma e escute bastante. No futuro, vou escrever mais sobre cada uma delas.


 

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 - 1791) - Sinfonia Nº 29


A primeira da lista é também a mais antiga (da lista), de 1774. Criou um paradigma para sinfonias do futuro e é um dos maiores marcos da evolução e maturidade de Wolfgang Amadeus Mozart.


É uma peça doce e serena, ou seja, clássica (o classicismo foi apenas um dos períodos, de cerca de 50 anos, da história da música erudita, que chamamos toda de música clássica por teimosia. Não está, no entanto, errado falar música clássica, porque nada mais chato do que um cidadão lhe corrigindo o tempo todo: é "erudita", "de concerto", blá blá blá...).


A música do classicismo tem essa característica de ser elegante, meio "música pra relaxar" (argh!) e, entretanto, um pouco impessoal. É aí que Mozart se destaca dos seus contemporâneos, e o motivo de ele ser até hoje adorado: sua música nada tem de fria. Pelo contrário, demonstra uma personalidade passional e criativa como uma criança. Aliás, a imagem de Mozart crianção, como retratada no filme Amadeus (Miloš Forman), não está tão distante da realidade quanto costumam falar.


Essa é a minha sinfonia favorita dele. Porque é despretensiosa, iluminada e sutil.


Gravação recomendada - Orchestra Mozart - Regente: Claudio Abbado.


 

Ludwig van Beethoven (1770 - 1827) - Sinfonia Nº 5


Sabe quando você tenta fugir do óbvio, mas não dá? Essa sinfonia tem que estar em qualquer lista das mais importantes. Como são só 10 na lista, resolvi colocar apenas uma de Ludwig van Beethoven, mas o fato é que a 3ª, a 6ª, a 7ª e a 9ª facilmente poderiam estar aqui.


Aqui temos uma guinada ao romantismo (século XIX). Da humanidade e de Beethoven: ele liderou o rol de compositores responsáveis por criar a linguagem romântica. Já na terceira, a "Eroica", ele vinha com uma paixão, um fervor, quase uma raiva, que arrebatavam a todos. Chegava-se a dizer que sua música era imoral (já repararam que cada geração tem a sua "música imoral"?).


A , de 1808, é uma obra imponente. O primeiro movimento é todo baseado num motivo, o famoso tan tan tan taaaaan. Com essas quatro notas começa uma incrível manifestação que, mesmo não verbalizando (não gosto, mas existem sinfonias com voz), fala de redenção, de dúvidas, enfim, de uma grande jornada.


Gravação recomendada - Orquestra Filarmônica de Viena (Wiener Philharmoniker) - Regente: Carlos Kleiber.


 

Hector Berlioz (1803 - 1869) - Sinfonia Fantástica


Aqui o romantismo já estava consumado. Pode-se até argumentar que a Sinfonia Fantástica, de 1830, é o ponto final do primeiro parágrafo. Pensando melhor, ela começa o segundo parágrafo. A juventude, a plenitude da música romântica.


É uma obra programática, ou seja, segue uma espécie de roteiro, que Hector Berlioz descreve no programa do concerto e no próprio nome dos movimentos. São cinco. Vão do singelo "Um Baile", ao atormentado "Sonho de uma Noite de Sabá". O personagem está apaixonado, mas, não sendo retribuído, resolve se matar com uma dose de ópio. Essa dose não o mata, mas o carrega para um sono cheio de premonições de morte, bruxas, e ele chega a sonhar que matou a amada e foi condenado à morte.


Trágico? Romântico.


Berlioz, que era um rei na arte da orquestração, (a habilidade de escrever efetivamente para orquestra, sabendo a linguagem e as peculiaridades de cada instrumento e de cada combinação) chegou a escrever um tratado sobre o tema. Essa sinfonia é tremendamente bem escrita, além de inspirada e revolucionária.


Gravação recomendada - Orquestra Sinfônica de Boston (Boston Symphony Orchestra) - Regente: Seiji Ozawa.


 

Robert Schumann (1810 - 1856) - Sinfonia Nº 2


É impossível falar de música, especialmente do séxulo XIX, sem mencionar Robert Schumann. Compositor excepcional, ele foi o arquétipo do homem do romantismo. Apaixonado, depressivo, doente, beirando a loucura... Schumann ouvia a nota lá na sua cabeça de maneira tão real que chegava a impedi-lo de compor esta mesma sinfonia.


Sobre ela, é simplesmente maravilhosa. O terceiro movimento (19m40s) é de chorar de dor. Tem uma forma um pouco incomum para a época, especialmente pelo fato de todos os movimentos serem no mesmo tom (o usual era que se compusessem os movimentos centrais em tonalidades distintas dos movimentos extremos).


De 1847, esta não é a sinfonia mais popular das 4 de Schumann, mas eu a coloco aqui sem hesitar, porque, se música é pra levar a gente ao êxtase, ela faz um ótimo trabalho.


Assim como a 5ª de Beethoven, ela lida com a luta entre o fracasso e o triunfo. No final, parece prevalecer o bem, mas fica aquela pulga atrás da orelha (o que é fantástico).


Gravação recomendada - Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker) - Regente: Rafael Kubelik.


 

Johannes Bramhs (1833 - 1897) - Sinfonia Nº 1

Johannes Brahms fez 4 sinfonias. Escolher uma pra colocar aqui foi como escolher um filho favorito, mas a primeira tem mais importância. Veja, Brahms, nascido em 1833, era considerado o sucessor de Beethoven, falecido em 1827. Além das sonatas, as sinfonias são as obras mais importantes de Beethoven. Não sei se dá pra compreender, elas são um patrimônio da humanidade.


E o que se espera do sucessor de Beethoven? Sinfonias milagrosas! Imagina a pressão! Então o que Brahms fez? Ele adiou bastante. Entregou um concerto para piano colossal, duas serenatas para orquestra lindas (que são ensaios, tateando o caminho, sem compromisso de ser sinfonias...). Trabalhou em rascunhos durante 14 anos.


E, em 1876, fez-se a 1ª. E não era uma sinfonia. Era um soco.


Ele a fez tão perfeita que imediatamente ganhou o apelido de 10ª de Beethoven. Ponto final.


Gravação recomendada - Orquestra Filarmônica de Viena (Wiener Philharmoniker) - Regente: Herbert von Karajan.


 

César Franck (1822 - 1890) - Sinfonia em Ré Menor



O belga César Franck compôs, em 1888, uma única sinfonia. E é uma das mais importantes de toda a história. Tecnicamente, depois dessa, os compositores tiveram que se reinventar (odeio essa expressão, mas me foge uma melhor).


Franck usa um artifício chamado "estilo temático cíclico", o que significa que os temas (as melodias principais da sinfonia) estão entrelaçados. Os movimentos, em vez de terem cada um sua independência, são interligados por ideias. A bem da verdade, isso já ocorrera, por exemplo, na Sinfonia Fantástica e até na 2ª de Schumann. Mas aqui é considerado o ponto máximo da forma cíclica, em que Franck era mestre.


Mas vamos além disso: é uma sinfonia existencial, um tanto pesada, agridoce. É simplesmente genial, mesmo que você escute sem se preocupar com a forma. As melodias e a orquestração vão cativar você, e até te extasiar.


Gravação recomendada - Orquestra Sinfônica de Chicago (Chicago Symphony Orchestra) - Regente: Pierre Monteux.


 

Antonin Dvořák (1841 - 1904) - Sinfonia Nº 9 "Do Novo Mundo"

Alguns compositores que faleceram após a nona: Beethoven, Dvořák, Vaughan Williams, Schubert, Bruckner. Existe, na Wikipédia em inglês, um artigo sobre "A maldição da nona".


O compositor austríaco Gustav Mahler tinha medo de morrer depois da 9ª, então escreveu uma sinfonia sem número depois da oitava: "A Canção da Terra". Depois escreveu uma nova sinfonia, mas não podia chamar de 10ª, então fez o seguinte: chamou de 9ª e imediatamente começou a décima. Deu certo? Non! Morreu enquanto trabalhava nos esboços da décima.


Antonin Dvořák foi apadrinhado por Brahms, e seu talento era óbvio. Compunha melodias fáceis de acompanhar, que ficavam na cabeça (o que alguns poderiam ver com maus olhos, mas no caso dele gerava simpatia), e, ao mesmo tempo, fazia um trabalho de orquestração sólido e lidava bem com a forma (lembre-se, a sinfonia é, antes de tudo, um molde, um esqueleto musical, em que o compositor tem que trabalhar respeitando várias formalidades).


Sua Sinfonia Nº 9, apelidada "Do Novo Mundo" (especificamente "proveniente do novo mundo", e não "pertencente ao novo mundo"), foi escrita no período que ele passou nos EUA e estreada em 1893. Muito já foi dito sobre o quanto a sinfonia apresenta elementos da música americana e o quanto isso é balela. Era conhecida até os anos 50 como a 5ª Sinfonia, pois as 4 primeiras eram desconsideradas.


Mas é uma obra do final do romantismo (é minha peça musical favorita) que, não obstante, aponta para o futuro. É sofisticada, viva. A rigor, a e a de Dvořák são trabalhos estruturalmente mais maduros: é como se ele tivesse escrito a nona para agradar o público. E agradou.


Gravação recomendada - Orquestra Sinfônica de Londres (London Symphony Orchestra) - Regente: Eugene Ormandy.


 

J. Sibelius - Sinfonia Nº 2


O Finlandês Jean Sibelius escreveu sete monumentais sinfonias. Não necessariamente em termos de comprimento, mas elas são superqueridas e importantes.


Não à toa. De 1902, este trabalho já foi descrito como sublime, meditativo e triunfante. Sibelius disse que a sinfonia era uma "confissão da alma". É de uma beleza ímpar.


Gravação recomendada - Orquestra do Concertgebouw (Concertgebouworkest) - Regente: Mariss Jansons.


 

S. Rachmaninoff - Sinfonia Nº 2


Algum bonitão aqui vai comentar: "mas Rachmaninoff?". É que ele só escreveu três sinfonias, que são consideradas obras primas, mas não AS obras primas. Até porque ele é mais conhecido pelos concertos e obras para piano. Não é conhecido como "o grande sinfonista Sergei Rachmaninoff". Mas eu incluí a peça aqui porque, além de ser uma das minhas favoritas, é uma das mais fáceis de se gostar. Especialmente o 1º e o 3º (29m30s) movimentos. Meu momento favorito é a tensão absurda criada a partir de 35m51s. Repare nos metais, em contraste com as cordas.


Claro que têm aqueles que dizem que é romântico em excesso (Rach era um romântico anacrônico, pois já se havia iniciado o modernismo), mas peraí. Não é de mau gosto. É muito bonito. O século XX (1907) começava e ele nos dava essa peça arrojada e brilhante.


Gravação recomendada - Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker) - Regente: Lorin Maazel.


 

D. Shostakovich - Sinfonia Nº 5

Dmitri Shostakovich é o compositor mais enigmático da história. Não abandonou a Rússia após a revolução (como Rachmaninoff fizera). Em vez disso, viveu uma relação de amor e ódio com o regime. Às vezes era denunciado, que é quando uma obra de arte era considerada inapropriada para o público soviético, e o artista ficava encrencado, tendo que se justificar, era ameaçado...


Foi o que aconteceu com a sinfonia. E aí o que ele fez? O que ele fez tem várias camadas. Publicou, em 1937, a 5ª, com o subtítulo "Resposta de um artista soviético à crítica justa". Nossa, que subserviente!


Mas a música tem recados. Ele simula tiros e explosões com as percussões. Simula gelo e, nesse gelo, uma única voz se levantando (um oboé, no 3º movimento). Simula coros da igreja ortodoxa. O Kremlin olhava e pensava: "gostei, está falando do sofrimento do nosso povo nos anos de opressão". O público olhava e pensava: "está falando do nosso sofrimento nos anos de opressão". Percebam que eu escrevi "anos de opressão" duas (tecnicamente três) vezes. É simples. Os anos que o regime considerava de opressão eram os anos antes da revolução. Já o público, sabia que Shostakovich falava da opressão do próprio regime.


Na estreia, relatam-se diversas pessoas chorando. Ao final da apresentação, Shostakovich foi aplaudido de pé por mais de meia hora!


Gravação recomendada - Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmoniker) - Regente: Semyon Bychkov.

 

Essa lista, reconheço, é polêmica. Porque tem quatro compositores que estão entre os maiores sinfonistas de todos os tempos e eu não incluí. Confesso que ainda tenho que aprender a gostar de Haydn, Schubert (se bem que adoro a 5ª e a 8ª), Bruckner e Mahler (até gosto de várias das suas sinfonias, mas não estão entre as nove que eu levaria a uma ilha deserta). Estas ausências provam, de qualquer forma, que é uma lista pessoal. São peças que eu adoro desde criança ou adolescente, formaram minha personalidade. E quando você vai recomendar uma coisa a alguém, tem que ser algo por que você tenha, sobretudo, afeto.


Farei ainda 2 listas de sinfonias indispensáveis, quem sabe a sua favorita esteja nestas.


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