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Foto do escritorRafael Torres

Paul Dukas - O Aprendiz de Feiticeiro - A Magia em forma de Música

Atualizado: 15 de jul. de 2022

Falamos anteriormente de La Péri, a obra mais sofisticada do compositor francês Paul Dukas (1865-1935). É a vez de falarmos de sua obra mais popular, o Poema Sinfônico O Aprendiz de Feiticeiro, de 1897. Especialmente de como Dukas expressa a magia em forma de música instrumental.


Escrito para uma grande orquestra, o poema sinfônico tem um programa, isto é, um enredo bem definido, que o seu subtítulo "Scherzo Sobre uma Balada de Goethe" nos indica.


Mickey em O Aprendiz de Feiticeiro, Disney.
Mickey em O Aprendiz de Feiticeiro, Disney.

É a peça mais conhecida e tocada de Dukas e foi incluída no filme Fantasia, de Disney, em 1940. No filme, foi tocada pela Orquestra de Filadélfia, regida por Leopold Stokowski.


Mas antes mesmo da inclusão no filme, já era uma obra extremamente popular, graças à sua orquestração revolucionária e ao fato de que segue à risca o poema de Goethe.


Foi a terceira obra de Dukas depois que ele abandonou o Conservatório de Paris. Ele tentou por três vezes, durante seus estudos, ganhar o Prix de Rome, uma bolsa que o conservatório dava para o aluno estudar por três anos na Itália. Não conseguindo, largou o conservatório e alistou-se no exército.

Em 1897, após a estreia da sua Sinfonia em Dó e muitos anos após a saída do conservatório ele compôs esse belo trabalho. O sucesso foi imediato.


O enredo


O poema de Goethe, publicado cem anos antes da música, de viés cômico, trata da figura de um aprendiz de magia que, ao se ver sozinho, decide fazer encantamentos, tornando uma vassoura obediente, a carregar baldes de água por ele.


No início, satisfeito com o resultado, o jovem logo perde o controle da situação, a vassoura continua a trazer baldes de água até inundar a casa. O aprendiz se desespera, não sendo capaz de achar o contrafeitiço, e decide "matar" a vassoura, cortando-a com um machado.


O que ocorre é que as partes da vassoura ganham vida e voltam à sua missão de trazer mais e mais baldes de água. A situação só se resolve quando o mestre mago volta e, enfurecido, manda a vassoura de volta para a dispensa (e dá uma vassourada no bumbum de Mickey, no desenho).


A orquestra


O grande mérito da peça é, sem dúvida, sua prodigiosa orquestração. O conjunto exigido contém:

1 Flautim

2 Flautas

2 Oboés

2 Clarinetes

1 Clarinete Baixo (Clarone)

3 Fagotes

1 Contrafagote

4 Trompas

2 Trompetes

2 Cornetas

3 Trombones

Percussão: Tímpanos, glockenspiel, bombo sinfônico, pratos, triângulo

1 Harpa

Violinos 1

Violinos 2

Violas

Violoncelos

Contrabaixos


A parte do glockenspiel (também conhecido como metalofone) é extremamente difícil, sendo usada como peça de audição para orquestras para percussionistas. Tanto que, às vezes, é tocada por uma celesta.


A música


Abaixo, nossa versão guia, com a Orquestra Filarmônica da Rádio França, regida por Mikko Franck.

Não vou fazer uma análise da estrutura da obra, até porque sua estrutura está sujeita ao poema de Goethe. O clarinete, aos 14s faz uma antecipação do que será o tema principal, seguido pelo oboé e pela flauta. Aos 49s isso é repetido. A 1m20s a flauta mostra um motivo que pode ser visto como tema B. Depois de um pequeno trecho mais agitado, gostaria que atentassem aos fagotes, que representam a vassoura ganhando vida (2m14s). Aos poucos o ritmo vai se estabelecendo e o tema principal aparece plenamente nos fagotes (2m34s).


Reparem como a música nessa hora está gaiata, confiante e até feliz. Aos 4m11s o tema atinge seu auge, tocado com segurança e heroísmo. Mas logo as coisas começam a sair do controle. O tema surge, aos 4m37s, já completamente desfigurado, em outro tom e em outra escala, prenunciando o desastre. Percebam o movimento das cordas aos 5m34s, uma espiral ascendente que também nos avisa de algo errado.


Aos 6m03s o tema volta, nas trompas, revigorado, mas as cordas continuam fazendo as carreiras que lembram uma espiral. Aos 6m32s já está tudo fora de controle. Os trompetes, aos 6m44s, representam o aprendiz tentando deter a vassoura, enquanto que o gesto em espiral das cordas representa a vassoura teimosamente derramando água.


Aos 7m17s temos o "assassinato", em que o aprendiz parte a vassoura com um machado. Há um momento de alívio, mas logo as partes quebradas da vassoura começam a ganhar nova vida (7m25s). O ritmo se estabelece novamente e o fagote segue com seu tema (7m51s), o tema da vassoura. Há um fugado com o clarinete, que representa que agora há mais de uma vassoura.


O caos começa a prevalecer aos 8m18s e a tensão vai aumentando até seu auge aos 9m04s. Uma bagunça total (onde a orquestração mais uma vez brilha), que o pobre rapaz tenta conter, sem sucesso.


A chegada do mago acontece aos 10m09s, com um acorde que nos deixa suspensos e acaba consertando tudo rapidamente. A música volta à mesma atmosfera da introdução, misteriosa e resignada. O coda é breve e termina a música num golpe forte.


A orquestração


A orquestração de O Aprendiz de Feiticeiro é, sem dúvida, o aspecto mais impactante da obra. Uma de suas funções é escolher que instrumento toca o quê. Mas é muito mais que isso. Trata-se, também, de decidir o que farão os instrumentos que não estão em evidência, atribuindo-lhes passagens interessantes e que agreguem riqueza à peça.


Em vários momentos temos os mais diversos recursos, como rasgos dos trombones, tremolos das cordas, um flautim se destacando acima da orquestra, adicionando textura, pontuações certeiras das harpas, intervenções das percussões (sutis entradas do triângulo) harmônicos nos violinos e muitas artimanhas mais. Tudo para conferir à música os climas e ambientações que ela pede.


Gravações recomendadas


- Jean Martinon e a Orquestra Nacional de l'ORTF (que posteriormente passaria a ser chamada Orquestra Nacional da França) - Martinon talvez seja o regente ideal para essa peça, pois não costuma limpar o som como outros regentes. A gravação de 1972 tem um som bastante satisfatório, e a interpretação é ferina.


- Kent Nagano, regendo a Orquestra Sinônica de Montreal - Uma versão elegante e refinada, lançada em 2016. Nagano faz a dosagem das dinâmicas, de modo que o avanço do caos é bem graduado.


- Jean-Luc Tingaud, à frente da Orquestra Sinfônica Nacional RTÉ (Irlanda) - Tingaud vem construindo uma carreira sólida e inspirada. Essa gravação da Naxos tem tudo, empolgação, sonoridades mágicas e um som gravado excepcional. É de 2013.


- Yuja Wang (versão para piano transcrita por Victor Staub) - Yuja mostra a obra sem o benefício da orquestração. Bem, mais ou menos. O seu piano é quase uma orquestra por si só. A versão é bem calculada (e extremamente difícil) e é interessante ouvir a peça ao piano. A gravação é de 2011.


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