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Foto do escritorRafael Torres

Ravel - La Valse - A apoteose da Valsa vienense

O francês Maurice Ravel (1875-1937) foi o rei da arte da orquestração. Ele conseguia tirar cores únicas da orquestra, atribuindo suas melodias sempre aos instrumentos mais perfeitos, criando massas sonoras e texturas que nos encantam até hoje.

Seu trabalho La Valse, um poema coreográfico, de 1920, é um perfeito exemplo disso. A obra começa difusa, turva, como se enxergássemos um ou outro casal dançando um arremedo de valsa. No seu decorrer, ela vai tomando proporções cada vez mais concretas até que somos levados às últimas consequências da valsa vienense.


Ravel tinha em mente um balé, e o ofereceu a Serge Diaghilev. Este, depois de escutar a versão para dois pianos disse que era uma obra prima, mas não era um balé. Era um retrato de um balé. Ravel se ofendeu e a amizade dos dois se abalou.


Apesar das aspirações cênicas do compositor, a obra é muito mais executada como peça de concerto. Uma espécie de poema sinfônico. E também existem versões para piano e para dois pianos. Todas, mas sobretudo a sinfônica, são gravadas com frequência.


O compositor anotou na partitura o que ele tinha em mente como programa da peça:

"Nuvens em turbilhões deixam entrever, em frestas de luz, casais que valsam. Elas se dissipam pouco a pouco; pode-se então distinguir um salão imenso povoado por uma multidão que gira. O palco ilumina-se progressivamente. A luz de lustres explode no teto e temos uma corte imperial por volta de 1855."


A orquestra que ele pede é a seguinte:

2 Flautas

1 Flautim

2 Oboés

1 Corne Inglês

2 Clarinetes

1 Clarinete Baixo

2 Fagotes

1 Contrafagote

4 Trompas

3 Trompetes

3 Trombones

1 Tuba

Tímpanos

Percussão (triângulo, pandeiro, bombo sinfônico, tambor, pratos, castanholas, gongo etc)

Violinos 1

Violinos 2

Violas

Violoncelos

Contrabaixos

2 Harpas


Abaixo, temos a Sinfônica da Radio de Frankfurt (hr-Sinfonieorchester), regida por Alain Altinoglu.

Note como a escrita começa confusa, como se estivesse despertando. O próprio ritmo não fica claro. Os instrumentos graves dominam essa seção inicial. Aos poucos vai-se discernindo uma valsa, com seu ritmo 3/4 ficando mais explícito. Quando os violinos assumem a melodia (2m08s), já está tudo um tanto mais claro.


Nesta seção central ela é bem tradicional, com belas melodias nas cordas, ou no oboé. Mas aos 3m59s o tímpano quebra o raciocínio da música e traz desdobramentos mais exuberantes, de ritmo forte.


Ravel alterna sabiamente, e com muita técnica, momentos mais calmos com outros mais exaltados. Aos 4m56 os oboés itroduzem uma ideia bem vienense, bem típica. Mas a orquestra tem suas explosões e seus conflitos. Uma hora tudo parece voltar ao normal, só para depois sermos surpreendidos por um ataque mais furioso.


No final, a dança vai ficando frenética e louca. As melodias já não se distinguem mais, as percussões avançam sempre, a velocidade almenta. O aturdimento é completo, como se fosse mesmo um retrato de uma alucinação. A escrita orquestral é maravilhosa, ora destacando instrumentos (um oboé, um trompete), ora mesclando suas sonoridades para criar as texturas mais imaginativas.


Aos 12m12s começa o febril coda, em que a ideia de casais valsando tranquilamente já parece distante.


Considerações finais

Ravel já era um compositor extremamente famoso, tido como um dos maiores do mundo, quando escreveu La Valse. O balé estreou em 1926 na Bélgica, inicialmente como música cênica, mesmo, pelo Royal Flemish Opera Ballet. Diversas encenações se sucederam, como as coreografadas por Bronislava Nijinska (irmã do lendário bailarino Vaslav Nijinsky), por George Balanchine e por Frederick Ashton.


Mas à medida em que as os discos se tornavam populares, ela foi se tornando cada vez mais presente em gravações e concertos.


O próprio Ravel providenciou as versões: para piano e para dois pianos.


Gravações recomendadas

Versão orquestral

- Charles Dutoit, regendo a Orquestra Sinfônica de Montreal - Essa gravação, de 1982, é muito famosa. Dutoit explora bem os contrastes da peça e cria um cenário perfeito.


- Seiji Ozawa, regendo a Sinfônica de Boston - Uma versão altamente polida, de 1975, mas que não deixa de ficar insana quando precisa.


- André Previn, com a Filarmônica de Viena - Gravada ao vivo em Viena, em 1985, essa interpretação é bem contundente e lindamente tocada.


- Myung-Whun Chung, com a Filarmônica de Seul - A orquestra coreana toca com vigor e paixão. É uma das gravações mais excitantes.


- Robert Trevino, com a Orquestra Nacional Basca - De 2021, talvez seja a versão mais enlouquecida da valsa. Elogiadíssima pela crítica, é uma leitura realmente espetacular.


Versão para piano solo

- Juja Wang - Lançada no seu álbum Transformations, de 2010, é uma leitura invejável, que combina a técnica perfeita e a musicalidade sublime da pianista chinesa.


- Khatia Buniatishvili - A Georgiana Khatia gravou La Valse no seu disco Kaleidoscope, de 2016. É uma leitura apaixonada e expressiva da obra.


Versão para 2 pianos

- Martha Argerich e Nelson Freire - No disco Salsburgo, gravado ao vivo nessa cidade em 2009, Martha e Nelson arrasam. Os dois parecem um só pianista de 4 mãos. A carga, a densidade da gravação é arrebatadora.


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