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Foto do escritorRafael Torres

Hekel Tavares - Concerto para Piano em Formas Brasileiras (Nº 2) - Análise

Atualizado: 11 de jul. de 2022


O compositor alagoano Hekel Tavares (1896-1969) é um fenômeno. Infelizmente, um fenômeno pouco conhecido, ainda. Uma espécie (guardadas as proporções) de Villa-Lobos nordestino. Assim como Villa, ele se interessava intensamente pela música popular da época. Mas estudou música de concerto, cursando orquestração com um professor no Rio e teoria com Henrique Oswald e Francisco Braga.

Mas era danado pra fazer música bonita. Canção, mesmo. João Gilberto gravou várias vezes um sambinha chamado Guacyra, de Tavares e Joracy Camargo. A mesma dupla fez Leilão, uma música que eu descobri na voz da Mônica Salmaso e que é de chorar. Com Luiz Peixoto fez Suçuarana, talvez sua música mais conhecida (candidata a 1ª música gay do Brasil), e que também é comovente.


Ele tinha esse dom melódico de fazer a gente chorar. Quando eu escuto o Concerto para Piano em Formas Brasileiras eu choro pra burro. Vexame. Tenho que escutar escondido. Pode?


Temos abaixo a gravação ao vivo de Arnaldo Cohen com a Orquestra Sinfônica Petrobras Pró Música, regida por Roberto Tibiriçá.


A obra


O Concerto para Piano em Formas Brasileiras Nº 2, op. 105, foi composto em 1938, durante uma estadia do compositor numa fazenda no interior de São Paulo.


I - Modinha (Tempo de batuque - lento com simplicitá)


A peça começa com um acompanhamento agitado, meio batucado, bem brasileiro. Mas logo se acalma e revela seu belo tema principal no piano (37s). A orquestra o repete um pouco diferente (1m07s), derramado e romântico.


O que vem depois é uma sucessão de demonstrações virtuosísticas do piano, sobre esses misteriosos acordes. Um crescendo nos leva à seção ritmada, que tem um novo tema (2m40s). É a modinha em si. O piano faz comentários sobre o tema dos metais.


Aos 3m24s o clarinete bruscamente tamborila sobre a harmonia do tema principal. Ele volta parcialmente na flauta, aos 3m45s e no corne inglês, aos 3m52s. E vem pleno, embora contido, em piano, pelos violinos acompanhados pelo piano, aos 4m03s.


Aos 4m52s temos mais uma virada súbita, que, na verdade, já é o começo do imenso coda.


II - Ponteio (Largo - molto cantabile ed expressivo) (6m23s)


O movimento já começa com uma bela melodia nas cordas. É o movimento lento do concerto, marcado por diálogos entre o piano e a orquestra. De escrita brilhante, mostra todo o potencial melódico, de orquestração e de escrita pianística do compositor. É um movimento livre, sem forma definida. Se assemelha a uma rapsódia ou a um tema com variações, mas não é. É uma série de improvisos disformes sobre uma harmonia tipicamente popular. A bela melodia volta desfigurada aos 11m05s. Aos 12m42s temos o coda.


III - Maracatu (Lento, ma vigoroso) (13m10s)


Começando nos violoncelos e contrabaixos, o Maracatu é misterioso no início. Aos poucos, temos um crescendo que entrega uma entrada sutil, em uma nota só, do piano (14m16s).


Seu tema principal aparece aos 15m10s no piano, baseado naquelas notas repetidas. A orquestra logo o repete (15m28s). Temos várias referências, nos sopros, aos movimentos anteriores. Aos 16m24s o tema volta, no piano. Aos 17m04s os oboés trazem uma nova melodia, que pode ser vista como o segundo tema, embora seja muito fragmentado.


Aos 18m23s, a música cai, subtamente, em tom menor, trazendo alusões ao primeiro movimento. Depois, volta a ficar rapsódica. As melodias de Hekel Tavares são abundantes e belas. Aos 20m10s temos a repetição dessa melodia, que é quase uma variação o tema do primeiro movimento.


Aos 21m37s tem início o longo e brilhante coda, que tem um final épico.


Considerações finais


Se você acompanhou a gravação acima, sabe que o concerto precisa urgentemente de mais atenção. Mais gravações e interpretações nas salas de concerto. Hekel escreveu 4 Concertos em Formas Brasileiras. Esse é o 2º, op. 105, para piano. O 4º, op. 107 é para violino. Temos dificuldade até para obter uma listagem das composições do alagoano. Gravações de suas canções também são raras. Leilão, como eu falei, foi gravada por Pena Branca e Xavantinho e pela Mônica Salmaso. Sussuarana foi gravada pela Maria Bethânia. Guacyra, pelo João Gilberto. Inezita Barroso (outra artista esquecida) gravou Engenho Novo, Banzo e Funeral d'um Rei Nagô e um punhado de outras. Há um bom disco de uma cantora chamada Ana Salvagni, de 2008, dedicado às suas canções. Mas ele merece mais. Ainda muito mais.


Gravações importantes


Abaixo as gravações importantes: a primeira é a única que você encontra no Spotify, Deezer, iTunes... Com Felicja Blumenthal, a Sinfônica de Londres e Anatole Fistoulari na regência. É boa, mas o som ainda não era muito legal. A segunda é de Pietro Maranca com Eleazar de Carvalho, sendo o primeiro disco da OSESP (Orquestra Sinfônica Estadual de São Paulo). Tenho o vinil. É com ele que eu derramo as infindáveis lágrimas. E o terceiro é o mesmo do vídeo.



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