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Foto do escritorRafael Torres

++ 7 Discos de MPB Fora da Caixinha

Já emendando com essa lista, que vem depois dessa. Não são Top 7, é uma lista infinita de discos que eu considero fundamentais na MPB mas que nem sempre são lembrados pelo grande público.

 

ConSertão (Arthur Moreira Lima, Paulo Moura, Elomar, Heraldo do Monte)

Consertão é uma reunião de 4 músicos fantásticos. Tão fantásticos que quase não cabe. É legal ver o Arthur Moreira Lima fazendo arpejos pirotécnicos no piano pra não desperdiçar seu virtuosismo. Às vezes ele toca cravo. De qualquer forma a sonoridade é única: piano/cravo, viola, violão e saxofone. Única mesmo. Além da voz singular do Elomar, absolutamente afinada e expressiva. Na viola, Heraldo do Monte e no sax, o Paulo Moura. Foi lançado em 1982 pela Kuarup.


É um disco voltado para a obra de Elomar, mas tem outras peças brasileiras, inclusive eruditas, como a Valsa da Dor e a Festa no Sertão (Villa-Lobos) e a Valsa de Esquina Nº 12 (Mignone), além de Luiz Gonzaga, Waldir Azevedo e Severino Araújo.


Campo Branco, talvez a música mais conhecida de Elomar tem um tratamento instrumental, contrapontístico e caloroso. Inselença prá Terra que o Sol Matou é cósmica, ao sax e ao piano e à viola, tocados com muita delicadeza. Quando Elomar canta, a gente já tava com saudade. Só essa faixa, que tem 8,5 minutos, dá uma tese de doutorado. A Valsa da Dor soa muito bem com o piano e o saxofone soprano. Pedacinho do Céu é com piano, sax e guitarra. E o disco encerra com a diferente Corban. Diferente no universo de Elomar, mas ele é infinito.

 

Lunário Perpétuo - Antônio Nóbrega

Esse álbum fantástico de 2002 do Antônio Nóbrega faz jus total ao legado de Ariano Suassuna. Somos guiados entre ricas instrumentações até a "coivara" da infanta do imperador Dom Pedro. Carrossel do Destino é altamente charmosa, com o clarinete atraente do Zezinho Pitoco. Nas percussões desse disco consta o Gabriel, filho do Antônio, batuqueiro nato.


O disco canta ainda o romance de Riobaldo e Diadorim, de Grande Sertão: Veredas. E músicas instrumentais, como Canjiquinha, Pagão e Luzia no Frevo. Alma nordestina e alma brasileira minha gente.

 

Dançando Pelas Sombras - Boca Livre

Lançado pelo quarteto vocal Boca Livre em 1992, esse disco é o melhor deles, pra mim. A formação à época contava com: Zé Renato, violão e voz; Maurício Maestro, baixo e voz; Lourenço Baeta, violão, flauta e voz; e Fernando Gamma, violões e voz. Fernando era novo no grupo, mas se encaixou perfeitamente. Cantava muito bem e tocava violão como uma fera. E o grupo soube explorar isso tudo.


A linda e luminosa Dança do Ouro (Zé Renato e Lourenço Baeta) abre o disco, que tem uma tolice chamada Gotham City (Jards Macalé e Capinam) como único ponto fraco. As mais mais são The First Circle (Pat Metheny e Lyle Mays), Caxangá (Milton Nascimento), Nua (Fernando Gamma), Todos os Santos (Maurício Maestro e Joyce) e Zen Vergonha (Guinga e Aldir Blanc).


Contando ainda com Marcos Suzano na percussão, o disco chegou a ser lançado nos EUA e Canadá. Apenas recentemtente foi disponibilizado nos aplicativos de streaming.

 

Caipira - Mônica Salmaso

Com a proposta de gravar músicas do universo caipira (o que conhecemos como "sertanejo raiz"), Mônica Salmaso fez os seus dois milagres habituais. Cantar como ninguém e escolher um repertório impecável. Impagável. O ponto alto é Leilão (Hekel Tavares e Joracy Camargo), uma música absurdamente comovente e que se tornou muito importante pra mim. Os arranjos abusam da viola (Neymar Dias) e da sensível flauta de Teco Cardoso. Ela faz até um dueto com Rolando Boldrin (Saracura Três Potes) e um com ela mesma (Minha Vida). Sonora Garoa você pode ver de dois jeitos: como um arranjo delicado bem sucedido ou como um pianista tentando impressionar; mas de qualquer modo, é um pouco deslocada no disco. Talvez por isso a colocaram pra encerrar o álbum.

 

Dá Licença Meu Senhor - João Bosco

Certo. Este é um famosão da MPB. Mas esse disco não é óbvio. Dá Licença Meu Senhor é o disco de intérprete do João Bosco. Foi um dos primeiros discos que eu comprei quando saíram. No caso, aos 14, em 1995. Aqui ele se esbalda com seu genial violão e voz em canções de Villa-Lobos (Melodia Sentimental), Chico Alves e Ismael Silva (Se Você Jurar), Tom Jobim e Newton Mendonça (Desafinado), Dorival Caymmi (O Vento e Vatapá), Noel Rosa (Gago Apaixonado), Gilberto Gil (Expresso 2222) e muitos outros. O disco tem muito suingue, mas ao suingue do João Bosco até eu me rendo.

 

Amor e Cordas - Léo Tomassini

Professor de canto, Léo Tomassini lançou em 2003 esse obscuro disco que eu nem sei como veio parar nas minhas mãos. Mas é maravilhoso. A voz agradável, ainda que meio perfurante do Léo, e a instrumentação fiel ao nome do álbum, além do repertório muito bom, fazem desse disco uma coisa preciosa. Muito bandolim, violão, cavaquinho, violoncelo, uma atmosfera de roda de samba... Ele canta Tom Jobim, Edu Lobo, Paulinho da Viola, Luiz Gonzaga, Cartola e Sinhô. Confiram, confiem.

 

Piazzollando Com Sotaque Brasileiro

Mais um disco de 1992, e mais um que a Kuarup lançou, produzido pelo Mário de Aratanha. São faixas de Piazzolla em um punhado de instrumentações diversas. Egberto Gismonti fez o arranjo da Fuga 9 para o Rio Cello Trio (Alceu Reis, Jacqes Morelembaum e Marcio Mallard). O trio, aliás, toca metade do álbum, auxiliado pelo Quinteto Villa-Lobos nas Estações Portenhas. Depois temos a Orquestra de Cordas Brasileiras e Chiquinho do Acordeon. Os arranjos são de Morelembaum, Zeca Assumpção, Henrique Cazes... Temos músicas como Libertango, a Suíte Portenha e Deus Xangô. Disco muito bem acabado.

 

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