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  • Foto do escritorRafael Torres

Schubert e a Morte (e a Donzela)

O compositor austríaco Franz Schubert (1797-1828) foi um prodígio. Sua vida foi prolífica e trágica. Em 1822, aos 26 anos, descobriu que tinha sífilis, doença venérea que, à época, era mortal. Em 1823 foi diagnosticado com o estágio terciário da doença, o que praticamente era um decreto de morte.

Schubert ainda escreveria muito até seu fim, aos 31 anos, mas a maturidade, que muitos alcançam na velhice, a vida o fez alcançar bem mais cedo. Assim como Mozart, outro gênio austríaco que morrera cedo, na adolescência ele já era um compositor completo, e aos 20 e poucos, um artista maduro.


De 1824, seu penúltimo Quarteto de Cordas foi apelidado de "A Morte e a Donzela", nome de uma canção (voz e piano) que compusera anos antes sobre poema de Matthias Claudius, e que lhe serviria de tema para o 2º movimento. Ele era realmente completo: sinfonista, camerista, operista e compositor para piano. Só não escreveu música concertante. Mas apesar disso, era pobre e tímido. Não conseguia promover sua carreira, embora fosse o queridinho de Viena. Dizem que ele não arranjou nem coragem para falar com seu ídolo Beethoven, que lá morava.


Este quarteto foi executado pela primeira vez em 1826, mas numa audição privada. Só seria publicado após a morte do compositor.


Mas como esse Quarteto se relaciona à maturidade de Schubert? Pra começar, o primeiro violino perde a predominância: todos os 4 instrumentos (violino I, violino II, viola e violoncelo) têm sua dose de temas, motivos e acompanhamentos. Além disso, a peça é pensada como uma grande obra, com temas se entrelaçando e se desenvolvendo não como se tivessem vida própria, mas como se fossem galhos de uma mesma árvore. Pra completar, nessa obra e em outras do período, Schubert se desvencilha da necessidade de impressionar, o que ele fazia tornando as obras longas, cheias de ritornelos (repetições de trechos inteiros).


Não que ele tivesse se tornado mais econômico em suas obras. Ainda eram extremamente longas, esse quarteto tem mais de 30 minutos, mas esse comprimento passou a ser orgânico, necessário.

O primeiro movimento é um golpe de gênio, porque a instrumentação é brilhante, a gente vê os motivos passeando pelo quarteto e quase se perde. Mesmo em uma época em que não se usavam ainda muitos artifícios nos instrumentos de cordas (pizzicatos, harmônicos, cordas duplas, triplas etc.) ele consegue, só na escrita padrão ser sempre criativo. O movimento dá uma atmosfera meio trágica e agitada, com vários momentos de contraste, calmos e serenos.


O segundo movimento é o que dá nome à obra, como eu falei. Ele utiliza o acompanhamento feito pelo piano no lied de mesmo nome como tema. Parece uma marcha fúnebre, que começa meio resignada e vai ganhando corpo e urgência.


O scherzo é o movimento mais curto. O trio (parte central) é bem gracioso, parece se suspender acima da obra, quase clássico.


O finale é tão pesado e turbulento quanto se espera. Trata-se de uma tarantella muito ligeira. No fim, Schubert faz que vai terminar em ré maior, o triunfo, mas cai em ré menor, dramático.


Existe um filme de um certo diretor chamado "A Morte e a Donzela", com a Sigourney Weaver e o Ben Kingsley. É um drama de mistério baseado numa peça que é inspirada nessa obra (que, como vimos, é inspirada em outra).


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