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Rachmaninoff - Sinfonia NÂș 2

  • Foto do escritor: Rafael Torres
    Rafael Torres
  • 8 de fev. de 2023
  • 15 min de leitura
Por Rafael Torres

A Sinfonia NÂș 2, em Mi Menor, Op. 27, do compositor RomĂąntico Tardio russo Sergei Vassilyevich Rachmaninoff foi escrita em 1907. É a primeira sinfonia desse porte a ser abordada pela Arara Neon porque Ă© uma obra colossal, da qual podem ser extraĂ­dos muitos significados. Ou nenhum, se preferir. Pode ser ouvida como uma peça abstrata, cujo significado seja nada de extramusical. E, de fato, ela verifica nossa capacidade de escutar 1 hora de mĂșsica sem, obrigatoriamente, ficar tentando analizar as intençÔes do compositor.


Mas Ă© uma mĂșsica gloriosa, linda de morrer, de escrita orquestral brilhante, com climas e humores que sĂł Rachmaninoff sabe fazer. Seu movimento lento, o terceiro, Ă© glorioso. A obra Ă© cultuada atĂ© hoje, sendo (das 3 sinfonias do autor) sua mais popular. Se vocĂȘ conseguir vencer os 60 minutos, verĂĄ que poucas vezes foi escrita coisa tĂŁo bela.


Sergei Rachmaninoff in 1906
Sergei Rachmaninoff, em 1906.

Rachmaninoff tinha 33 anos e era muito respeitado como pianista, compositor e regente. De fato, tinha passado os Ășltimos dois anos como maestro da Ópera Imperial, no Teatro Bolshoi, em Moscou. Mas por se considerar, acima de tudo, um compositor, e por achar que o posto de regente o estava atrapalhando, ele largou o cargo e mudou-se com a famĂ­lia para Dresden, Alemanha. Ele o fez, tambĂ©m, para escapar de um mini golpe, a Revolução de 1905, considerada um ensaio para a de 1917. LĂĄ, ou em Ivanovka, a casa da famĂ­lia de sua esposa na RĂșssia, onde passavam os verĂ”es, foram surgindo obras como a 2ÂȘ Sinfonia e o poema sinfĂŽnico A Ilha dos Mortos.


Compor uma sinfonia foi uma forma de atiçar seu talento e pĂŽr Ă  prova seu lado psicolĂłgico. Porque sua Primeira Sinfonia, de 1897, havia sido um tremendo fracasso, lançando o jovem compositor em uma depressĂŁo e um bloqueio criativo que sĂł arrefeceriam 3 anos depois, quando, sob terapia, compĂŽs o 2Âș Concerto para Piano e Orquestra, que foi um sucesso. Mas compor especificamente uma nova sinfonia seria uma forma de se livrar de vez daqueles trĂȘs anos infernais.


Assim como o 2Âș Concerto, a 2ÂȘ Sinfonia lhe renderia o prestigiado PrĂȘmio Glinka de composição, na RĂșssia (com uma bolada de dinheiro), e eficientemente lhe deu confiança como compositor de obras orquestrais.


Um belo dia, apĂłs a Revolução de Fevereiro de 1917, quando volta a Ivanovka, descobre-a ocupada por um grupo de homens do Partido Socialista que tinha clamado propriedade sobre a casa. Furiosamente transtornado e prevendo problemas, ele começa a pensar em como poderia sair da RĂșssia. Em outubro ocorre outra revolução (a, bem, Revolução de Outubro) e ele resolve se mudar com a famĂ­lia (a esposa Natalia Satina e as filhas Irina e Tatiana) para os EUA, partindo em dezembro de 1917.


* Eu sou de esquerda, mas isso não me impede de considerar aterrador o que o Comunismo fez, de Berlim Oriental à Sibéria. Acredito que poucos, na esquerda atual, desejem o Comunismo.


Quando chegou aos EUA trazia uma obra vasta (na verdade, meras 35 composiçÔes, mas suas obras eram titĂąnicas) principalmente de mĂșsica sinfĂŽnica e para piano, alĂ©m de algumas Ăłperas (tanto que compĂŽs pouco, lĂĄ, onde passaria o resto da vida com saudade da RĂșssia, agora, UniĂŁo SoviĂ©tica). Incluindo essa sinfonia. Rachmaninoff gravou, como regente, nĂŁo ela, mas a Terceira Sinfonia (obra que tambĂ©m serĂĄ abordada aqui), com a Orquestra de FiladĂ©lfia. Nos Estados Unidos ou em sua casa de veraneio na Suíça, Villa Senar, escreveu mais 10 obras (incluindo a RapsĂłdia Paganini, a 3ÂȘ Sinfonia e as Danças SinfĂŽnicas) chegando ao Opus 45.


Coube ao hoje esquecido Nikolai Sokoloff e Ă  Orquestra de Cleveland (em 1929) fazer a primeira gravação da Segunda. Mas acontece que eles cortaram pĂĄginas e pĂĄginas, removendo quase metade da obra (que ficou com 35 minutos). E ela seguiu sendo tocada e gravada dessa forma atĂ© que, em 1968, Paul Kletzky e a Orchestre de la Suisse Romande fizeram a primeira gravação da mĂșsica sem cortes, o que passaria a ser norma a partir de entĂŁo, para nossa felicidade.


Manuscrito da 2ÂȘ Sinfonia de Rachmaninoff
PĂĄgina do manuscrito da Segunda Sinfonia.


A Obra


A orquestra, nĂŁo tĂŁo enorme, inclui 3 Flautas (uma alternando para Flautim); 3 OboĂ©s (um alternando para Corne InglĂȘs); 2 Clarinetes; Clarone (Clarinete Baixo); 2 Fagotes; 4 Trompas; 3 Trompetes; 3 Trombones; Tuba; TĂ­mpanos; Caixa Clara; Bombo SinfĂŽnico; Pratos; Glockenspiel; Violinos 1; Violinos 2; Violas; Violoncelos e Contrabaixos.


A obra, como dito, tem 60 minutos de duração e 4 movimentos, dos quais o primeiro, com cerca de 23 minutos (!), é o maior.


Acompanhe a excepcional interpretação ao vivo do maestro russo Vasily Petrenko com a Orquestra FilarmÎnica de Oslo.




1Âș Movimento: Largo - Allegro Moderato (06s)


Introdução - Largo

O Primeiro Movimento começa carregado, um tanto intimidante, nos Violoncelos e Contrabaixos, até que uma pequena manifestação das madeiras traz um caråter um pouco mais vivo.


Aos 25s os Violinos executam uma ideia que serĂĄ importante: ela se constitui por trĂȘs notas ascendentes e duas descendentes que se alternam (e mais duas e mais duas). Essa melodia que os Violinos fizeram Ă© o Tema Motto, um tema que irĂĄ se repetir dessa maneira ou com alteraçÔes por toda a sinfonia. Fiquem atentos, pois nĂŁo dĂĄ para ressaltar cada aparição, menção ou sujestĂŁo do Tema Motto.


Agora, tudo isso vai se repetir 2 vezes. Na segunda repetição (2m12s) os Violinos tocam o Tema Motto em Cùnon (Violas tocam, depois Segundos Violinos, depois Primeiros Violinos), o que nos lembra um loop e då ao tema uma característica ainda mais chorosa.


O auge da introdução Ă© quando os Violinos tocam o Tema Motto alterado, cada vez mais agudo (2m59s), em um momento em que parece que a orquestra estĂĄ a acordar. É um trecho muito bonito.


ApĂłs a intervenção dos TĂ­mpanos, Trompetes e Trombones (mas dependendo da edição que vocĂȘ pegar, nĂŁo haverĂĄ tĂ­mpanos) (3m29s), a mĂșsica vai arrefecendo, se acalmando, atĂ© que sĂł sobra um Corne InglĂȘs (4m36s). Com ele, Rachmaninoff faz habilmente a transição para a exposição.


Exposição

Aos 4m57s, com dois pizzicatos das cordas graves e tremolos das agudas, começa a exposição. A introdução nos anunciou que essa mĂșsica nĂŁo seria fĂĄcil. Rachmaninoff nĂŁo vai nos entregar os temas de bandeja.


Os Clarinetes e o Fagote preparam a entrada do primeiro tema com um motivo de trĂȘs notas. AtĂ© que os Violinos entram com o Tema A (5m04s). Ele tem caracterĂ­sticas de variação daquilo que os Violinos fizeram na introdução, apenas com um ritmo mais vivo.


Repare, aos 6m05s, nos Contrabaixos e Violoncelos: eles fazem o Tema A de maneira apressada. AliĂĄs, esse tema ficarĂĄ retornando por todo o decorrer da mĂșsica.


Aos 6m30s, um Clarinete anuncia a chegada do Tema B - mais uma vez, um instrumento solo faz uma ponte importante. Ele Ă© composto por trĂȘs elementos: as chamadas das madeiras, as respostas das cordas em registro grave e o canto agudo dos Violinos, derivado do Tema Motto. Mais uma vez temos um Tema B que parece destacado da obra. Ele Ă© alegre e jovial. Isso ocorre porque ele precisa contrastar com o Tema A, de modo que dĂȘ ao compositor mais possibilidades de expressĂŁo.


O Tema B Ă© repetido (7m04s), mas dessa vez o canto dos Violinos nos mostra consequĂȘncias mais drĂĄsticas de seu devaneio, trazendo mais dramaticidade.


Para o fechamento da exposição, aos 7m26s, Rachmaninoff nos då uma melodia (derivada do Tema Motto) que vai caindo e a orquestra, diminuindo em um belissimo momento, além da bela cantilena dos Violoncelos (7m58s).


A exposição vai acabando de maneira sutil.


A partitura nos instrui a repetir toda a exposição, coisa que Petrenko não faz, aqui.


Desenvolvimento

O desenvolvimento começa aos 8m56s, com um ostinato das Violas. O Tema A (9m00s) aparece em um Violino Solo.


Ele gera uma resposta dos Primeiros Violinos (9m11s) (o Violino Solo, chamado Spalla, pertence aos Primeiros Violinos; mas costuma ser destacado deles em alguns momentos). Logo o ostinato volta.


Dessa vez quem faz o Tema A (9m25s) Ă© o Clarinete, gerando uma nova resposta em tremolo das cordas. Passagem que acaba levando aos lĂșgubres crescendos da orquestra (10m36s) (10m53s) (11m10s), com o Trompete aparecendo no fim e o Tema Motto sendo esboçado pelas cordas e pelo Clarinete Baixo.


A partir daí, como se despertasse de um sonho, a orquestra vai crescendo e ganhando vigor até explodir, aos 12m30s.


Os ataques ameaçadores dos Violinos (12m36s), junto com os anĂșncios dos metais, vĂŁo nos preparando para a recapitulação. Reparem que, a partir dos 13m, os Violinos jĂĄ vĂŁo nos lembrando do Tema A. Aos 13m29s temos mais explosĂ”es, com os Pratos, os TĂ­mpanos e o Bombo SinfĂŽnico sendo acionados.


Aos 14m os Violinos começam a ameaçar algo, a que o Corne InglĂȘs e depois o OboĂ© se juntam, desenvolvendo-se e transformando-se na frase de ligação entre as sessĂ”es. É o fim do desenvolvimento.


Recapitulação

A recapitulação tem início com o Tema B (14m30s), que não foi explorado no desenvolvimento. Recapitular a partir do Tema B não é muito comum, mas Rachmaninoff provavelmente se inspirou em seu falecido amigo e mentor Peter Tchaikovsky, que, ocasionalmente, fazia assim.


Reparem na brilhante escrita orquestral (15m40s). Nesse trecho sĂŁo feitas referĂȘncias ao Tema A que seguem adiante, como aos 16m27s, jĂĄ sem muito Ă­mpeto, meio amolecido.


O Coda se inicia aos 18m20s, quando o movimento muda de carĂĄter. A mĂșsica termina com um inusitado golpe do TĂ­mpano.


2Âș Movimento: Allegro Molto (19m18s)


O Segundo Movimento Ă© o que se pode chamar de um Scherzo, com reservas. Um pouco de histĂłria: no sĂ©culo XVIII, o movimento de distração era um calmo e tranquilo Minueto. Foi Ludwig van Beethoven, jĂĄ nos anos 1800, que teve vontade de mudar. Ele deu uma impulsionada em um gĂȘnero que era pouquĂ­ssimo usado e passou a usĂĄ-lo como terceiro (ou segundo) movimento em suas sinfonias, sonatas para piano e outras obras grandes. De 1802, sua Sinfonia nÂș 2 jĂĄ adota o scherzo. A motivação era a de que o Minueto Ă© um movimento leve e delicado, enquanto o Scherzo (significa brincadeira), pode ser mais irĂŽnico e elĂ©trico, combinando mais com as aspiraçÔes do Romantismo. E nunca mais se ouviu falar em Minueto.


O fato Ă© que, do Minueto, o Scherzo herdou o compasso em 3 tempos (3/4), mas Rachmaninoff Boy escreveu, para essa sinfonia, um Scherzo com compasso de 2 tempos (2/4). NĂŁo Ă© errado, Ă© sĂł estranho. Talvez por isso ele nĂŁo a tenha chamado de Scherzo, mas de Allegro Molto. Prepare-se para uma mĂșsica, em sua maior parte, agitada. Ela terĂĄ partes A, B, A, Trio, A, B, A, uma forma tĂ­pica do Scherzo.


Parte A

Pois bem, o Scherzo começa aos 19m18s. Temos um acompanhamento frenético dos Violinos, com o Oboé, e ouvimos o Tema A, nas Trompas (19m20s). Essa melodia é logo tomada pelos Violinos (19m23s). Aos 19m31s esse trecho é repetido.


Aos 19m46s ouvimos a frase resposta no Glockenspiel. A partir dos 19m53s, eles passam a brincar com o Tema.


Aos 20m25s o Clarinete fica sĂł, para anunciar a Parte B.


Parte B

É uma sessão mais lírica e bem menos afobada. Aos 20m32s os Violinos nos entregam o lindo Tema B. Aos 21m21s temos, nas madeiras, elementos da Parte A, o que significa que ela está para voltar. Aos 21m51s a orquestra começa a acelerar e crescer.


Parte A

Aos 20m01s a orquestra explode com o Tema A, novamente nas Trompas e passando para os Violinos. Repare, aos 22m11s, na declamação do Tema A por toda a orquestra, de maneira meio furiosa. A sessão acaba de modo sutil, com pizzicatos dos Violoncelos e pequenas intervençÔes dos violinos.


Trio

O Trio, marcado Meno Mosso (menos movimentado), tem inĂ­cio de sĂșbito, com a orquestra em tutti (toda a orquestra). Depois, os Violinos 1, Violinos 2 e Violas, auxiliados pelas madeiras, dĂŁo inĂ­cio a uma sessĂŁo contrapontĂ­stica complicadĂ­ssima, assombrada por acordes das Trompas, Trombones, Trompetes e Tuba (23m24s).


Aos 24m06s a sessão ganha um novo caråcter, ficando alegre, por alguns momentos. Aos 24m42s começa novo crescendo e accelerando, que levam, sem cerimÎnia à Parte A.


Parte A

Aos 25m01s a mĂșsica cai no LĂĄ Menor da Parte A. Ela Ă© tocada com alteraçÔes na orquestração. Aos 26m07s o Clarinete anuncia a chegada da Parte B.


Parte B

O Tema B é tocado aos 26m13s, pelas cordas. Aos 27m04s eles começam a tocar motivos da Parte A, em preparação para voltar a ela.


Parte A

Aos 27m45s tem inĂ­cio a Parte A, o final do movimento. É tocada com vĂĄrias alteraçÔes.


O Coda chega aos 28m35s, nos metais, com destaque para o Trompete. Depois, os metais graves (28m54s) em coral dizem o que querem dizer e a mĂșsica termina reticente, casual.


3Âș Movimento: Adagio (29m30s)


O Adagio tem 3 partes (A-B-A).


Parte A

A mĂșsica começa aos 29m33s, jĂĄ proclamando o que optei por chamar de seu Tema B, uma melodia de rara beleza que, por enquanto, Ă© apenas pincelada. A famosa e longa frase do Clarinete, o Tema A, (30m03s) Ă© apresentada com um acompanhamento discreto da orquestra. Este tema Ă© plĂĄcido e contemplativo, se estendendo em longas e bem-vindas notas.


Quando o Clarinete vai chegando ao fim (31m54s), o Fagote ainda faz uma finalização de sua frase. A partir de 32m04s a orquestra inicia um crescendo, sob um baixo pedal dos Contrabaixos, que desemboca na plena exibição do Tema B (32m47s), com belas figuraçÔes das madeiras.


Parte B

Aos 33m47s os Violinos iniciam a Parte B, com seu Tema C. Eles tocam a melodia em canon, isto Ă©, ouve-se a melodia dos Violinos 2 no encalço da mesma melodia, nos Violinos 1. A Parte B Ă© mais atormentada que a Parte A. O Corne InglĂȘs e o OboĂ© (33m58s) tocam frases simples, mas que vĂŁo elevando a sensação de agonia. As cordas voltam e ficam alternando com o OboĂ© e o Corne InglĂȘs. AtĂ© que, aos 35m52s, a tensĂŁo estĂĄ acumulada, o que leva Ă s frases dos Violinos entrecortadas pelos metais, em um dos momentos mais emocionantes da obra.


Tanta tensão acumulada só poderia nos levar a uma explosão (36m44s), seguida de um acalmamento geral. Os Violinos imediatamente começam a sussurrar o Tema B, misturando-o com o Tema C. Após uma pausa, aos 37m24s, volta a Parte A.


Parte A

O Tema B começa a ser ventilado, primeiro na Trompa (37m29s), a seguir no Violino Solo, no Oboé Solo, na Flauta Solo, Oboé Solo, novamente e, por fim, o Tema volta pianinho, mas com personalidade, ao Clarinete Solo (38m15s), com respostas encantadoras, que são extraídas do mesmo Tema B, dos Violoncelos, em um momento de pura beleza e nostalgia.


Aos 38m40s as cordas voltam a fazer o Tema A, aquele que foi declamado pelo Clarinete no começo do movimento. Mas as consequĂȘncias, no final, sĂŁo diferentes. Perceba que temos vĂĄrios chamados ao Tema B: nas Trompas, no Clarinete, no Corne InglĂȘs, novamente Trompas, na Flauta, novamente Corne InglĂȘs e novamente Flauta.


DaĂ­ passamos para a sessĂŁo em que a orquestra cresce e se intensifica, tal como na primeira Parte A. Ela vai explodir no Tema B alterado, por parte dos Violinos 1 e 2. A orquestra inteira acompanha.


Depois, começa a se desenvolver, nas cordas, uma linha que vai ficando mais e mais aguda, atĂ© que sĂł sobram os Violinos 1 (42m27s), ocasionalmente auxiliados pela Flauta. Ainda temos algumas referĂȘncias ao Tema B.


EntĂŁo, o Clarone e as Violas ficam sĂłs, com duas notinhas (43m14s) que levam ao Coda.


O Coda em si consiste no belo acorde cinematogråfico (43m29s) que vai se esvaziando até só restarem os Contrabaixos, em pizzicato sobre uma cama discreta de cordas.


4Âș Movimento: Allegro Vivace (44m34s)


Exposição

Para o Finale, Rachmaninoff preparou um movimento cheio de vida e festividade, em Forma Sonata. O quarto movimento Ă© agitado, rĂĄpido e barulhento, mas relativamente simples. Ele faz diversas alusĂ”es aos outros movimentos. Começa com uma orquestração (a escrita orquestral) absolutamente brilhante, executando o Tema A. Nesse movimento os metais tĂȘm tanta importĂąncia quanto os outros naipes. TambĂ©m Ă© o movimento em que consta mais percussĂŁo. A exposição do Tema A Ă© repetida.


Depois desse início frenético, a orquestra cai em Mi Menor (o tom da sinfonia), com mais assertividade, pontuado pela Trompa (45m27s), com pizzicatos das cordas graves. Trata-se do Tema B (45m40s) dominado pelas madeiras com intervençÔes das cordas.


Logo volta o Tema A, aos 46m16s, com alteraçÔes. Uma pancada do TĂ­mpano (47m05s) inicia um interlĂșdio lĂ­rico, tocado pelos Violinos, que parece um devaneio, com longas linhas de cordas e uma tranquilidade quase onĂ­rica.


No final do interlĂșdio temos o soar nostĂĄlgico do Tema B do terceiro movimento (50m21s) nos violinos (nĂŁo confundir com qualquer outro Tema B) e o Tema A do primeiro movimento, na flauta, no clarinete e no oboĂ©.


Exposição

Começando aos 50m50s, a exposição é agitada e complexa. O Tema A aparece de cara, mas todo alterado. Observe que os oboés tocam uma melodia do terceiro movimento. Aos 51m06s as cordas fazem uma finalização do segundo movimento.


Na exposição, o interessante Ă© vocĂȘ encontrar o Tema A, o Tema B, que sempre aparecerĂŁo distorcidos, alĂ©m de, nesse caso, como a sinfonia Ă© cĂ­clica, estar atento para apariçÔes de temas ou atĂ© mesmo articulaçÔes dos outros movimentos.


Aos 52m os Contrabaixos seguram uma nota. A partir dela surge uma brilhante finalização para a exposição. A orquestra vai crescendo, tomando vida em um tipo de cùnon até cair na sessão seguinte.


Recapitulação

Começando aos 52m46s, a recapitulação segue a ordem normal e começa pelo Tema A. Aos 53m47s aparece, nos metais, o Tema B. Eventualmente ele cresce, acelera e desemboca no Tema A, desta vez mostrado em sua plenitude, muito mais longo do que antes. Aos 56m09s surge o interlĂșdio lĂ­rico dos Violinos, mais Appassionato e Agitato. Ele serve como o inĂ­cio do Coda.


A Codetta, a finalização da mĂșsica em si, Ă© breve, começando aos 57m22s, e dĂĄ Ă  obra um merecido final triunfante.


ConsideraçÔes Finais


A Sinfonia NÂș 2 em Mi Menor, Op. 27, de Sergei Rachmaninoff Ă© uma obra prima. Em sua concepção de estrutura de grande porte, em sua orquestração, na beleza de seus temas e passagens.


Foi estreada no Teatro Mariinsky, em SĂŁo Petersburgo. Rachmaninoff regeu a orquestra do teatro em 26 de janeiro de 1908. A estreia foi um sucesso.


Das trĂȘs sinfonias dele, a Segunda Ă© a mais bem sucedida, sendo muito tocada em salas de concerto e muito gravada - hĂĄ dezenas de gravaçÔes.



GravaçÔes Recomendadas


- AndrĂ© Previn regendo a Orquestra SinfĂŽnica de Londres - Por muito tempo foi a gravação de referĂȘncia da obra, por sua clareza e sonoridade. A mim parece pouco idiomĂĄtica (nĂŁo fala realmente a lĂ­ngua musical de Rachmaninoff). Mas Ă© um excelente registro e tem grande importĂąncia histĂłrica, pois, mais que a gravação de Kletzky, Ă© a grande responsĂĄvel pela restauração do hĂĄbito de se tocar a sinfonia inteira. É de 1973.


- Vladimir Ashkenazy regendo a Orquestra do Concertgebouw, de AmsterdĂŁ - A gravação do especialista em Rachmaninoff Vladimir Ashkenazy Ă© brilhante. Ele pegou uma das maiores orquestras do mundo, uma que tem, acima de tudo, um som sombrio, grave, que se rende perfeitamente Ă  obra. É de 1982.


- Vassily Petrenko com a Royal Liverpool Philharmonic Orchestra - O regente russo do vĂ­deo acima nĂŁo gravou a obra com a FilarmĂŽnica de Oslo, mas com a Royal Liverpool Philharmonic, uma orquestra substancialmente melhor, da qual foi regente titular de 2005 a 2021. Essa gravação Ă© de 2013. É um tanto branda, mas muito musical. Ele repete a exposição do 1Âș movimento.


- Simon Rattle regendo a SinfĂŽnica de Londres - Para que nĂŁo digam que nĂŁo gosto de Sir Simon Rattle, declaro que gosto bastante, em alguns repertĂłrios. Quando assumiu a SinfĂŽnica de Londres, em 2017, tendo saĂ­do da FilarmĂŽnica de Berlim, ele começou a fazer uma sĂ©rie de gravaçÔes. E uma das mais repercutidas foi essa da Segunda Sinfonia de Rachmaninoff, de 2019. É cheia de emoção, extremamente bem tocada e bem regida.




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