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  • Foto do escritorRafael Torres

Dvorák - Sinfonia Nº 7 - Análise

Veja aqui a análise da 9º Sinfonia, chamada "Do Novo Mundo". Agora falaremos da 7º Sinfonia, em Ré menor, Op. 70, uma das peças mais sérias em maduras do compositor tcheco Antonín Dvořák (1841-1904). A peça é de 1885 e foi originalmente publicada como Sinfonia Nº 2 (o editor de Dvořák fazia uma confusão com a numeração das sinfonias). Esse mesmo editor (Fritz Simrock) quis pagar 3.000 marcos pela obra, o que era pouco, e causou um mal-estar entre os dois. No final, concordaram em 6.000 marcos.


Antonín Dvořák
Antonín Dvořák

É uma sinfonia anterior ao período em que ele foi morar por alguns anos nos Estados Unidos. E, ainda que contenha características da música tcheca, é muito mais sombria, escura e misteriosa que esta.


A motivação de Dvořák de compor uma nova sinfonia surgiu quando ele ouviu a 3º Sinfonia de seu amigo Johannes Brahms, outra obra prima. Concidentemente a London Philharmonic Society o encomendou uma peça no mesmo período, e ele aproveitou para escrever a sinfonia. Também tem inspiração em trens. Dvořák era alucinado por eles. Ele disse que o primeiro movimento surgiu na sua mente quando viu a chegada alegre de um trem na Estação de Praga. Quando terminou o segundo movimento (o lento) ele escreveu: "dos anos tristes". Tinha perdido sua mãe recentemente e sua filha Josefa, 10 anos antes (com dois dias de vida), foi um período doloroso para ele.


Dvořák foi um dos compositores mais originais e geniais do romantismo, coisa que nem sempre é lembrada pelos críticos. Por muito tempo o consideraram apenas um bom melodista e, talvez, um orquestrador competente. Ele é muito mais que isso, sua música transborda criatividade, a escrita é idiomática (excelente orquestrador) e, mais importante, ele compunha em todos os estilos: música de câmara, música sinfônica, música concertante, música para piano, música sacra e ópera.


A obra

Com cerca de 40 minutos de duração, a sinfonia utiliza uma orquestra tipicamente romântica:


2 Flautas (uma alternando para Flautim no terceiro movimento)

2 Clarinetes

2 Oboés

2 Fagotes

4 Trompas

2 Trompetes

3 Trombones

Tímpanos

Violinos 1

Violinos 2

Violas

Violoncelos

Contrabaixo


Abaixo, a interpretação que vai nos guiar, da Sinfônica da Rádio de Frankfurt (hr-Sinfonieorchester), regida brilhantemente por Andrés Orozco-Estrada.

1º Movimento - Allegro maestoso (10s)

Ela começa a introdução/exposição do primeiro movimento em tom misterioso, com um rufado dos tímpanos, um tremolo dos contrabaixos, e duas trompas oitavadas. Tudo em pp (pianíssimo, muito fraco). O Tema 1 logo aparece (15s) nos violoncelos e violas. É logo repetido pelos clarinetes (28s). A trompa apresenta a Ideia A (1m34s), respondida pelo oboé (chamo de ideias as melodias que não são propriamente temas, mas que têm importância nos movimentos). Aos 1m58s o Tema 1 aparece na orquestra em tutti, ameaçador, marcado ff (fortíssimo). Após uma transição que acalma os ânimos, o Tema 2 aparece nos clarinetes e na flauta (2m37s). Este tema é bem mais doce e sereno, sendo contrastante com o . Aos 2m58s os violinos o repetem. O Tema 1 volta aos 4m12s, apenas parcialmente, e aos 4m28s ouvimos ecos do Tema 2 transfigurado.


O desenvolvimento começa aos 5m17s, trabalhando o Tema 2. Aos 5m33s o Tema 1 aparece nas madeiras. Os dois temas serão bem trabalhados aqui, às vezes aparecendo de forma parcial, num rompante de algum instrumento. Ouça o Tema 2 em tom menor, nos clarinetes (6m08s). Aqui, como é típico em Dvořák, um tema que antes era calmo se torna intranquilo, nervoso.


Aos 6m42s começamos a ser levados ao ponto culminante do movimento, a recapitulação, que explode aos 6m53s em tutti com o Tema 1. O Tema 2 aparece novamente nos clarinetes, aos 7m28s. Essa recapitulação é quase igual à exposição.


Um coda, a princípio brilhante e tenso, mas depois calmo, encerra o movimento.


2º Movimento - Poco adagio (12m03s)

O segundo movimento inicia com um coral das madeiras (Tema 1), lideradas pelo clarinete em cantilena. Após uma subida sutil nas cordas (12m44s), o longo Tema 2 (que é o principal) aparece nas flautas e no oboé (12m53s). Esse movimento é de uma beleza transcendental, fruto de pura inspiração melancólica. Apesar disso, não é doloroso, é um tanto contemplativo.


As cordas fazem um episódio enigmático (13m27s), pontuado pelos trombones e pelas madeiras. A trompa (14m09s) parece decretar o fim do clima soturno (temporariamente). A mesma trompa apresenta o Tema 3 (14m48s). Aos 15m28s a orquestra explode em um episódio cheio de carga e de drama, de beleza ímpar. O clarinete (15m52s) acalma de novo tudo e dá início a uma parte em que sua melodia é ecoada várias vezes (e desenvolvida). Esse movimento é muito influenciado por Brahms. Se bem que, aos 18m08s, quem ouvimos é Wagner. O Tema 2 reaparece (18m18s), desta vez nos violoncelos. Depois de mais uma parte misteriosa, temos o coda, liderado pela trompa e pelo oboé, e depois pela flauta. Termina de maneira calma.


3º Movimento - Scherzo - Vivace - Poco meno mosso (22m54s)

O scherzo é uma valsa. Seus 2 temas principais aparecem concomitantemente nos violinos e nos fagotes, de maneira concorrente, logo no começo. Bastante remetente à República Tcheca, é aqui que Dvořák solta as cores de sua pátria. A melodia é cativante e delicada, o que também é típico do compositor. Aos 23m24s as posições são trocadas: os violinos fazem a contramelodia e as madeiras, a melodia principal. As acentuações rítmicas se tornam mais fortes (repare a partir dos 23m54s). Logo depois (24m05s) os dois temas conjuntos ressurgem, passeando pela orquestra, e aos 24m32s ela os toca em fortíssimo, de maneira bem ritmada e acentuada.


Aos 25m26s o oboé lança o trio, a parte contrastante, com um novo tema. Este tema fará a orquestra inteira participar de maneira lírica e graciosa. O trio é encantado e não parece se abalar com a dramaticidade do restante do movimento.


O scherzo volta aos 27m59s nos violinos, com os fagotes e trompas fazendo a contramelodia. Depois troca de novo, os violinos fazem a contramelodia e as madeiras fazem o tema. Depois temos um coda e termina o movimento de forma assertiva.


4º Movimento - Finale: Allegro (30m59s)

O quarto movimento começa com uma ideia temática nos clarinetes, trompas e violoncelos. Ele tem caráter episódico, ou rapsódico, com ideias se sucedendo a outras sem interrupções. Aos 32m23s surge a ideia temática 2, ritmada, nos violinos. A escrita orquestral é excepcional, e o entrelaçamento de ideias temáticas gera um movimento complexo, mas não difícil de acompanhar. Temos abundantes modulações e mudanças de textura orquestral. Por fim, o a primeira ideia temática ressurge (aos 36m17s, no clarinete e, então, nas cordas aos 36m54s) e, depois, a ideia 2 domina o final da peça.


Considerações finais

O próprio Dvořák a estreou regendo a orquestra em 22 de abril de 1885, no St. James Hall, em Londres, com grande sucesso. A publicação é que foi complicada. Mas até hoje é considerada possivelmente a sinfonia mais madura e séria do compositor. Foi muito gravada, tanto em integrais das sinfonias, como sozinha. Claro que não tanto quanto a 9º Sinfonia,"Do Novo Mundo", mas tem uma carreira ainda assim invejável.


Gravações recomendadas

- Colin Davis, regendo a Sinfônica de Londres - Essa gravação, de 1999, que vem com a 8ª Sinfonia (saiu pelo selo Alto), é uma das mais espetaculares que eu já escutei. Melhor que todas as outras gravações de Davis, seja com a mesma Sinfônica de Londres, seja com a do Concertgebouw.


- Christoph von Dohnányi, com a Orquestra de Cleveland - Dohnányi e Cleveland gravaram famosamente a , a e a (se bem que também gravaram a sexta, que eu lembre). São versões adoradas pelo seu vigor, pelo toque impecável da orquestra e pelas interpretações acertadas do maestro. É de 1987.


- Witold Rowicki, regendo a Sinfônica de Londres - Um dos grandes ciclos de Dvořák, o de Rowicki tem na um dos seus pontos altos. A precisão rítmica é de impressionar, e o som gravado é muito bom, de 1971.


- Myung-Whun Chung, regendo a Filarmônica de Viena - Essa versão, de 1997 é um pouco mais plácida, mas a orquestra toca com uma beleza e facilidade impressionantes. É acompanhada pela 3ª Sinfonia.


- Leonard Bernstein, com a Filarmônica de Nova Iorque - De 1966, essa gravação tem muito brilho e um som bom.


- Nikolaus Harnoncourt, regendo a Orquestra do Concertgebouw de Amsterdã - Tardiamente Harnoncourt se desvencilhou um pouco da música barroca com interpretação de época e passou a gravar com orquestras modernas. Sua 7ª de Dvořák é exemplar, extraindo um som polido e empolgante da Concertgebouw. Foi lançado em 1998.


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