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Sinfônica da Rádio Bávara - As Melhores Orquestras do Mundo 4

Por Rafael Torres

Voltamos a essa série. Decidi que vou escrever sobre as orquestras que eu considero as melhores do mundo. Ainda não sei até que número vai. Para mim a Sinfônica da Rádio Bávara é quase tão incrível quanto a Filarmônica de Berlim, sendo que a Bávara pode ser até melhor, em alguns aspectos.


Em Munique, na Baviera, onde é sediada, existem 4 orquestras profissionais, sendo as outras três a Orquestra Estadual da Baviera, a Filarmônica de Munique e a Sinfônica de Munique. Todas são de alto padrão.


Orquestra Sinfônica da Rádio Bávara no Herkulessaal
A orquestra no Herkulessaal, no Munich Residenz.
 

A Orquestra


A Sinfônica da Rádio Bávara (em alemão, Symphonieorchester des Bayerischen Rundfunks) foi fundada em tempos relativamente recentes, em 1949, tendo remanescentes de uma Orquestra de Rádio anterior de Munique formando a maior parte do corpo musical. Foi fundada com os esforços do celebérrimo maestro alemão Eugen Jochum, que foi seu regente titular até 1961. Jochum contratou músicos do mais alto nível, com os membros do Quarteto Koeckert servindo como núcleo das sessões de cordas.


Mas foi sob a direção de Mariss Jansons que a orquestra foi alçada ao sucesso mundial, lançando mais gravações, ganhando prêmios e estreando seu próprio selo de gravação, o BR-Klassik. Jansons também tentou negociar a construção de uma sala de concertos própria, já que ela sempre tocou no Philharmonie, no Gasteig Cultural Centre (da Filarmônica de Munique), e na Herkulessaal, na Munich Residenz (um complexo gigante que contém cerca de 130 salas, sendo um centro cultural de Munique).


Teve, em sua história, apenas 6 regentes titulares.


Há várias características que a destacam. Sua sonoridade é peculiar, sendo imediatamente reconhecida por alguns; por ser uma orquestra de rádio, é acostumada a pegar músicas novas, recém compostas, e, já na primeira leitura, tocar com precisão, faz concertos e programas destinados a um público jovem, fortalecendo a cultura da música clássica na Alemanha entre a juventude, além de encorajar e contribuir com jovens músicos.


Para mim o maior prazer em ouvir a BRSO (sigla que eles adotaram do inglês, Bavarian Radio Symphony Orchestra) é poder perceber sua sonoridade especial, um som polido, virtuosístico e cheio.

 

Os Maestros


Como falei anteriormente, foram 6. Isso se incluírmos o próximo, que ainda não assumiu (estou em fevereiro de 2023, ele deve assumir por volta do meio do ano).


Eugen Jochum

O regente alemão, como sabemos, fundou a orquestra. Gravou, com ela, relativamente pouco, ou pouco foi relançado em tempos modernos. Isso inclui as Sinfonias Nos. 5 e 9 de Franz Schubert, as Missas e algumas Sinfonias de Anton Bruckner, o Oratório "A Criação", de Joseph Haydn e o Concerto para Violoncelo e as Danças Sinfônicas, de Paul Hindemith.


Ressalto que Jochum gravou muito, mas, possivelmente, não com a BRSO.


Rafael Kubelík

O regente tcheco, que era talentosíssimo, aprimorou ainda mais o som da orquestra e ampliou seu repertório, trazendo mais Música Moderna à lista. Foi seu regente principal entre 1961 e 1979. Gravou muito, sendo que suas gravações principais incluem as 9 Sinfonias de Gustav Mahler (e mais o Andante-Adagio da 10ª, o único movimento que o compositor concluiu), Sinfonias e Missas de Joseph Haydn; Sinfonias de Wolfgang Amadeus Mozart, Johannes Brahms, Antonín Dvořák, Anton Bruckner; o Minha Pátria de Bedřich Smetana; a Sinfonietta e os Hinos Sinfônicos de Leoš Janáček; obras de Georg Friedrich Händel, Béla Bartók, Hector Berlioz, Ludwig van Beethoven, Alban Berg e Arnold Schoenberg e algumas óperas.


Estas interpretações têm um valor artístico altíssimo e nelas se percebe a sonoridade surreal, tanto do conjunto quanto dos instrumentitas individuais. Em 1979, Kubelík aposentou-se. Ainda regeria como convidado de algumas outras orquestras, mas os críticos garantem que foi em sua permanência em Munique que aconteceu ápice de sua carreira.


Colin Davis

Sir Colin Davis foi um maestro inglês que aparecia regularmente como regente convidado da BRSO. Mas ganhou o posto de regente principal, com a saída de Rafael Kubelík. Seu mandato foi de 1983 a 1993. As gravações não foram muitas - novamente, um maestro que gravava bastante, mas com outras orquestras.


As obras gravadas com ele incluem a Missa Nelson, de Joseph Haydn; Serenatas de Pyotr Tchaikovsky e Antonín Dvořák; a ópera Fausto de Charles Gounod; obras de Alban Berg, Max Reger e Paul Hindemith; o oratório "Messias", de Georg Friedrich Händel; a 9ª Sinfonia de Ludwig van Beethoven; 2 das Sinfonias de Igor Stravinsky e pouca coisa mais.


Lorin Maazel

Este, que foi um dos mais importantes regentes estadunidenses, dirigiu a orquestra entre 1993 e 2002. Era um homem culto, falava 7 idiomas, inclusive o português (sua primeira esposa era brasileira) (tenho um disco de vinil em que ele rege e narra, em português, a obra Guia da Orquestra para Jovens, de Benjamin Britten, além de Pedro e o Lobo, de Sergei Prokofiev), tocava piano, violino e compunha. Foi uma criança prodígio, estreando na regência aos 8 anos, conduzindo a 8ª Sinfonia, "Inacabada", de Franz Schubert. E tinha memória fotográfica para partituras. E ouvido absoluto.


Seu jeitão frio e de poucos amigos, combinado com o rigor com que tratava as orquestra, o tornavam um maestro temido e um pouco hostilizado pelas orquestras. Suas interpretações eram passionais, emotivas, de sonoridades grandiosas.


Também não deixou muitas gravações com essa orquestra em particular. As principais são dos poemas sinfônicos Assim Falou Zaratustra, Don Juan, Till Eulenspiegel e Ein Heldenleben e a Suíte Rosenkavalier, todos de Richard Strauss; e um disco com obras sinfônicas de balé, com peças de Tchaikovsky, Beethoven e Liszt.


Mariss Jansons

Foi com este regente da Letônia, um dos mais talentosos que o mundo já viu, que a orquestra se tornou um conjunto largamente reconhecido, louvado e famoso no mundo inteiro. Jansons foi o regente principal da BRSO entre 2003 e 2019 (ano de sua morte, se não o contrato iria até 2024 e aposto que seria estendido).


Com ele o conjunto extrapolou seus níveis de sonoridade, precisão e expressividade. Também gravou como nunca e estreou obras de compositores do século XXI. Jansons também lutou e negociou muito pela construção de uma sala de concertos nova e própria da BRSO, mas o projeto até hoje não foi levado adiante.


Gravou muita coisa, como os balés O Pássaro de Fogo, Petrushka e A Sagração da Primavera, de Igor Stravinsky; Sinfonias de Ludwig van Beethoven, Dmitri Shostakovich, Gustav Mahler e Piotr Tchaikovsky; o Réquiem de Wolfgang Amadeus Mozart e muitas outras coisas. Foi uma das colaborações mais profícuas da história da música.


Simon Rattle

Seu mandato está previsto a começar na temporada 2023-2024. Rattle, que é Sir, é um regente inglês que se destacou quando elevou a qualidade da Sinfônica da Cidade de Birmingham a um nível internacional. Posteriormente sucedeu Claudio Abbado na Filarmônica de Berlim e, depois, foi contratado pela Sinfônica de Londres.


Não ter assumido, ainda, a orquestra, não o impede de já ter gravado discos, já que ele aparece como regente convidado desde 2010. Gravou, por exemplo, a 9ª Sinfonia de Gustav Mahler; um disco de Música Contemporânea do compositor tcheco Ondřej Adámek e a ópera As Valquírias, de Richard Wagner.


Os Regentes Convidados


Entre os ilustres regentes convidados da BRSO encontramos nomes como Leonard Bernstein - que, com ela, fez um concerto lendário na sala Gendarmenmarkt, em Berlim, no Natal de 1989, em celebração à queda do Muro de Berlim (com sua Ode à Alegria ecoando alto na transmissão ao vivo, em todas as TVs da Alemanha e no mundo inteiro).


Vemos, também, o holandês Bernard Haitink (clique aqui para ler o que a Arara escreveu a título de seu obituário), um dos mais queridos maestros dos tempos recentes. Com a orquestra, ele gravou Sinfonias e a Missa Solemnis, de Beethoven; a 3ª Sinfonia de Mahler; o Oratório Secular "As Estações" e o Oratório Religioso "A Criação", de Haydn.


Outros maestros convidados, não menos nobres e talentosos, incluem Erich Kleiber, Carlos Kleiber, Ferenc Fricsay, Charles Munch, Paul Hindemith, Karl Böhm, Otto Klemperer, Georg Solti, Kurt Sanderling, Carlo Maria Giulini e, mais recentemente, Esa-Pekka Salonen, Franz Welser-Möst, Riccardo Muti, Herbert Blomstedt, Daniel Harding e Yannick Nézet-Séguin. Todos contribuíram na montagem da sonoridade da orquestra, na ampliação de seu repertório, no alargamento de sua respeitável discografia e na difusão do trabalho do grupo, sempre fazendo-a mais célebre.


 

Os Músicos


Obviamente, os maiores responsáveis pelo que foi dito acima são os músicos da orquestra. São dotados de extrema sensibilidade musical, técnica instrumental, flexibilidade (as grandes orquestras são as que melhor se adaptam à concepção musical de diferentes regentes) e uma invejável capacidade de leitura de partitura à primeira vista. Devemos, antes de tudo, a eles pelas interpretações cheias de calor e com uma das sonoridades mais acolhedoras, entre todas as orquestras.


Músicos como o Primeiro Flautista Philippe Boucly, o Primeiro Oboísta Stefan Schilli, o Primeiro Clarinetista de nome quase idêntico Stefan Schilling, o Primeiro Fagotista Marco Postinghel e toda a sessão de cordas, a de metais e a de percussões, são o que há de mais essencial na orquestra. O maestro explica, durante os ensaios, sua concepção sonora para a obra e, no concerto, dá indicações aos músicos a fim de lembrá-los de uma determinada diretriz, mas, como disse o Spalla da Orquestra Sinfônica Estadual de São Paulo Emmanuele Baldini, em entrevista à Arara, são os músicos que produzem o som. No caso da Sinfônica da Rádio Bávara (e da OSESP), que som!


 

Gravações Recomendadas


- Gustav Mahler - as 9 Sinfonias, regidas por Mariss Jansons - Não conheço cada centímetro das sinfonias de Mahler. Mas gosto de algumas, as puramente instrumentais (1, 5, 6, 7 e 9), as outras têm vozes, às vezes coros. São extravagantes demais para mim. Mas, mais uma vez, a orquestra prepara, com Jansons, uma interpretação que é, por exemplo, suave, no Adagietto da 5ª Sinfonia. A Sexta (comumente apelidada de "Trágica" sem que saibamos onde este nome se originou, já que Mahler não aprovava) começa com um caráter completamente diferente, com vários atrevimentos de instrumentos de sopro e um clima mais relaxado e agradável (pouquíssimo trágico), em escrita muitas vezes contrapontística. Ela é tranquila, tem um terceiro movimento lento Andante Moderato, mas, de forma geral, seu humor é bem positivo. A Sétima, apelidada "Canção da Noite" (dessa vez, sem que Mahler ficasse sabendo), é mais séria, mais urgente, especialmente nos movimentos rápidos. Seus Movimentos Lentos, chamados Música da Noite 1 e Música da Noite 2, são bem calmos e o tom geral da sinfonia é quase brincante. Já a Nona Sinfonia é trágica, de fato, com os primeiros instrumentos fazendo uma simulação de pulsação: a música falará de morte, a morte do próprio Mahler, que se aproximava. A orquestra está inacreditável, dosando impecavelmente seu som.


- Johann Sebastian Bach - Suíte Orquestral Nº 1, com o regente Giovanni Antonini - É uma gravação que mostra a versatilidade da orquestra, tocando Música Barroca, que, hoje, costuma ser tocada por conjuntos com instrumentos e técnicas da época, no caso, o século XVIII (o Movimento HIP). Mas com a Sinfônica da Rádio Bávara, embora soe como um Barroco um tanto artificial, é simplesmente lindo de ouvir, o Oboé, o Fagote, as cordas e até o Cravo (eles usam um Cravo) são tão bem tocados que dá vontade de chorar.


- Dmitri Shostakovich - Sinfonia Nº 5, regida por Mariss Jansons - A 5ª de Shostakovich é uma das minhas sinfonias favoritas. Ela é um veículo perfeito para a orquestra exibir versatilidade: temos movimentos rápidos, múltiplas texturas, um doce movimento lento e um finale arrebatador, tudo tocado como nunca.


- Josef Suk - Sinfonia Nº 2, "Asrael", regida por Jakub Hrůša - O talentoso e comentado regente, nascido na República Tcheca, faz um lindo trabalho com esta longa sinfonia de Suk, compositor também tcheco do começo do século XX e genro de Antonín Dvořák. Asrael, o nome do anjo da morte que pode ser encontrado no Velho Testamento, é uma sinfonia em memória de Dvořák, que, em 1904, havia morrido. Quer dizer, ele começou a compô-la em homenagem ao sogro, mas quando terminou, em 1906, sua esposa Otilie também havia partido e a obra serviu como homenagem dupla. A peça é cheia de mudanças de humor, tem uma orquestração brilhante e é cheia de citações a temas de Dvořák. Esta é a melhor gravação que eu já ouvi, da sinfonia. Se bem que Kubelík a havia gravado com a BRSO, em 1981, mas já não se encontra esse disco.


- Camille Saint-Saëns - Sinfonia Nº 3, "Com Órgão", e Francis Poulenc - Concerto para Órgão, regidos por Mariss Jansons - Essa gravação da Romântica 3ª Sinfonia de Saint-Saëns é particularmente sensacional. É uma obra de índole ingênua, mas muito bem orquestrada, com temas belíssimos e que integra perfeitamente o Órgão à orquestra. Foi muito gravada, mas esta aqui é uma das maiores gravações, sem dúvida. O igualmente leve concerto de Poulenc, compositor Moderno, é igualmente incrível. A organista é Iveta Apkalna, também da Letônia.


- Alexander Glazunov - As 8 Sinfonias e algumas Obras Sinfônicas menores, regidas por Neeme Järvi - O experiente maestro Järvi, estoniano (o pessoal dos Países Bálticos vem se destacando), acertou em cheio ao gravar todas as sinfonias de um compositor Romântico russo que andava esquecido. Sua notoriedade jamais se recuperou e ele é sempre lembrado como o péssimo regente, que quase acabou com a carreira de Sergei Rachmaninoff ao reger a estreia de sua 1ª Sinfonia tão mal, mas tão mal, que dizia-se que o que se ouvia não era a sinfonia. Outra coisa é que Glazunov era um compositor completamente firmado nas tradições do Romantismo, enquanto outros compositores russos, desde os anos 1880, talvez até antes, já caminhavam rumo ao Modernismo. Mas as sinfonias têm cada tema bonito! São o tipo de patrimônio que se deve conservar. De modo que o mundo precisava de uma gravação realmente excepcional do ciclo para voltar a olhar para ele. E é isso que essa gravação é: de primeira categoria. Antes dela as sinfonias foram pouquíssimo gravadas.


- Joseph Haydn - Sinfonia Nº 99 / Wolfgang Amadeus Mozart - Sinfonias Nos. 25, 35, 38, 40 e 41 / Ludwig van Beethoven - Sinfonia Nº 9 / Johannes Brahms - Sinfonias Nos. 1, 2, 3 e 4 / Antonín Dvořák - Sinfonias Nos. 6, 7, 8 e 9, "Do Novo Mundo", Serenata para Cordas e Serenata para Sopros / Anton Bruckner - Sinfonias Nos. 8 e 9 / Hector Berlioz - Sinfonia Fantástica / Bedřich Smetana - Minha Pátria / Leoš Janáček - Sinfonietta e Hinos Sinfônicos / Béla Bartók - Música para Cordas, Percussão e Celesta e Concerto para Orquestra - Regidos por Rafael Kubelík. O repertório imenso indica que se trata de uma caixa (15 CDs), mas, também, tem quase 200 anos de música aí. Curiosamente, eu adoro um bom repertório conservador. Os destaques são as 4 Sinfonias de Brahms; as de Dvořák; as cinco de Mozart; a de Haydn; a Sinfonia Fantástica, de Berlioz e as duas peças de Bartók. É o repertório perfeito, e ouvir a BRSO com Kubelík em gravações de som tão bom é um privilégio.


- Ludwig van Beethoven - Os 5 Concertos para Piano e a Fantasia Coral, regidos por Rafael Kubelík e com Rudolf Serkin ao piano. O grande pianista boêmio (a Boêmia pertencia ao Império Austro-Húngaro, quando ele nasceu, e hoje fica na República Tcheca) Rudolf Serkin estava, ainda, em pleno comando de sua técnica (as gravações ocorreram em 1977). Digo isso porque muitos críticos acusam suas gravações de vários Concertos de Mozart com Claudio Abbado e a Sinfônica de Londres, poucos anos posteriores, de mostrarem o pianista já envelhecido, sem a mesma técnica e expressividade. Eu nunca pensei assim. Nos concertos de Beethoven, por terem sido gravados ao vivo, ocorrem muitas falhas, erros, mesmo, da parte de Serkin, que seja dito. Mas aqui está o melhor ciclo de Concertos de Beethoven dentre os três que Serkin gravou. Verdade que a estrela, aqui, não é a orquestra, mas o pianista e o regente (Kubelík está sensacional). Mas ela oferece um acompanhamento impecável. Ignorem a Fantasia Coral, uma obra vulgar e desagradável.




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