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Robert Schumann - Perfil - Estilo, Época e Principais Obras

Por Rafael Torres

Compositor absolutamente atormentado, nobre, caótico, generoso e genial. Nasceu em Zwickau, no Reino da Saxônia, atualmente Alemanha, em um período a que nasceram muitos compositores importantes do Romantismo - Frédèric Chopin (1810), Franz Liszt (1811), Felix Mendelssohn (1809), Richard Wagner (1813) e Giuseppe Verdi (1813).


Schumann começou a compor aos 6 anos. Era apaixonado, acima de tudo, por literatura - seu pai era livreiro, escritor e editor. Seu autor favorito era o romancista e contista alemão Jean Paul, por quem era obcecado. Começou a estudar piano e teoria musical aos 7, com um professor local, e desde então desenvolveu um fascínio inesgotável pela música. Dentre seus compositores favoritos estavam Ludwig van Beethoven, Franz Schubert e Felix Mendelssohn, que foi uma criança prodígio... Schumann começou a escrever literatura aos 14.


Compositor Romântico Alemão Robert Schumann
Robert Schumann

Em 1826, seu pai, que encorajava suas aspirações musicais, morreu. A mãe, que nunca o apoiou na música, o pressionou até que, em 1828 ele partiu para Leipzig (Alemanha) para estudar direito. Em Leipzig ele foi a um concerto de uma jovem pianista, Clara Wieck. Tão entusiasmado ficou que começou a estudar piano com seriedade, com o professor Friedrich Wieck (pai dela), que o garantia que ele se tornaria o maior pianista da Europa. Acontece que Robert sofreu um acidente - ninguém sabe ao certo, mas conta-se que ele possuía um mecanismo para fortalecer os dedos fracos (anelar e mínimo) que acabou prejudicando os outros dedos da mão direita (outra tese diz que isso ocorreu porque ele tinha distonia). Por isso ele teve que abandonar o piano e se voltar à composição. Virou também crítico musical, com seu jornal Neue Zeitschrift für Musik. Nesse jornal ele leva adiante uma antiga e problemática ideia: a de escrever encarnando dois personagens, Florestan, que representa seu lado passional e febril, e Eusebius, representando seu lado meditativo e sonhador (havia um terceiro, chamado Master Raro, de que pouco se fala, representando o equilíbrio entre os dois). Ele assinava suas críticas, algumas vezes, como um ou outro. Florestan e Eusebius também podem ser observados em sua obra musical, que frequentemente alterna entre os dois humores. Um piano febril e um contemplativo, O problema, eu já conto.


Por volta de 1835 ele começa a se apaixonar pela filha do professor de piano, a Clara. Ela tinha 15 anos (isso era normal na época) e já era uma pianista consagrada, tendo feito sua estreia aos 9 anos. Clara viria a se tornar uma das mais prestigiadas pianistas da Europa, além de ser compositora. Mas a carreira de compositora ainda era mal vista pela Europa machista de então, de modo que ela publicou poucas e inocentes obras.


Em 1940 eles se casaram, depois de uma batalha jurídica com o pai dela (que só voltaria a falar com eles 3 anos depois). O casamento foi próspero, ela estreou muitas das peças dele. Mas a verdade é que a vida em família pesou sobre a carreira dela. Eles tiveram 8 filhos, dos quais 7 vingaram. Quando Robert morreu, em 1856, Clara passou a ter que cuidar da família sozinha.


Reconstituição facial de Robert Schumann feita por IA.
Reconstituição facial de Robert Schumann feita por IA.

Mas os Schumann eram um casal unido, respeitado, querido e prestigiado. O problema é o seguinte: é a saúde mental de Robert. Sua irmã Emilie havia cometido suicídio, e ele mesmo sentia uma aflição mental desde 1833, que foi evoluindo para possivelmente o que chamamos de depressão bipolar (aculture-se aqui - link externo). Muitos estudos médicos, da época e mesmo de hoje, feitos através de cartes e diários, não conseguiram definir o que Schumann tinha. Mas, o que quer que fosse, continuava a se agravar.


A própria Sinfonia Nº 2, de que já tratamos, nos traz sinais de um possível transtorno bipolar, com seus momentos líricos, calmos, contrastando com outros de saudade e solidão. É como se Florestan e Eusebius lutassem para ver quem toma conta da mente de Robert. O fato de ele usar dois personagens tão distintos pode ser sinal do transtorno.


Por um tempo, nos anos 1840 e 1850, ele pareceu se recuperar, viajando com a família e tendo momentos de lazer. Em 1850 a família se muda para Düsseldorf, onde Schumann tinha sido contratado como regente. Acontece que ele era notoriamente um péssimo regente, e logo passou a ser hostilizado pelos músicos da orquestra. Não durou um ano. Em 1853, ele voltariam a viver em Düsseldorf.


No final dos anos 1840 a família sofre a perda do primogênito Emil, bem como dos amigos irmãos Fanny e Félix Mendelssohn.


Em 1853,bate à porta dos Schumann o jovem compositor Johannes Brahms (aos 20 anos e trazendo consigo as partituras de suas três Sonatas para Piano). Os três criam intimidade, mútua simpatia e admiração rapidamente e Brahms passa alguns meses vivendo com eles. Schumann escreveu em seu jornal: "é o escolhido"... "destinado a dar expressão aos tempos da mais elevada e ideal maneira"... De fato, Brahms viria a se tornar uma espécie de sucessor musical de Beethoven.


Mas em 1854 Robert teve uma piora significativa. Ele via demônios e ouvia constantemente a nota lá. Em certo ponto, ele relatou que a nota lá se transformara na mais angelical das músicas, só para depois, em uma certa noite, acordar de madrugada alegando que o fantasma de Mendelssohn ou Schubert havia lhe ditado um tema dos espíritos. Ocorre que tal melodia era do próprio Schumann, ele já havia escrito obras com o tema, como o Concerto para Violino. São os sinais definitivos de que ele estava enlouquecendo.


No mesmo ano de 1854 ele tentou suicídio, atirando-se no rio Reno. Sua carta de despedida fecha assim: "Irei encerrar agora. Está ficando escuro". É internado em um Sanatório em Bonn e impedido de ver Clara, pois o médico o considerava perigoso. Ela tem que confiar as visitas ao grande amigo do casal, Brahms, que fielmente notícias frequentes. Em 1856, Clara é autorizada a vê-lo. Ele a reconhece e diz umas poucas palavras. Dois dias depois, Robert morre de pneumonia.


A obra de Schumann é uma das mais importantes na tradição erudita europeia (tradição que já tinha estudiosos nas Américas). É uma música colorida, de belos temas e de escrita impecável. Assim como o compositor era atormentado, a música descrevia sentimentos (por vezes febris), em vez de ações, um dos ideais do Romantismo. Forestan e Eusebius são frequentemente evocados, muitas vezes os dois em uma mesma peça. Uma parcela enorme da sua obra é para piano solo. Além disso ele escrevia música de câmera, música sinfônica (algumas aberturas, além das 4 sinfonias), três Concertos (para Piano, para Violoncelo e para Violino) e até um pouco de música coral e alguns lieder (canções).


Suas peças mais conhecidas incluem:

  • Papillons (para piano);

  • Kinderszenen (para piano);

  • Fantasia em Dó Maior (para piano);

  • Kreisleriana (para piano);

  • Estudos Sinfônicos (para piano);

  • Carnaval (para piano);

  • Álbum para a Juventude (para piano);

  • 3 Sonatas para Piano;

  • Concerto para Piano em Lá Menor (para piano e orquestra);

  • Concerto para Violoncelo em Lá Menor (para violoncelo e orquestra);

  • Quarteto com Piano (para piano e trio de cordas);

  • Quinteto com Piano (para piano e quarteto de cordas);

  • As 4 Sinfonias.

Litografia de Schumann por Eduard Kaiser, cerca de 1850.
Litografia de Schumann por Eduard Kaiser, cerca de 1850.

Por conta de todos esses percalços, Shumann, que era um músico e compositor renomado e respeitado, jamais atingiu a fama. Clara, sim. Sua esposa viajava por toda a Europa levando seu piano elegante e técnico. Demorou a vingar como compositora (e ainda demora), mas como pianista chegava a ser tida como uma das maiores da Europa.


Aproveite a Playlist do Spotify abaixo, que contém virtualmente toda a obra de Robert. Na ordem - Piano, Câmara - Sinfônica.




 

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