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  • Foto do escritorRafael Torres

Entrevista com Luiz Cláudio Ramos - Papo de Arara

Atualizado: 28 de fev. de 2021

Um dos maiores arranjadores do Brasil há várias décadas, Luiz Cláudio Ramos já trabalhou com Dorival Caymmi, Elis Regina, Quarteto em Cy, Tom Jobim e, hoje, com Chico Buarque. Eu digo hoje porque eles trabalham lado a lado desde o final dos anos 80. Luiz é o arranjador e produtor musical de todos os discos e shows de Chico desde então. Veja aqui a lista com os discos do Chico favoritos da Arara.

Olá, maestro Luiz Cláudio Ramos. Obrigado por nos conceder essa entrevista com tanta prontidão.


1. Você nasceu e sempre viveu no Rio de Janeiro?


Nasci em Santa Teresa, aqui no Rio e sempre vivi aqui no Rio.


2. Me fale um pouco sobre as suas origens musicais. Muita música em casa? Teve professor?


A minha mãe era gaúcha, com uma família grande, muitos irmãos, todos músicos. Minha mãe tocava piano, cantava, tocava violão. Tias e tios, todos músicos. Piano, violoncelo, flauta, tinha bastante coisa.


Eu tive uma iniciação muito leve com o Ian Guest (compositor húngaro radicado no Brasil), na parte de música, teoria; e tive uma iniciação também muito leve com o Arthur Verocai no violão. Isso lá por 1967, por aí.


3. Meu pai me contou que, nos anos 70, ele comprava discos seus. Só não lembro se eram de violão ou se você cantava. Nunca consegui achar os discos, mas tenho imensa curiosidade. Quantos discos lançou de si mesmo?


Eu não tenho muitos discos, não. Meus, mesmo, eu tenho dois. Um com o Franklin (da Flauta), que a gente gravou, sei lá, uns dez anos atrás; e um que eu gravei no início dos 80 pra PolyGram, num projeto chamado MPBC.


Agora, tinha um cantor da geração do meu irmão - não falei, o meu irmão foi cantor, Carlos José, seresteiro, éramos 4, ele, o primeiro e eu, o mais novo - e tinha um amigo dele, Luiz Cláudio, mineiro. Acho que seu pai me confundiu com ele...


4. Você escreve para orquestra muito bem. Quando decidiu se tornar arranjador? Estudou orquestração?


Muito obrigado que eu escrevo muito bem. Eu sempre gostei de arranjar, de harmonizar, desde os primeiros grupos, ainda no colégio. Eu sempre gostava de harmonizar e fazer contracanto. E não estudei orquestração, não. Foi tudo na marra, mesmo. Eu tive muita prática, porque tive a sorte de entrar no mercado de trabalho, gravando discos, muito cedo, e eu peguei aquela fase áurea de gravação, em que a gente gravava, às vezes, várias vezes por dia.


E aí o Roberto Menescal foi muito importante na minha carreira, me incentivou a escrever e eu comecei. O primeiro disco que eu fiz foi o do Fagner, Manera Fru Fru.


5. Você trabalhou em vários discos do Chico Buarque antes de se tornar efetivo na banda dele, na posição que convencionamos chamar de “maestro” (e não vejo por que não). Como foi essa transição? Ele te convidou para fazer a produção musical de um disco – o Chico Buarque, de 1989?


Eu toco com o Chico há muito tempo, a primeira gravação que eu fiz com ele foi um arranjo do Edu Lobo, para Bárbara, isso no início dos anos 70. E a partir daí eu comecei a trabalhar com ele. Já naquele disco - no show - Chico e Bethânia, eu já participei da elaboração das harmonias junto com o Chico. Eu era o responsável pelas músicas do Chico. O Chico pensava parecido comigo - pensa parecido comigo. Há uma identificação, principalmente harmônica, ele gosta de inverter (acordes)...


E nesse meio tempo, o que resolveu a minha vida, foi que eu percebi uma tese de escalas - o que eu uso são 4 escalas, basicamente, para fazer todos os meus arranjos.


A transição. Aí eu participei de vários discos do Chico como músico. O primeiro arranjo que eu fiz pra ele completo, foi "Mulheres de Atenas". Porque na fase do Chico e Bethânia, quem fez os arranjos de orquestra foi o Maestro Gaya.


6. Você tem muito contato com a música erudita? Chega a ser um entusiasta?


Tive muito contato com música erudita, sim. Principalmente através da família da minha mãe, que tocava piano. E várias pessoas ligadas à família, sempre houve muita música lá em casa. E sou um entusiasta, sim. São os grandes mestres, né? Bach, Ravel, Chopin, Mozart, esses são talvez da minha maior admiração.


Sou um entusiasta da música clássica, sim.


7. Como é produzir um disco? Eu nunca tive um produtor, de modo que não faço ideia do que ele faz.


Produzir disco, depende muito do artista. Tem artistas que chegam com tudo pronto. Tem outros que não têm ideia do que querem, na verdade. Tem produtores que são ligados na parte da mídia, que têm ligações com a mídia, alguns não entendem nada de música... Tem outros ligados mais à parte técnica da produção do disco, pessoas que já sabem mixar, que têm ideia já da mesa.


Eu sou ligado à parte musical, sou um produtor musical. Elaboro os arranjos, me ligo mesmo é na parte da música.


8. Você já tocou com Tom Jobim, Edu Lobo, Chico, Caetano, Dori, e até Mick Jagger. Agora é só esperar a ligação do Paul McCartney (risos). Deve ter boas histórias.


Ah, tenho ótimas histórias, claro. São mais de 50 anos de profissão. Eu larguei a faculdade de medicina pra ser músico - fiz o primeiro ano da faculdade em 68, e em 69, logo no início, eu comecei a tocar com o Simonal, Wilson Simonal, que era um sucesso grande na época.


Com o Som Três do César (Camargo) Mariano, que era um dos meus ídolos de juventude. E é claro, aí tem muitas histórias.


9. Como é trabalhar com o Chico Buarque? Ele é exigente? Tem noção da importância dele para os fãs?


O Chico é o Chico, né? É muito fácil trabalhar com ele, e é claro que eu tenho noção da importância dele pro mundo.


"Exigente", eu não diria, não. Porque a parte musical... Porque tem outros artistas, por exemplo: o Francis (Hime) escreve, né? O Edu (Lobo) escreve, o Tom (Jobim) escrevia. O Djavan é muito musical - ele não tem conhecimento musical, mas tem uma grande musicalidade, assim como outros... João Bosco... Cada um tem o seu jeito. Mas o Chico, ele é "menos" músico, na acepção da palavra. Músico instrumentista. Do que esses outros, então ele não tem muito a vivência do músico instrumentista.


10. Tem alguma música específica que foi mais desafiadora de fazer arranjo?


Não, não tem música específica que tenha sido mais desafiadora, não. Cada música é um desafio, na verdade. E aí vão surgindo os problemas e a gente tem que resolver.


É isso. Grande abraço a todos.

 

Espero que tenham gostado. Vão conferindo o nosso disco "Argonautas Interpretam Edu Lobo", que eu estou aos poucos colocando no YouTube e aqui.


Por favor, comentem, fiquem à vontade. E apertem no coraçãozinho.


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