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Foto do escritorLeandro Krindges

O Visconde Partido ao Meio

O mundo é feito de dualidades. Quente e frio. Claro e escuro. Luz e Sombra. Amor e ódio. Mas acredito que entre as dualidades mundanas, nenhuma tem mais voga que a entre o bem e o mal. E é esta que Ítalo Calvino traz a baila no seu O Visconde Partido ao Meio, obra de 1952, que teve sua primeira edição brasileira em 1988. Ítalo nasceu em Cuba em 1923 e seguiu com seus pais, logo após seu nascimento, para a Itália. Formou-se em Letras e iniciou Agronomia, curso o qual abandou para se juntar à resistência ao fascismo durante a segunda guerra mundial, fazendo do cunho político uma presença assídua em suas obras.


Uma das edições italianas de O Visconde Partido ao Meio

Em O Visconde Partido ao Meio, Medardo di Terralba, o Visconde, vai para a guerra contra os turcos, acompanhado de seu escudeiro, Curzio. Lá pelas tantas, Medardo é atingido por um tiro de canhão que o manda pelos ares, partindo-o ao meio no sentido dos pés à cabeça (meu lado biólogo me força a trazer o termo correto: partindo-o em corte sagital). Durante a noite, período de trégua, duas carroças percorrem o campo de batalha: uma para os feridos, uma para os mortos. Do Visconde só se achou metade direita do seu corpo, a qual foi colocada na carroça dos feridos, levada ao hospital e tratada. Após sua “meia” recuperação, meio Medardo volta a Terralba, mas não parece o mesmo que a deixou para a guerra. Além do físico coberto parcialmente por uma capa escura, o visconde se tornou uma pessoa má (qual a relação entre direita e maldade? Olha o cunho político aí, gente!). Quem sabe foram as experiências da guerra que o deixaram assim. Tempos depois, certa confusão se forma ao perceberem a mudança de comportamento do Visconde, que se tornou caridoso e benevolente para com os seus. O que aconteceu realmente com o Visconde, deixo para vocês descobrirem quando lerem a peça de Calvino.



Ítalo Calvino

Mas o que “O Visconde Partido ao Meio” deixa como aviso, pelo menos para mim, é a questão do equilíbrio. Dualidades, na verdade, não são compostas por duas coisas, mas de apenas uma. Por exemplo: luz e sombra. A sombra nada mais é que a ausência de luz. Então podemos dizer que são duas coisas distintas, sendo que uma é apenas a ausência da outra? E onde começa a luz e termina a sombra, ou vice-versa? Onde começa o calor e termina o frio, sendo que o frio é apenas a ausência de calor?


Não temos como dizer onde começa uma e termina a outra, porque não são duas coisas limítrofes que são invadidas conforme a circunstâncias. São apenas a mesma coisa, em “estados diferentes”. Assim como o bem e o mal, abordados na obra do Visconde. Ser benévolo o tempo todo é benéfico e garante a felicidade de si e de outrem? E ser mau? Leiam a estória do Visconde que foi partido ao meio por uma bala de canhão na guerra religiosa entre cristão e mouros e tirem suas conclusões.




Curte literatura? Que tal uma lista com 10 livros diferentões pra ler como essa aqui?


Ou uma resenha do livro de terror mais badalado do momento?


E quem sabe um artigo sobre as principais escritoras argentinas da contemporaneidade?




LEANDRO KRINDGES é Técnico Químico de profissão, licenciado em Biologia por paixão, fã de Foo Fighters a Belchior e de tirinhas, especialmente Peanuts. Sempre teve curiosidade em saber o que se passava por trás das músicas, e essa busca se tornou um hobby. Tecladista da Banda Villa Rock, arranha também violão e guitarra. Aprendeu a gostar de ler depois do Kindle.

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