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resenha: a vegetariana de Han Kang


Han Kang fotografada por Jean Chung

O que será que se passa por trás desses olhos? Que tipo de terror, ira, dor ou inferno, que ela desconhece?”

A Vegetariana, da escritora sul-coreana Han Kang é o primeiro livro da autora publicado em seu país. Segundo a própria Hang Kang, ele surgiu da necessidade de explorar as outras facetas do conto The Fruit of My Wife ou O Fruto da Minha Esposa (em tradução livre), também da autora. O conto fala sobre uma mulher que para de se alimentar e se transforma em planta para, logo em seguida, se tornar uma árvore que recebe os cuidados do marido.

A autora afirmou em entrevistas que, mesmo após o conto publicado, ela ainda se sentia intrigada pela personagem e, portanto escreveu a novela A Vegetariana para tentar encontrar respostas e preencher as lacunas que ficaram abertas.


É difícil encaixar A Vegetariana em um gênero específico, não há elementos fantásticos ou outros que o caracterizem como um horror: trata-se de uma ficção com um alto teor de conflitos psicológicos. O livro é dividido em três partes, em cada uma delas, o marido, o cunhado e a irmã recontam a experiência de conviver com Yeonghye, uma mulher que, após um sonho enigmático, anuncia que decidiu se tornar vegetariana.


A decisão que parece simples é recebida pela família de Yeonghye com certa dose de exasperação. As reações exageradas vão escalonando à medida que a protagonista se separa da realidade, e o vegetarianismo é apenas um passo do seu processo que evolui até Yeonghye parar de ingerir alimentos e de se manter asseada. Cada estágio do seu processo vai descortinando as rachaduras da família, expondo casamentos infelizes, traumas de infância e relacionamentos abusivos.


Como as narrativas possuem perspectivas limitadas e raramente ouvimos Yeonghye, o que resta ao leitor são as percepções dos personagens através de narrativas que em algumas vezes soam dúbias, afinal não estamos falando de narradores confiáveis aqui.


Talvez seja esta a beleza de A Vegetariana, o motivo pelo qual foi premiado com o Man Book International Prize, a história repleta de camadas, vai se desdobrando aos nossos olhos, transbordando tantos significados e simbologias que é difícil ter certeza se o livro será decodificado após a leitura.


O vegetarianismo de Yeonghye é literal, mas carrega consigo uma rebeldia contra o status quo de uma sociedade tradicionalista. Ao quebrar uma convenção familiar a protagonista está rompendo não apenas com hábitos, mas também com a submissão ao marido, que a vê como uma mulher “adequada”, e também expõe a estranha obsessão que o cunhado sente por ela, revelando que a vida da irmã — a personagem aparentemente mais centrada da trama — também não é tão perfeita.


O livro trata de assuntos delicados para o público, com histórias que giram em torno de violência contra a mulher, abuso sexual e até o direito de acabar com a própria vida.


Não preciso dizer que tenho apreço por esse tipo de livro. A história que, a princípio, pode soar simples, é intrincada e deixa no leitor o desejo de compreender o motivo pelo qual Yeonghye não quer mais estar entre nós.


A Vegetariana, Han Kang

Publicado no Brasil pela @todavialivros

Tradução: Jae Hyung Woo





Fabiana Ferraz é escritora, autora do conto “A Mulher e o Vento”, finalista do III Prêmio ABERST na Categoria Narrativa Curta de Terror. Os gêneros pelos quais se aventura são: Terror Psicológico, Fantasia Obscura, Mistério e Ficção Histórica. Fabiana também é Co-Fundadora do Clube de Escrita Sorocaba.








Resenha Revisada por: Francisco Nogueira


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