+ Top 10 Sinfonias para vocĂȘ escutar sem erro
- Rafael Torres
- 25 de out. de 2020
- 12 min de leitura
Terceira lista, desta vez vamos fugir do Ăłbvio em algumas delas. E preparem-se para a lista das Sinfonias Menos Conhecidas que Merecem Ser Mais Conhecidas (tĂĄ, eu depois vejo esse nome), que virĂĄ. Vou tentar seguir ordem cronolĂłgica, e garanto que, das 30 sinfonias de que falei, poderĂamos fazer qualquer seleção com 10.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 - 1791) - Sinfonia NÂș 41 "JĂșpiter" (1788)
A mais sofisticada sinfonia de Wolfgang Amadeus Mozart Ă© uma obra madura. No começo eu nĂŁo ligava muito pra ela, mas ela se revela complexa e engenhosa, apĂłs anĂĄlise. No primeiro movimento ele parece desenvolver o primeiro tema antes de apresentar o segundo; tem passagens fugadas; apresenta temas fantasmas (que vĂȘm por baixo do que vocĂȘ estĂĄ escutando); alĂ©m de o desenvolvimento ser arrebatador.
NĂŁo Ă© uma tĂpica doce peça de Mozart. Ă como se ele tivesse querido dar uma importĂąncia maior a essa que Ă© a sua Ășltima sinfonia (nĂŁo que ele soubesse que ia morrer 3 anos depois).
O segundo movimento (13m29s) parece que vai ser uma plåcida sarabanda, mas às vezes irrompe em direçÔes mais tenebrosas. Depois temos um agradåvel minueto - trio - minueto (26m46s). Mas o que se segue é um dos finales (31m54s) mais desafiadores para o ouvinte. Ele contém 5 pequenos temas que vão se acumulando e, no final, são combinados das mais diferentes formas para fazer uma grande e magistral fuga (vou escrever posteriormente sobre fuga).
O nome "JĂșpiter" nĂŁo foi dado por Mozart, mas deve sua origem Ă comparação entre a peça e o tempestuoso planeta.
GravaçÔes recomendadas: Orquestra FilarmÎnica de Berlim (Berliner Philharmoniker), regente: Simon Rattle - Orchestra Mozart, regente: Claudio Abbado
Ludwig van Beethoven (1770 - 1827) - Sinfonia NÂș 6 "Pastoral" (1808)
Mais uma sinfonia de Ludwig van Beethoven, essa de 1808, completamente reconhecĂvel, a sexta deve parte de sua popularidade Ă sua inclusĂŁo no filme Fantasia, da Disney. Mas sĂł parte. Ela jĂĄ era uma obra muito bem conhecida e estabelecida no repertĂłrio de orquestras e ouvintes.
Acontece que ela Ă© uma peça Ășnica nas pĂĄginas sinfĂŽnicas do compositor, completamente desprovida do que eu chamo de "a raiva de Beethoven", um tipo de fĂșria e Ămpeto que ele impregnava em todas as suas obras (mesmo, Ă s vezes, nos movimentos mais lentos).
A Pastoral, nĂŁo. Ele a fez calma e contemplativa, quase meditativa. Ele deu a seus movimentos nomes que descrevem bem o estado de espĂrito que queria carregar:
Alegre despertar de sentimentos na chegada ao campo
Cena Ă beira de um regato (10m51s)
Dança das pessoas do campo (22m40s)
TrovĂŁo, tempestade (28m29s)
Canção dos pastores. Sentimentos de alegria e gratidão após a tempestade (32m29s)
Como se pode ver, sĂŁo alusĂ”es bem tranquilas, exceto pela tempestade, maravilhosamente orquestrada. AliĂĄs, a orquestração, nessa peça, Ă© especial. No segundo movimento ele usa a flauta, o clarinete e o oboĂ© para simular pĂĄssaros; no quarto, usa os tĂmpanos para representar os trovĂ”es e as cordas para representar a ventania; no quinto, quando a chuva foi embora, usa os violoncelos em pizzicato para imitar aquelas gotinhas que caem das ĂĄrvores depois da chuva...
Beethoven tem fama de ter sido ranzinza, mas nessa mĂșsica, ele jogou seu amargor fora e fez uma das partituras mais encantadas que conhecemos.
GravaçÔes recomendadas: Orquestra SinfÎnica da Rådio Båvara (Bavarian Radio Symphony), regente: Mariss Jansons - Orquestra Filarmonia (Philharmonia Orchestra), regente: Otto Klemperer
Anton Bruckner (1824â1896) - Sinfonia NÂș 7 (1883)
Primeira vez em que eu coloco uma sinfonia de Anton Bruckner. Ele compĂŽs 9 (na verdade, 11, mas chamava uma de "Sinfonia Nula", ou 0, e a outra de Sinfonia 00). Ă que ele tinha um problema muito grande com a prĂłpria obra. Nunca considerava uma peça pronta. AtĂ© hoje um regente e uma orquestra tĂȘm que escolher qual edição de determinada sinfonia vĂŁo usar, porque o prĂłprio fazia vĂĄrias alteraçÔes em uma sinfonia mesmo depois da estreia. Ă o chamado "Problema Bruckner". Verdade, esse bilete. NĂŁo estou inventando nada.
Pois bem, a sĂ©tima Ă© a mais conhecida e amada (talvez junto com a 4ÂȘ). Enquanto Bruckner a compunha, seu grande Ădolo, Richard Wagner ficou doente, vindo a falecer. Ă por isso que Bruckner o homenageia na obra, com um segundo movimento elegĂaco. E ele usa a Tuba de Wagner, um instrumento criado por encomenda de Wagner ao luthier Adolphe Sax (o mesmo que inventou o Saxofone), para preencher o vĂŁo que existia entre trompas e trombones.
A obra Ă© lindĂssima, ainda que escorregadia: muitas vezes parece se dilatar alĂ©m do necessĂĄrio, com grandes, exuberantes acordes e texturas orquestrais etĂ©reas. SĂł pra, aos 12 minutos nos surpreender com uma nota mais incisiva.
O segundo movimento (21m23s) Ă© um golpe de gĂȘnio. Um adagio belĂssimo. A sinfonia gravita em torno dele. Por vezes lembra Beethoven, para entĂŁo virar um longo e baldio movimento Wagneriano.
O terceiro, scherzo e trio (43m10s), Ă© muito inventivo e divertido. A orquestração peculiar de Bruckner, herdeira da de Wagner, funde os instrumentos de sopro com as cordas. VocĂȘ raramente tem um solo prolongado de oboĂ©, por exemplo. Em vez disso, tem pequenas frases de um instrumento ou de outro: ora uma flauta se ergue para logo sumir; ora um trompete toca trĂȘs notinhas e volta a se perder dentro da textura orquestral. Maravilhoso.
O finale (53m33s) Ă© igualmente engenhoso. Dessa vez temos vĂĄrios momentos individuais de instrumentos de sopro. Ou de pequenos conjuntos de sopro. Ă uma sinfonia maravilhosa. Mesmo eu, que nĂŁo entendo de Bruckner, tenho que me curvar a ela. Como todo prazer.
GravaçÔes recomendadas: Orquestra FilarmĂŽnica de Munique (MĂŒnchner Philarmoniker), regente: Valery Gergiev - Orquestra do Concertgebouw de Amsterdam (Concertgebouworkest), regente: Bernard Haitink
Johannes Brahms (1833 - 1897) - Sinfonia NÂș 4 (1885)
A quarta de Johannes Brahms Ă© uma das maiores obras primas jĂĄ realizadas. Talvez seja, tecnicamente, a mais bem feita do compositor. Começa com duas notinhas nos violinos, num salto descendente. Com isso, assim como na 5ÂȘ de Beethoven, temos material para todo o primeiro movimento. NĂŁo que seja essa a Ășnica ideia com que ele vai trabalhar, mas Ă© a principal. Duas notas descendentes seguidas por duas ascendentes. Como esse primeiro tema Ă© de notas curtas, o segundo Ă© de notas bem longas, nos violoncelos.
O segundo movimento (12m50) Ă© de tirar o fĂŽlego. Começa com uma espĂ©cie de anĂșncio na trompa (12m53s). Quando os clarinetes repetem a ideia (13m13s, no vĂdeo acima), jĂĄ Ă© com uma aura contemplativa e sossegada. Lindos corais de sopros, nesse começo. Brahms usa um artifĂcio que costuma usar: começa o movimento lento com os sopros para que, quando entrem os violinos (15m25s), eles tragam toda a sua luz. Um coral de cordas representa a ideia central do movimento (16m20s e 20m17s).
O terceiro movimento (23m32s) Ă© um Scherzo vivo e alegre. Ele emprega um triĂąngulo, que dĂĄ uma cor divertida.
E aos 29m40s tem inĂcio o grave finale. Ă uma Passacaglia, ou seja, ele oferece, de cara, nĂŁo um tema, mas uma sequĂȘncia de acordes por onde ele vai desenvolver as mais diversas ideias. As minhas favoritas sĂŁo nas cordas (30m34s), na flauta (32m35s), solitĂĄria e desolada, sĂł que linda, e nos metais (33m45s), nobre e confiante.
GravaçÔes recomendadas: Orquestra FilarmÎnica de Viena (Wiener Philharmoniker), regente: Karl Böhm - Orquestra FilarmÎnica de Berlim (Berliner Philharmoniker), regente: Herbert von Karajan
Camille Saint-SaĂ«ns (1835 - 1921) - Sinfonia NÂș 3 "Com ĂrgĂŁo" (1886)
Nessa sinfonia, o compositor francĂȘs Camille Saint-SaĂ«ns usou tudo que podia, na orquestra. Isso inclui um ĂłrgĂŁo (nem toda sala de concerto tem um - Karajan, quando gravou, foi criticado por gravar, em Berlim, a orquestra primeiro e, depois, em Paris, o ĂłrgĂŁo), um piano a 2 e a 4 mĂŁos, e diversos instrumentos de percussĂŁo.
Ela começa estabelecendo um clima, com uma introdução larga. Mas logo as cordas assumem um carĂĄter mais urgente. Ă uma mĂșsica fĂĄcil de gostar, mas nĂŁo estou dizendo que seja rasa. O primeiro movimento se divide em trĂȘs sessĂ”es: a introdução, de que jĂĄ falei, o Allegro Moderato (1m18s) e o belo e contemplativo Poco Adagio (10m42s), com suas sensuais cordas e o ĂłrgĂŁo ao fundo. Esse movimento Ă© muito lindo.
Aos 20m54s começa o segundo movimento, também dividido. Só que em 4 sessÔes. Allegro Moderato, Presto, Maestoso e Allegro. Seu final é brilhante e a escrita orquestral, digna de nota.
Gravação recomendada: Orquestra FilarmÎnica de Seul (Seoul Philharmonic), regente: Myung-Whun Chung, ao órgão: Dong-ill Shin
Pyotr Tchaikovsky (1840â1893) - Sinfonia NÂș 6 "PatĂ©tica" (1893)
A sexta Ă© a mais celebrada de Pyotr (Pedro) Tchaikovsky foi intitulada por ele de o que se pode traduzir como "Sinfonia Sentimental" ou "Sinfonia Emocional". Na tradução, usou-se o francĂȘs "PathĂ©tique", que quer dizer emotivo. E aĂ a gente ainda traduz pro portuguĂȘs, em que patĂ©tico significa algo realmente mal sucedido... Mas ela Ă© isso: uma sinfonia passional. E muito bem sucedida, desde a estreia.
O primeiro movimento começa soturno, uma introdução nos fagotes, mas logo dĂĄ lugar a uma agitação meio tumultuada. Mas seu tema central Ă© a belĂssima melodia (5m17s) que todos conhecem, resignada e algo solene. Como diria Artur da TĂĄvola: "Tchaikovsky, o rei da melodia...". O movimento tem vĂĄrias perturbaçÔes e Ă© de grande proporção.
No segundo movimento (19m11s) ele faz uma quase valsa, em tempo 5/4. Ă gracioso como uma valsa, mas uma valsa bamba, porque vocĂȘ conta 1, 2, 3, 1, 2, ... fica faltando o segundo trĂȘs.
O terceiro movimento (27m29s) Ă© um Allegro Molto Vivace, muito nervoso e que nos faz sentir falta de ar. Termina de forma triunfante, e vocĂȘ jura que a obra acabou. Mas vem o quarto (36m38s) e Ășltimo. Ao contrĂĄrio da maioria das sinfonias, em que o finale Ă© de triunfo e alegria, nesta ele Ă© um fĂșnebre e sĂ©rio Adagio Lamentoso. Termina da maneira mais fantĂĄstica e eloquente possĂvel. Que Ă© com o silĂȘncio. NĂŁo estĂĄ na partitura, mas, como vocĂȘ pode ver no vĂdeo, depois da Ășltima nota o pĂșblico parece nĂŁo querer quebrar algo muito frĂĄgil. Por uns 30 segundos nĂŁo ouvimos aplausos.
Muitos supĂ”em que Ă© uma carta de suicĂdio. Tchaikovsky, depressivo, sem poder assumir publicamente sua homossexualidade, escreve uma sinfonia que vai morrendo. E, 9 dias depois, ele mesmo tem uma morte que, aceita-se, foi planejada. Eu acredito nisso, pessoalmente. Que ele concebeu a sinfonia como um RĂ©quiem. Pode nĂŁo ter sido nada disso, pode ser que ele nĂŁo planejasse morrer, e que tenha bebido aquele copo com ĂĄgua contaminada por acidente. Enfim, embora seja funesta, sĂł existe muita beleza nessa obra tĂŁo maravilhosa.
GravaçÔes recomendadas: Orquestra FilarmÎnica de Berlim (Berliner Philharmoniker), regente: Herbert von Karajan - Orquestra FilarmÎnica de Nova Iorque (New York Philharmonic), regente: Leonard Bernstein
Gustav Mahler (1860â1911) - Sinfonia NÂș 9 (1910)
Vou indicar a minha sinfonia favorita do austrĂaco Gustav Mahler. Sua Ășltima. Tanto medo ele tinha da "maldição da nona" que começou imediatamente a prĂłxima. Mas a maldição da nona Ă© sagaz. E o flagrou nos esboços da dĂ©cima.
RomĂąntico tardio, Mahler Ă© hoje adorado por suas sinfonias. JĂĄ o era em vida, mas enquanto um compositor existe, ele nĂŁo sabe se sua mĂșsica serĂĄ escutada em 50 anos. Pois ele morreu hĂĄ mais de um sĂ©culo e suas obras, algumas absolutamente extravagantes, em minha opiniĂŁo (sua 8ÂȘ Sinfonia Ă© chamada "Sinfonia dos Mil", por causa do exagero de mĂșsicos e coros e solistas que emprega), sĂŁo cada vez mais executadas.
A nona nĂŁo Ă© extravagante senĂŁo no comprimento. E olhe que nem estĂĄ entre as mais longas. Mas merece sua hora e meia de atenção. Eu tenho que reconhecer que Ă© um grande compositor, embora um que eu nĂŁo o compreenda (por enquanto, espero). A ambiguidade harmĂŽnica dessa peça Ă© muito charmosa. Por vezes ele prepara um acorde e toca outro. Ăs vezes vocĂȘ espera maior e vem menor, ou vice-versa. A instrumentação Ă© igualmente digna de atenção, Ă s vezes uma flauta ou um violino solo se atrevem um pouco sĂł para serem logo engolidos pela textura maior da orquestra. Outro Wagneriano.
Por vårias vezes Mahler emprega de maneira muito consciente o contraponto (a utilização de melodias paralelas), chegando a escrever uma fuga dupla.
TambĂ©m Ă© uma mĂșsica elegĂaca, embora com um carĂĄter muito mais resignado que a de Tchaikovsky. Mahler havia acabado de perder sua filha Anna Maria e de descobrir a doença cardĂaca que o levaria Ă morte. E, tambĂ©m nessa sinfonia, a Ășltima nota vai se esvaindo (o prĂłprio compositor escreveu na partitura: morrendo).
GravaçÔes recomendadas: Orquestra FilarmÎnica de Berlim (Berliner Philharmoniker), regente: Claudio Abbado - Orquestra FilarmÎnica de Seul (Seoul Philharmonic), regente: Myung-Whun Chung
Dmitri Shostakovich (1906â1975) - Sinfonia NÂș 7 "Leningrado" (1941)
Se contarmos as trĂȘs listas, incluĂ trĂȘs sinfonias de Dmitri Shostakovich. SĂŁo minhas favoritas, mas tambĂ©m as favoritas do pĂșblico. O compositor dedicou esta Ă cidade de Leningrado (agora, SĂŁo Petersburgo), que estava sitiada pelas forças nazistas.
SĂł o gigantesco 1Âș movimento dura quase meia hora. Um ostinato na caixa clara engloba um imenso crescendo da orquestra. O movimento lembra uma marcha. Simula um exĂ©rcito invasor, sirenes, tiros, a mĂșsica vai ficando mais nervosa, quase nervosa demais atĂ© que descansa. Temos entĂŁo um solo de flauta (21m09s), um de clarinete (21m48s) e um de fagote (22m30s). Um por vez. Parece aquela pausa na batalha pra recolher os mortos. Uma pessoa catando um corpo especĂfico... Ele segue mais tranquilo atĂ© terminar simplesmente.
O segundo movimento (29m16s) Ă© um Scherzo (movimento ligeiro e, nesse caso, sarcĂĄstico). Começa muito leve, nem parece que se refere a uma guerra. Temos lindos solos de oboĂ© (30m44s), de corne inglĂȘs (32m09s), entĂŁo entram os violoncelos, os violinos, depois em pizzicato atĂ© que hĂĄ uma perturbação, um novo tema que torna o movimento um bocado mais tenso. Quando ele se aquieta, temos oportunidade de ouvir o maravilhoso clarone, o parente grave do clarinete (36m59s). E aĂ o movimento, o mais curto da sinfonia, termina placidamente.
O terceiro (40m54s) lembra mĂșsica religiosa. Os corais russos com seus baixos profundos. Claro que Ă© trĂĄgico, como um RĂ©quiem ou uma PaixĂŁo. Sua seção central repete a do movimento anterior. Uma melodia simples (49m01s) vai ficando mais forte, como uma linha que Ă© esticada, atĂ© que arrebenta. E aĂ temos mais evocaçÔes Ă batalha, lembrando o primeiro movimento. Mas, assim como no segundo, ele eventualmente se acalma, terminando novamente com tranquilidade, mas jĂĄ ligando com o movimento seguinte.
O quarto (1h1m14s) começa com essa tranquilidade, mas tambĂ©m com algo ameaçador no ar. Essa ameaça vai se tornando evidente, depois palpĂĄvel, depois obsessiva. Ă um movimento turbulento e altamente bĂ©lico. Sua conclusĂŁo Ă© triunfante, como que para mostrar o predomĂnio das tropas soviĂ©ticas sobre as nazistas. VocĂȘs podem escutar vĂĄrios recursos de orquestração, como o pizzicato de BartĂłk (1h6m38s), em que o mĂșsico pinça a corda atĂ© o alto e solta de modo que ela bate na escala do instrumento, quase como uma chicotada.
Gravação recomendada: Dresdner Philharmonie, regente: Michael Sanderling
Olivier Messiaen (1908â1992) - Sinfonia Turangalila (1948)
Muitos vĂŁo te dizer que essa sinfonia usa o theremin, o instrumento hipster favorito. Mas o que ela usa Ă© um Ondes Martenot, que tem um princĂpio similar. Ă a cara daquelas mostras mundiais que ocorriam nas maiores cidades europeias, em que inventores, artistas e as mais diversas atraçÔes eram expostas, muitas vezes pela primeira vez, ao mundo. NĂŁo Ă© theremin, mas Ă© parecido.
Ondes Martenot tocado por Thomas Bloch
Além disso, Olivier Messiaen usa um piano solo. Tanto seu papel é proeminente, que ele fica na frente da orquestra.
Peça muito moderna, é extremamente complexa e longa. Foi encomendada pela Orquestra SinfÎnica de Boston, com seu regente Serge Koussevitsky. A estreia foi regida pelo onipresente Leonard Bernstein. Ela abriu caminho para o Serialismo Integral (e pelo amor de deus, não me pergunte o que é isso. Longa história...)
Ele pede uma orquestra muito grande (10 contrabaixos, quando o normal Ă© entre 6 e 8; mais de 10 instrumentos de percussĂŁo) e a utiliza com maestria.
Ela tem 10 movimentos, que vĂŁo de 4 a 11 minutos. Embora seja altamente atonal, a peça Ă© agradĂĄvel, se vocĂȘ escutar com uma atitude aberta. E se vocĂȘ escutar com a atitude certa, perceberĂĄ que Ă© genial!
Recomendo que nĂŁo escute de uma vez. Pode ser um tanto embriagante e cansativa, no começo. Messiaen a concebeu como um canto de amor, e os movimentos sĂŁo intitulados com nomes como "Canção de Amor", "Jardim do Sono de Amor", "Desenvolvimento do Amor" etc. Parece brega, mas a mĂșsica nĂŁo tem nada de cafona.
Espere por acordes ultra dissonantes, instrumentaçÔes alternativas, melodias com saltos estranhos e ritmos confusos.
GravaçÔes recomendadas: Orquestra da Ăpera da Bastilha (Orchestre de l'Opera Bastille), regente: Myung-Whun Chung, piano: Yvonne Loriod, ondes martenot: Jeanne Loriod (as irmĂŁs Loriod estrearam a peça com Bernstein. Yvonne tornou-se esposa de Messiaen) - Orquestra Real do Concertgebouw de Amsterdam (Royal Concergebouw Orchestra), regente: Riccardo Chailly, piano: Jean-Yves Thibaudet, ondes martenot: Takashi Harada
Ralph Vaughan Williams (1872â1958) - Sinfonia NÂș 7 "Sinfonia Antartica" (1952)
A 7ÂȘ do compositor inglĂȘs Ralph Vaughan Williams (pronuncia-se RĂȘif Von Williams) Ă© uma de que gosto, que emprega voz. Uma soprano e um coro. Ă que elas sĂŁo usadas como instrumento, nĂŁo cantam palavras. Ele usa tambĂ©m uma mĂĄquina de vento, instrumento de percussĂŁo que simula o som do vento.
Os grandes mestres ingleses do começo do sĂ©culo XX influenciaram muito a mĂșsica de cinema. Mais ainda quando era pedido que fizessem mĂșsica para cinema. Vaughan Williams fez a trilha sonora do filme "Scott of the Antartic", em 1948. E dessa trilha ele retirou as ideias para sua Sinfonia Antartica.
A sinfonia Ă© gelada. Gelada, mesmo. VocĂȘ pode sentir frio com a simulação de vento, com o coro totalmente feminino a orquestração esparsa.
Ă uma mĂșsica de efeito, mas, se vocĂȘ entrar no clima, ela te leva pra situação de estar perdido na AntĂĄrtida. Scott, personagem real que montou uma expedição no continente gelado para achar o polo sul, acabou tendo que voltar, devido Ă s pĂ©ssimas condiçÔes climĂĄticas. Mas, na volta, a equipe nĂŁo resistiu e foi morrendo. Sozinho, preso em sua tenda, Scott escreve no seu diĂĄrio, que foi achado algum tempo depois, palavras eternas.
Essas anotaçÔes cruas e os nossos corpos mortos devem contar a histĂłria, mas certamente, certamente, um grande e rico paĂs como o nosso cuidarĂĄ para que aqueles homens que sĂŁo dependentes de nĂłs sejam apropriadamente abastecidos (em expediçÔes).
GravaçÔes recomendadas: Orquestra SinfÎnica de Londres (London Symphony), regente: André Previn - Orquestra FilarmÎnica de Londres (London Philharmonic), regente: Bernard Haitink
Sobre cada sinfonia, dessa lista e das outras, escreverei, eventualmente, textos mais elucidativos. Espero que tenham gostado do Top 10, que vai para a sessĂŁo Topping Toppers. E que alguma sinfonia tenha cativado vocĂȘ e instigado a dar uma escutadela. Fique Ă vontade para comentar o que quiser.