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Foto do escritorMarcelo Bonavides de Castro

Francisco Alves – O Rei da Voz

Atualizado: 23 de nov. de 2020

Um dos maiores cantores brasileiros de todos os tempos foi, sem dúvida, Francisco Alves, conhecido como O Rei da Voz. Hoje, praticamente esquecido, ele foi o principal nome de nossa música popular do final da década de 1920 até 1952, ano de sua morte.

Francisco de Morais Alves nasceu no Rio de Janeiro, em 19 de agosto de 1898. Seus pais eram portugueses e ele tinha um irmão, José, e várias irmãs, entre elas, Ângela, Carolina e Nair. José faleceu precocemente em 1918, vitimado pela Gripe Espanhola, e Nair Alves, já no final da década de 1910, era uma conhecida atriz de nosso Teatro de Revista. Nessa época, o jovem Francisco Alves iniciou carreira seguindo os passos da irmã, no teatro musicado. Recebeu o apelido de Chico Viola da atriz Zazá Soares, a Bela Zazá.

Em outubro de 1919, o compositor José Barbosa da Silva (Sinhô) que entraria para a história como O Rei do Samba, levou Francisco Alves, então com 21 anos de idade, para gravar seu primeiro disco. Chico e suas sobrinhas (que fariam o coro) seguiram para a gravadora A Popular, de propriedade do casal Chiquinha Gonzaga e João Batista Gonzaga, que era instalada no quintal deles. Aí, o iniciante cantor gravou três músicas de Sinhô: O Pé de Anjo, marcha; Fala, meu Louro (Papagaio Louro), samba e Alivia esses Olhos, samba. O Pé de Anjo seria um dos grandes sucessos no Carnaval de 1920, sendo também o nome de uma revista carnavalesca de muito sucesso de nosso Teatro de Revista.

Entre 1920 e 1926, Francisco Alves se dedicou ao teatro musicado e gravou alguns discos por volta de 1924, pelo selo Odeon Record. Neste mesmo selo, voltaria a gravar com regularidade em 1926, tendo seus discos lançados ao longo de 1927, ainda no processo mecânico de gravações, realizados pela vibração da voz dos intérpretes. Em 1927, quando foi instalado o processo de gravação elétrica no Brasil, Francisco Alves foi o primeiro cantor a gravar nessa nova tecnologia, interpretando na Odeon o samba Passarinho do Má e a marcha Albertina, ambas de Amorim Diniz (Duque). Ao final da década de 1920, ele era o mais popular cantor de nosso país, gravando com frequência pela Odeon, tendo gravado alguns discos Odeonete e na Parlophon (subsidiária da Odeon).

É interessante perceber que enquanto gravava na Odeon, ele assinava os discos como Francisco Alves e, no mesmo período, gravando na Parlophon, assinava Chico Viola, sendo um dos poucos ou o único cantor de seu tempo a concorrer consigo mesmo nas vendagens de discos.

No final da década de 1920, Francisco Alves lançou compositores como Ismael Silva. Por essa época, era prática comum a compra e venda de músicas e Chico comprou algumas composições de Ismael Silva, aparecendo como co-autor. Porém, Chico Alves também compunha músicas e melodias, sendo um bom violonista (gravou alguns solos de violão, inclusive em parceria com Rogério Guimarães). Entre a composições de sua autoria podemos destacar as canções Tormento e Lua Nova, em parceria com Luiz Iglezias; os sambas Zomba e Vadiagem; e a célebre canção A Voz do Violão, em parceria com Horácio de Campos, entre muitas outras.

A década de 1930, com o sucesso do rádio no Brasil, aumentaria o prestígio de Francisco Alves, sendo o cantor mais popular e bem sucedido do país. Igual a ele, só Carmen Miranda. Chico Alves brilhava no disco, excursionava por estados e pela Argentina, fazia shows, se apresentava em cassinos e ainda aparecia em filmes musicais, como Alô, Alô Carnaval (1936), Laranja da China (1940), Berlim na Batucada (1944), onde também atuou, além de cantar.

Em 1938, Francisco Alves veio a Fortaleza, atuando na Ceará Rádio Clube, a convite de João Dummar.

Francisco Alves teve como segunda companheira a atriz e dançarina Célia Zenatti, que se destacou no Teatro de Revista da década de 1920. Eles estiveram casados por vinte e oito anos, separando-se anos antes de Chico falecer. Célia, porém, seria considerada por todos a viúva de Francisco Alves.

Entre os artistas que lançou estão: Orlando Silva, por volta de 1934, e João Dias, ao final da década de 1940. João Dias tinha a voz muito parecida com a de seu descobridor.

Esse astro tão importante de nossa música foi quem mais gravou discos 78 rpm em sua época, registrando os mais variados estilos de músicas, gravando em primeira mão clássicos como Aquarela do Brasil (1939), de Ary Barroso, e cantando não somente sozinho, mas ao lado de outros artistas: Mário Reis, em uma bem sucedida e curta parceria; Célia Zenatti, sua esposa; Carmen Miranda; Aracy Côrtes; Gilda de Abreu; Gastão Formenti; Castro Barbosa, além de uma série de gravações com Dalva de Oliveira. Aliás, se ele era O Rei da Voz, Dalva era A Rainha da Voz, devido às suas belas e potentes vozes.

Toda a fama, prolongada ao longo da década de 1940, e o prestígio de Francisco Alves foram interrompidos no fim da tarde de 27 de setembro de 1952. Ao voltar para o Rio de Janeiro após um show em São Paulo (ele não gostava de viajar de avião), seu carro se chocou com um caminhão na Via Dutra, na altura da cidade de Pindamonhangaba (SP). No impacto, o motorista foi arremessado para fora do carro, sobrevivendo. Francisco Alves faleceu no impacto, tendo seu corpo preso às ferragens e carbonizado no incêndio que tomou conta do veículo. Seu velório e enterro foram um dos mais concorridos do Rio de Janeiro, igualando-se somente ao de Getúlio Vargas (1954) e ao de Carmen Miranda (1955).

Pouco depois de sua morte, Chico Alves foi homenageado em gravações e até em filme. Mas, como é comum no Brasil, o tempo vai apagando da memória coletiva o nome de grandes artistas do passado. Infelizmente, ainda hoje muitas pessoas acham que não “combina” a convivência do “novo” com o “antigo”, sendo este último apagado. Mas, como há exceções, o nome e a obra de Francisco Alves ainda resiste e é lembrado por jovens fãs, que vão conhecendo suas gravações, e por pesquisadores/colecionadores que, ao longo de décadas, vão preservando os discos, fotografias e, até, filmes desse cantor que um dia recebeu o título de O Rei da Voz.

 

MARCELO BONAVIDES DE CASTRO


Jornalista, Historiador, Pesquisador Musical e Ator

Blog: Arquivo Marcelo Bonavides (marcelobonavides.com)






Ficha Técnica das Fotos

(Todas as fotos são do Arquivo Nirez)

FRANCISCO ALVES, 1930 Arquivo Nirez

FRANCISCO ALVES em Fortaleza (CE), 1938 Arquivo Nirez

FRANCISCO ALVES Arquivo Nirez

Ficha Técnica das Músicas

(Todas as gravações foram retiradas de discos 78 rpm pertencentes ao Arquivo Nirez)

PASSARINHO DO MÁ

Samba de Antônio Amorim Diniz (Duque)

Gravado por Francisco Alves

Acompanhamento da Orquestra Pan American do Cassino Copacabana

Disco Odeon 10.001-B, matriz 1163

Lançado em julho de 1927

ORA VEJAM SÓ

Samba de José Barbosa da Silva (Sinhô)

Gravado por Francisco Alves

Acompanhamento da Orquestra Pan American do Cassino Copacabana

Disco Odeon 10.128-A, matriz 1506

Lançado em fevereiro de 1928

A VOZ DO VIOLÃO

Canção Brasileira de Francisco Alves e Horácio de Campos

Gravada por Francisco Alves

Acompanhamento da Orquestra Rio Artists

Disco Odeon 10.509-B, matriz 3016

Gravado em 01 de outubro de 1929 e lançado em dezembro de 1929

BEM TE VI

Modinha de Miguel Emídio Pestana e Melo Morais Filho

Gravada por Francisco Alves

Acompanhamento de Tute ao Violão e Luperce Miranda ao Bandolim

Disco Odeon 10.709-B, matriz 3926

Gravado em 28 de agosto de 1930 e lançado em novembro de 1930

BOA NOITE, AMOR

Valsa de José Maria de Abreu e Francisco Mattoso

Gravada por Francisco Alves

Acompanhamento da Orquestra Victor Brasileira

Disco Victor 34.052-A, matriz 80111-1

Gravado em 03 de abril de 1936 e lançado em maio de 1936


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A Arara Neon é um blog sobre artes, ideias, música clássica e muito mais. De Fortaleza, Ceará, Brasil.

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