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Foto do escritorNílbio Thé

Argonautas: Jangada Azul - Faixa a Faixa

Atualizado: 4 de out. de 2020


O quarteto Argonautas lançou em 2018 seu segundo álbum oficial, Jangada Azul, 9 anos após seu primeiro disco oficial Interiores. Criado na segunda metade dos anos 1990, o grupo é composto pelos amigos de colégio Rafael Torres, Raphael Gadelha e Ayrton Pessoa. Todos com uma formação em diversos instrumentos e um horizonte musical que passeava bastante pela música erudita, jazz, rock dos anos 60, tango e, sobretudo, música brasileira tradicional e popular.


Ao conhecer o poeta Alan Mendonça, Ayrton (o Bob) compôs sua primeira canção. Então eles passaram a tentar usar os conhecimentos de harmonia erudita na composição de músicas em ritmos brasileiros e daí muita coisa aconteceu. Ganharam um prêmio pela composição Guerra dos Brincantes, de Raphael Gadelha (baixo, violão, flauta) e Alan Mendonça. O mesmo Raphael mudou de cidade, algumas formações vieram e se foram. Gravaram um CD demo caseiro e, em 2009, lançaram Interiores, um disco sério e simples em parceria com Ronaldo Lage (percussões e bateria) e Germano Lima (baixo). Atualmente com Igor Ribeiro (bateria e percussões) e Ednar Pinho (contrabaixo acústico). O epicentro de composições ainda fica concentrado na dupla de multi-instrumentistas e vocalistas Rafael Torres (clarinete, flauta, acordeão, piano, viola caipira, violão, guitarra) e Ayrton (piano, acordeão, violão, bandolim, viola caipira, sintetizador, guitarra), que agora, com novas parcerias e um universo musical expandido, nos trazem um álbum leve e vigoroso com novas composições, novas parcerias e músicas do início da banda que nunca foram gravadas.


A despeito de já ter dois anos de idade, eu continuo achando que o álbum não teve a devida atenção, o que justifica, na minha cabeça, uma análise faixa a faixa. Vamos a ela!


Faixa a Faixa do Jangada Azul


1. Mareia

De Rafael Torres, uma canção com arranjos vocais e uma letra cheia de aliterações, trata-se de uma súplica sertaneja com uma elegante linha de baixo e uma sanfona preenchendo a música. Apesar de letra triste, porém esperançosa no momento em que vira uma oração a Iemanjá, é uma música em Lá maior, alegre, com belos acordes abertos realmente evocando a luz e o calor de que fala a letra.


2. Ilação

Uma cantiga/toada a três vozes tendo como instrumentos principais apenas violão, metalofone e alguns “instrumentos flutuantes”, como um piano, e com uma letra que mais parece uma brincadeira de criança. A mais singela do disco e uma das mais antigas do grupo, só registrada agora e que remete a alguns dos melhores momentos da música mineira dos anos 60 e 70.


3. Fortaleza

Um sarcástico bolero-ode ao ato de fazer música e arte na cidade de Fortaleza. Parece uma canção que deveria ter entrado em Interiores. Apesar de não ser uma bossa nova, percebe-se a influência de Tom Jobim nos arranjos.


4. Aqui Nesta Ilha

Música de Ayrton sobre um texto de Joyce Nunes. Com uma harmonia de poucos acordes (algo também que não é lá muito comum no grupo), a música se estrutura num ciclo de crescimento começando tímida e misteriosa, com muitos silêncios se tecendo num fundo harmônico sendo feito pelo acordeão.


5. Choro de Mandacaru

Outra música trovadoresca de inspiração sertaneja. Um duo de violões e vozes traz singeleza e delicadeza a esta canção de clima rural.


6. Outros Americanos

Composição de Ayrton Pessoa. Também começa discreta, ao piano, e cresce até a entrada de um sutil e poderoso arranjo de bateria de Igor Ribeiro. Aqui também temos a utilização de um instrumento inédito no grupo, que sempre prefere instrumentos acústicos, um sintetizador, e também de uma guitarra tocada por Rafael Torres.


7. Cantiga do Sertão

Uma letra poderosa que remete a João Cabral de Melo Neto em seu Morte e Vida Severina. Apenas o violão de Nonato Luís em participação especial, voz e nada mais.


8. Plantaria

Primeira composição de Ayrton com Letra de Alan Mendonça. Uma espécie de Refazenda contemporânea com um ritmo bem marcado ao violão e à bateria de Igor, graves bem colocados e um belo arranjo de flauta, fazendo contraponto a uma melodia simples e bonita, que além da canção de Gilberto Gil remete também à pernambucana Banda de Pau e Corda, com seu arranjo vocal. Uma das melhores faixas para perceber o entrosamento instrumental do quarteto.


9. De Volta ao Começo

Uma canção extremamente jobiniana, que tem a essência de músicas como Retrato em Branco e Preto.


10. Flores de Maio

Novamente uma das primeiras composições do grupo só agora registrada. Um samba ao mesmo tempo discreto e com presença. Letra de Alan Mendonça e música de Rafael Torres. Fosse nos anos 70, poderia facilmente ter sido uma das canções de João Bosco e Aldir Blanc interpretada por Elis Regina. A linha de baixo de Ednar que permeia a harmonia brincando com alguns graves merece atenção.


11. Miudilha do Beijo

Uma faixa instrumental de amor e dor baseada em violão e sanfona que evoca as sensações de Valsinha de Chico Buarque de Hollanda e Vinícius de Moraes.


12. Choro Dela

Um chorinho feito para Bia, filha de Rafael Torres sobre os desafios e descobertas da paternidade. O acompanhamento com violão, pandeiro e flauta dão a sonoridade clássica de nosso querido chorinho.


Ainda que seja um excelente disco (e bem diferente do anterior), que mostra tudo que a banda é e o que ela ainda pode ser, vale a pena conferir as apresentações ao vivo, sempre com arranjos diferentes e com um pequeno e engraçado rodízio de instrumentos entre eles.



Serviço

Jangada Azul

Independente, 12 faixas

R$ 30,00

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