Anos 70! Continuamos aqui na arara neon atentos para receber a última transmissão de Lauro Almeida que que graças à tecnologia de ponta continua em sua cápsula temporal estacionada em 31 de dezembro 1979 para que ele possa vislumbrar a a década inteira desde primeiro de janeiro de 1970. Diretamente dessa cápsula setentista, nosso crononauta lauro almeida nos envia mais 10 discos que merecem ser descobertos (quando não redescobertos) por nós aqui do futuro. Aproveite a viagem!
ÁLBUNS/DISCOS PARA (RE)DESCOBRIR/OUVIR:
1 – SÁBADO SOM (1975) - coletânea do programa Sábado Som exibido entre 74 e 75, onde Nelson Motta apresentava números musicais de grupos de rock, feito ainda inédito no Brasil, uma pré-MTV. O disco, ao contrário do programa, não trás artistas consagrados mundialmente, mas sim, bandas progressivas inglesas, alemães e húngaras praticamente desconhecidas por aqui (Nektar, Omega, Karthago, Nine Days Wonder..) e com músicas já lançadas há alguns anos. A capa, também, merece destaque, com a montagem incrível de Daniel Azulay, com o King Kong original de 1933 transformado num guitarrista Hendrixiano...
ATENÇÃO NAS FAIXAS: KARTHAGO “Back Again”, OMEGA “After a Hard Year”, JERONIMO “Blind Man”
2 – RICCARDO COCCIANTE “Concerto Per Marguerita” (1976) – o italiano, de voz potente e rascante, com seu piano forte ao modo Leon Russell, já havia conquistado algum sucesso com “Bella Senz’anima” de 1974 e “L’alba” do ano seguinte. Para o seu novo álbum, Cocciante convidou o tecladista e arranjador Vangelis para a produção das faixas. O clima etéreo e “viajandão” dos inúmeros teclados e cordas transformou o trabalho no seu carro chefe e se tornou seu álbum mais conhecido. Todo composto por baladas dramáticas e emotivas, o álbum é excepcionalmente belo e tocante.
ATENÇÃO NAS FAIXAS: "Primavera", "Inverno", "Violenza"
3 - DÓRIS MONTEIRO - "Dóris" (1973) - a chegada dos anos 70 na música brasileira trouxe uma forte carga de soul, funk e balanço, até para os artistas prevenientes da era do Rádio, como foi o caso da já veterana Dóris Monteiro. A sua "fase 70" é cultuada até os dias de hoje por djs e produtores e, lógico, por colecionadores de discos, sempre ávidos por um cópia de algum álbum seu desta década. O trabalho de 1973 não deixa a desejar no swing e sambalanço já conhecidos, na releitura de "Eu Só Quero Um Xodó" e "Se É Por Falta de Adeus, Até Logo" da iniciante dupla Tom e Dito. As baladas "Viagem" e "Até Quem Sabe" trazem o lado maduro, sem soar destoante do conjunto da obra. A cantora em 2021 completa inacreditáveis 70 anos de carreira, ainda na ativa, com a mesma voz doce e envolvente, lúcida e bela.
ATENÇÃO NAS FAIXAS: "Até Parece" , "Eu Só Quero um Xodó" , "Pedra de Guaratiba"
4 – NINA SIMONE – “Baltimore” (1978) – o produtor Creed Taylor convidou Nina Simone para integrar o time de bambas da gravadora CTI e para a gravação de um disco que até hoje é um divisor de opiniões. “Baltimore” é um disco misto, que vai do jazz ao reggae, com direito até a uma inusitada releitura de “Rich Girl” da dupla Hall & Oates. A cantora e pianista não ficou contente com os arranjos modernosos e quase abandonou o projeto, dizendo inclusive que se tratava do seu pior trabalho. Mesmo assim, a sonoridade mais fluida e despojada agradou aos jovens que, apesar da explosão da DISCO, abriu os ouvidos também para Bob Marley, para o fusion e o smooth. Apesar das divergências, é um disco tido como “fora da curva” na carreira da cantora.
ATENÇÃO NAS FAIXAS: “Rich Girl”. “Baltimore”, “Forget”
5 – FRANÇOISE HARDY – “La Question” (1971) – com a voz doce e uma beleza estonteante, Françoise Hardy iniciou sua promissora carreira nos anos 60, emplacando um dos hits mais conhecidos do cancioneiro francês, a valsinha Tous les garçons et le filles. No meio da década se aproximou do Brasil, vindo a participar do III FIC em 1968. Foi quando conheceu a cantora e violonista Tuca, com quem viria a gravar seu álbum de maior sucesso, “La Question”. Com imensa inspiração na Bossa Nova, o trabalho é todo calcado no violão de Tuca e na voz sensual de Françoise. A música “La Question” foi um dos maiores sucessos aqui no Brasil em 1972, ao ser incluída na trilha internacional da novela “Selva de Pedra” e até hoje é associada à trama.
ATENÇÃO NAS FAIXAS: “Rêve”, “La Question”, “Le Martien”
6 – SONIA MELO “Interpreta Roberto Carlos e Erasmo Carlos” (1976) – a década de 70 tem como uma das suas particularidades a reverência máxima ao trabalho da dupla Roberto e Erasmo Carlos, com inúmeras releituras, incluindo a dita NATA DA MPB, como Elis Regina, Gal Costa e Maria Bethânia. O lado popular e menos mainstream também rendeu covers consideráveis e de grande relevância, como esse primeiro álbum da cantora Sonia Melo, todo voltado para a obra da dupla. Pela batuta do maestro Hugo Belardi, Sonia passeia pelos grandes e inesquecíveis sucessos, que vão desde as clássicas “Como É Grande o meu amor por Você” e “Por Isso Corro Demais” (ambas do filme/disco “Roberto Carlos em Ritmo de Aventura” de 1967) e por baladas mais recentes, como a tristíssima “Por Amor” de 1972 e, obviamente, “Detalhes”, hit máximo na carreira de Roberto Carlos. Em 1979, Sonia gravaria outro álbum todo com músicas de Roberto e Erasmo.
ATENÇÃO NAS FAIXAS: “Por Amor”, “Quando”, “Sentado a beira do caminho”
7 – APOLLO 100 – “Joy” (1972) – indo de encontro com o rock pesado que imperava no inicio da década, o tecladista Tom Parker criou o projeto Apollo 100, com releituras de peças clássicas com roupagem pop rock. O single “Joy”, baseado em “Jesus alegria dos homens” de Bach, obteve enorme aceitação e o álbum seguiu pelo mesmo caminho. É um álbum pequeno (apenas 28 minutos de duração), mas de uma beleza e brava execução. Algumas adaptações, apesar se serem de fácil identificação, cadenciaram para outro estilo, como a famosa “Ária em corda sol” que se transformou em uma balada jazzística com direito a um solo de saxofone. Mesmo feito se deu com “Dança Macabra” do compositor francês Camille Saint-Saëns que ganhou um incrível solo de bateria no estilo Paice/Moon/Bonham. No Brasil o disco também foi editado em 1972 com uma outra capa, bem mais interessante que a original por sinal.
ATENÇÃO NAS FAIXAS: “Hall Of The Mountain King”, “Danse Macabre” “Exercise In 'A' Minor”
8 – EMÍLIO SANTIAGO – “Feito Para Ouvir” (1977) – o quarto álbum de Emílio Santiago deixa um pouco de lado o samba e o balanço que recheou seus trabalhos anteriores. O que temos aqui é um trabalho focado em baladas acústicas que mais se aproximam do jazz. O disco já abre com a magistral “Beijo Partido” de Toninho Horta, considerada por muitos, a melhor versão da música, que conta com inúmeras leituras como as de Nana Caymmi, Milton Nascimento e Flora Purim. O exímio cantor mostra todo o seu potencial em canções de Gilberto Gil, João Donato, Johny Alf e na parceria de Tom Jobim, Vinícius de Moraes e Chico Buarque, na belíssima “Olha Maria”, faixa que fecha o disco com chave de ouro.
ATENÇÃO NAS FAIXAS: “Beijo Partido” “O Que É Amar”, “Rua Deserta”.
9 – ROCK HORROR SHOW (1975) – a peça que causou furor em Londres em 1973, chegava ao Brasil dois anos depois, tendo as suas canções originais traduzidas para o português e lançadas em disco pela gravadora Som Livre. No elenco e cantando, estão Lucélia Santos, Wolf Waya, Zé Rodrix e Eduardo Conde, personificando o vampiro travesti Frank ‘N’ Furter. O espetáculo sofreu muito com a censura militar que imperava na época e recebeu inúmeros cortes e proibições, o que causou uma descaracterização do original, porém, no disco, podemos ouvir, na íntegra, as divertidíssimas canções que embalam as aventuras de Brad e Janet no suspeito castelo do vampiro e sua criação erótica. O álbum não fez o sucesso esperado e suas tiragens foram limitadas, o que hoje o torna uma peça rara e de alto valor no mercado dos sebos.
ATENÇÃO NAS FAIXAS: “Eu te faço ser homem”, “Science Fiction”, “Me Toque, Me Toque, Toque, Toque”
10 – BARRABAS – “Barrabas” (1972) – com a explosão do rock latino que o grupo Santana trouxe a luz na virada da década, inúmeros grupos apareceram com a mesma proposta, buscando um lugar ao sol. O Barrabas surge em 1972, com um álbum vibrante, poderoso e cheio de percussão e groove. Os hits do álbum ficaram a cargo de “Wild Safari” e “Woman”, sendo essa, a música mais lembrada do grupo e amada por djs, que não cansam de samplear seus acordes e compassos. Os álbuns foram lançados em cd em 2002, mas infelizmente já se encontram fora de catálogo, restando no streaming apenas uma coletânea, mas que ajuda a ouvir e entender a importância da banda.
ATENÇÃO NAS FAIXAS: “Woman”, “Only For Men”, “Never in this world”
Vamos combinar aqui: quem tiver uma dessas preciosidades em vinil em casa comenta aqui!
Quer ver a primeira lista do Lauro? Clica aqui!
A lista número 2 tá aqui!
Lauro Almeida
Amante de música desde criança, colecionador de discos, dj e curador musical, aficionado nos anos 70 e em suas vertentes. Do clássico ou obscuro, do compacto de vinil ao cd.
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