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  • Foto do escritorRafael Torres

DBS - Deep Brain Stimulation - o marca-passo da salvação

Atualizado: 30 de abr.

Olá! Nessa postagem vou relatar, na melhor das minhas possibilidades, minha experiência com a DBS (traduzindo: Estimulação Cerebral Profunda), procedimento cuja cirurgia eu fiz dia 13 de janeiro de 2024.


Originalmente desenvolvida para pacientes com Mal de Parkinson, Tremor Essencial e Distonia, todos males neuromotores, logo passou a ser testado para tratar condições neuropsiquiátricas: Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Epilepsia e, mais recentemente, Depressão.



DBS não é, nem mesmo, o nome da cirurgia - a neurocirurgia é para implantação do material físico que tenho que trago comigo.


Benéfico ou danoso?


Saiba que, na maioria das vezes, DBS é benéfico. Trata-se da implantação de um neuroestimulador, eletrodos, bateria e os fios relacionados. Alguns vão no cérebro. Já a bateria fica sob a clavícula.



No tratamento da Depressão, eu a indicaria para quem já tentou de tudo, mas nada funcionou. Mas apenas com suporte financeiro (do plano de saúde). Quem está em um momento "terminal" da doença, inclusive com possibilidade de suicídio, vá atrás. Há bons neurocirurgiões em todos os lugares do Brasil. E do mundo.



Primeiro (Como fazer?)


Fui ao meu psiquiatra, dr. Joel, que, vendo que nada havia funcionado, sugeriu que eu fizesse uma consulta com um neurocirurgião, dr. Flávio. Este garantiu que meu Plano de Saúde cobriria os absurdos custos com o procedimento e com os materiais: eletrodo, fio (que perpassa a cabeça) e gerador de pulso - estimativa pessoal: isso sairia, com os médicos, entre R$ 300 e 400 mil.


Não sem luta, o plano cobriu e partimos para achar um médico especializado no procedimento - dr. Osvaldo, de Goiânia.


Então, fale com seu psiquiatra ou com um neurocirurgião. Mesmo que ele não tenha participado de um processo assim, vai conhecer quem possa te ajudar.


Por isso e por tudo, agradeço muito a todos os médicos, enfermeiras e auxiliares envolvidos.


No final das contas, algo entre 8 e 12 médicos compareceram à sala de cirurgia - meu pai, dr. Henrique, que é médico e fez tudo para que o plano aceitasse arcar com os custos do procedimento, incluso. Sei que fui o primeiro paciente a fazer a cirurgia dupla (talvez do mundo).


Parece que o meu psiquiatra, o Joel, compareceu, no final, mas nesta hora eu estava anestesiado e os relatos acerca de sua presença são vagos. É o momento em que implantam, por baixo da pele, o fio que liga a bateria ao estimulador. Tudo, por baixo dela e por uns 30-40 cm. O paciente deve estar inconsciente.


Não falo para me gabar - mérito é todo da equipe.


Se você entende inglês, sugiro que assista a todos os vídeos e leia todas as matérias que vou sugiro no fim da postagem.


Dr. Osvaldo fez a parte técnica da cirurgia, junto com dr. Flávio. Para completar, dr. Osvaldo me ofereceu uma cirurgia dupla - ablação e implante do equipamento que faz o DBS.


A única parte dramática foi a implantação de um halo - parafusado - literalmente cercando o cérebro. Ele serve como uma espécie de bússola e é essencial para guiar o cirurgião, que tem coordenadas milimétricas para seguir em uma neurocirurgia.


Falo dramática (não, não fiz drama) porque eles vão aparafusando um enorme objeto metálico - e você sente cada centímetro - e você tem que conviver com ele por horas (no meu caso, mais de 8 horas) de intensa dor de cabeça. Horrível, mas não desanime. Se eu suportei, você tira de letra.


Halo fixo, cabeça doendo, é hora do implante. Não existe apenas o ponto em que o estimulador ficará, mas todo o caminho por onde ele passará, que o dr. traça a partir de cálculos e uma ressonância magnética transcraniana - feita mais cedo, no mesmo dia.


Na medida em que ele vai progredindo em inserir o gerador, que tem o tamanho de, pelo que sei, um mindinho, ele vai pedindo coordenadas para o próximo milímetro à sua colega (dra. Issa). Nessa parte estou bem, nós não sentimos dor no cérebro.


O médico que fez a minha cirurgia especializou-se em depressão. São coordenadas diferentes, e a intensidade do aparelhinho, também é. Eu faço esta observação porque é como tratamento para Parkinson que você vai encontrar pela internet, a abertura para depressão é bem recente.


Em seguida, os demorados procedimentos são iniciados, com o paciente acordado. Foram 8 horas em que eu não senti nada – só a dor de cabeça, infernal.


Depois, sala de descanso (não carece de UTI) e, uma ou duas horas depois, apartamento. E casa, no dia seguinte.


 

Demorados Procedimentos e Resultado


Com a minha autorização e do meu pai, o dr. Osvaldo realizou duas cirurgias diferentes em mim - a ablativa, em que uma parte do cérebro é lesionada (queimada à inutilidade), e a DBS, em que os componentes necessários para o tratamento DBS são implantados.


Já nessa fase, eu me sentia bem. Digo da depressão. E não me refiro ao DBS, mas à parte ablativa da cirurgia.


Sério. Não sinto nada de ruim até hoje. Tudo bem, a memória foi melhorar de maneira simbólica, os movimentos do corpo estão íntegros, mas débeis. Mas, a verdade é que, para todos os efeitos, não tenho mais depressão.


Se você tem um bom plano de saúde, ou muito dinheiro (imagine... pessoas pobres têm que conviver com essa horrível depressão), sugiro que ouça um médico e, se for o caso, faça a cirurgia. Mas lembre que é uma neurocirurgia, portanto, há sempre riscos de complicações.


O gerador de pulso, veio um homem de preto da Nasa ligar. E ele não faria se não fosse um manual enorme que trouxe. E ficavam dois dos médicos, lá de Goiânia, dando instruções o tempo todo. Mas é quase um milagre. Milagre da ciência. Ainda não recuperei o meu senso de humor, mas estou voltando.


 

Os Efeitos Adversos


Eu tive umas complicações que, provavelmente, nada tiveram com a cirurgia. Dor de cabeça aguda, diarréia incontrolável, incontinência urinária, fraqueza muscular, tremores, emagrecimento rápido (40 quilos em 2 meses) e (calma!) falta absurda de memória, dificuldade de concentração, começava uma frase e não sabia terminar, não andava e (juram) fiquei rude.


Mas é isso. Quando tive essas reações fui ao hospital (Hospital Regional da UNIMED, que foi terrível, até porque não tinham quartos e eu fiquei improvisado em uma tenda no corredor, e Hospital São Camilo) e detectaram que era carência absoluta de potássio. Fiquei lá por catorze dias, em abril (entendem por que não fiz o relato antes?). Fora uns episódios de moderada agressividade contra a minha amada esposa (pouca) e o descontrole sobre as atividades fisiológicas, o lado bom é que eu estou curado da depressão. Sobre essa última parte, dos efeitos adversos, preciso lhes contar que, mesmo com eles, eu faria a cirurgia de novo. Sou outra pessoa, tenho (acho que literalmente) outra cabeça.


E os médicos, todos eles, acharam muito estranho que tudo isso tivesse acontecido logo depois da cirurgia. Todos deram diagnósticos alternativos, que podiam não levar em conta o fato de termos posto um ratinho no meu cérebro. Ou diagnosticaram uma reação em cadeia - primeiro, o emagrecimento, daí, o potássio, anemia etc.


Considerações finais


Que fique claro, para quem deseja se aventurar (ou não tem alternativa), que o potencial máximo da cirurgia é esperado para um ano após. Mas uma melhora, cada vez mais perceptível, vai se fazendo notar a partir da data da operação.


Eu, que tinha certeza que ia morrer com depressão. Talvez de depressão. Esse mundo em que estou bem é novo para mim.


E eu vim recomendar a cirurgia, sim. Totalmente! Já falei que estou há quatro meses sem chorar?








 

Espero que o texto seja de auxílio para aqueles que vivem essa infernal depressão. Ele complementa esse aqui.


A partir de amanhã, sábado, dia 27/04/2024, devo ir voltando com as atividades normais, sobre música clássica, da Arara Neon!



 


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