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Barroco - Os Períodos da História da Música III - Parte 1

Atualizado: 13 de mai. de 2023

Por Rafael Torres

Atenção, os vídeos, agora, vão ser mais longos. É muito difícil achar miniaturas a partir do Barroco. Se não viu ainda, já tem duas postagens sobre os Períodos da História da Música - Idade Média e Renascença.

Aproveite o texto!


 

Muito bem, pessoal. A História da Música é dividida em:

  • Música Medieval

  • Renascentista

  • Barroca

  • Clássica

  • Romântica

  • Moderna

  • Contemporânea


Demos uma olhada na Idade Média e na Renascença. O Barroco, por ter uma infinidade de compositores, de novas técnicas, de novos conceitos, teve que ser apresentado em duas postagens.

O Concerto de Flauta de Frederico, o Grande em Sanssouci, de Adolph von Menzel, 1852
O Concerto de Flauta de Frederico, o Grande em Sanssouci, de Adolph von Menzel, 1852.

(Este quadro é anacrônico. Ele representa uma cena ocorrida um século antes, em que Frederico, o Grande, rei da Prússia, toca flauta acompanhado ao cravo por Carl Philipp Emanuel Bach, filho de Johann Sebastian Bach.)


Por convenção, o Barroco abrange uma época que vai de 1600 a 1750. Embora a chamemos de Período Barroco, na verdade é um Estilo Artístico, ou seja, não existe a Era Barroca fora do estudo das Artes.


É o período do surgimento da Música Tonal (baseada nas escalas maiores e menores), da implementação do Temperamento Igual, do Baixo Contínuo e do uso (exagerado) das Ornamentações. O Contraponto ainda era muito usado e, aqui, surgiu o Instrumentista Virtuose e, com ele, a obsessiva exploração das possibilidades técnicas instrumentais.


Ornamentar uma música e era tocar a sua linha melódica adicionando floreios, isto é, fazendo-a repleta de pequenos desvios, como o trinado, o mordente, a apojatura. A ornamentação barroca, leva anos para o instrumentistas dominarem e, realmente pode dar uma variedade refrescante. O problema é que músicos, alguns autodidatas, costumavam ornamentar sem nenhuma elegância. A música ficava parecendo um peru. A ornamentação pode ser escrita ou improvisada. Bach, por exemplo, anotava em pormenores como queria que as músicas soassem.


Veremos também o Barroco Mineiro, uma manifestação brasileira um pouco atrasada da europeia, e da qual o público conhece melhor a pintura e a escultura. Mas há música barroca mineira, e muito digna. Abordaremos esse tema aqui.


A palavra Barroco vem do português (Barroco, mesmo) e significa "pérola mal formada".

O Sonho de Salomão, de Luca Giordano, 1695
O Sonho de Salomão, de Luca Giordano, 1695.

 

Glossário da Música Barroca


A Época


A palavra Barroco vem do português e significa "pérola mal formada". O Barroco, começando no Século XVII, viu o Século de Ouro Holandês, o Século de Ouro Espanhol, o Grand Siècle Francês (a época de Luís XIV, o Rei Sol), a Revolução Científica e a Crise Geral do Século. Era um período em que ainda havia muitas monarquias, reinados, aliás mais do que seria possível hoje, já que muitos países ainda não eram unificados (a Alemanha, por exemplo). Do que surgiu na época, podemos destacar


No Barroco as pessoas usavam peruca, se locomoviam de carruagem e comiam pão, frutas, bolo de carne, carne, vegetais e doces. Usavam o garfo (invenção recente) e a faca. As cidades eram sujas e havia um grande contraste entre ricos e pobres. Ademais, o período foi de 150 anos, houve várias guerras e, de acordo com a história, teve início a Idade Moderna.


Pintores famosos da época incluem Rubens, Diogo Velazquez, Anthony van Dyck, Rembrandt van Rijn e Johannes Vermeer.


Las Meninas, de Diogo Velázquez, 1656
Las Meninas, de Diogo Velázquez, 1656;

 

Os Instrumentos


Muitos dos instrumentos Barrocos foram evoluções dos Renascentistas. Muitos destes também foram aposentados. Mas houve o surgimento de muitos instrumentos importantes. Aqui já se montavam orquestras, e parte dos instrumentos já são os que pertencem à orquestra moderna:

  • A Flauta Doce Barroca, uma Flauta Doce de madeira idêntica à que músicos profissionais usam hoje;

  • O Trompete Natural (não tinha pistos);

  • A Trompa Natural (não tinha válvulas);

  • O Trombone ou Sacabuxa;

  • O Flauto Traverso (antecessor da Flauta);

  • O Oboé;

  • O Oboé d'Amore, instrumento mais grave que o Oboé, mas menos que o Corne Inglês);

  • O Fagote;

  • O Chalumeau, que deu origem ao Clarinete;

  • O Serpentão;

  • O Órgão;

  • O Cravo;

  • O Fortepiano; que evoluiria até se tornar o Piano de hoje;

  • O Violino;

  • A Viola;

  • A Viola d'Amore, uma versão do Violino (que tem 4 cordas) com 6 ou 7 cordas tocáveis e mais 6 ou 7 que vibram por simpatia (sem que se toque nelas);

  • O Violoncelo;

  • O Violone, nome do instrumento baixo da família das Violas da Gamba;

  • A família da Viola da Gamba, que ainda era utilizada;

  • A Viela de Roda;

  • A Harpa, que no Barroco era bem menor que a atual;

  • O Alaúde;

  • A Teorba;

  • O Mandolin, o antepassado do Bandolim;

  • A Guitarra Barroca, que evoluiria para o Violão;

  • Os Tímpanos, instrumentos de percussão capazes de tocar notas.

Sempre da esquerda para a direita, temos: Violone, Viola d'Amore, Violoncelo Barroco, Viela de Roda, Trompete Natural, Trompa Natural, Tímpanos, Flauta Traverso, Serpentão, Teorba, Mandolin Barroco, Harpa Barroca, Oboé Barroco, Chalumeau, Fagote Barroco e Flauta Doce Barroca.


 

Sobre o Violino

Os instrumentos de corda, como o Violino, a Viola e o Violoncelo, pareciam com os de hoje, mas as cordas em si eram feitas de tripa (não de gente, de bode), que produz uma sonoridade mais aveludada e suave, quando as modernas são de material sintético e bastante estridentes. O arco era uma vareta com cabelos da cauda de um cavalo, na verdade, ainda é. Mas o que era mais diferente era a técnica. Pelo menos no início do Barroco, o instrumento era segurado no peito, só depois passando a ser colocado perto do queixo; eles não usavam um aparato chamado espaleira e nem o descanso de queixo, ambos destinados a tornar o instrumento mais anatômico e confortável; o vibrato era menos intenso e frequente, aparecendo, basicamente, em notas longas; o arco era seguro menos na ponta, por volta de 1/5 de sua extensão; o arco é quase um instrumento à parte, construído separadamente por um luthier de arcos e custando, por vezes, mais que o violino, o que também acontece até hoje.


Violino Guarneri del Gesù "Cannone", de 1743 - Oferecido por US$ 1.850.000,00
Violino Guarneri del Gesù "Cannone", de 1743 - Oferecido por US$ 1.850.000,00.

O Violoncelo Barroco era muito parecido com o moderno. Mas geralmente não tinha espigão, aquela vareta que fica em baixo do instrumento, sendo seu ponto de contato com o chão. No Barroco o músico o posicionava entre as pernas e o apoiava assim. Tinha 4 cordas, como hoje.


O Contrabaixo existia, mas estava em evolução e não era incluído nas orquestras, ficando o Violoncelo como o instrumento grave do conjunto.


Foi no Barroco que eclodiram os grandes luthiers de Violino, cujos instrumentos continuam valorizados mais e mais até hoje. São os Stradivarius, de Cremona, Itália, sendo, da família, Antonio Stradivari o fabricante mais cobiçado - de suas mãos nos chegaram 650 dos 960 que produziu -; Casa Amati, também de Cremona, sendo Nicolò Amati, que foi professor de Antonio Stradivari e Andrea Guarneri, o mais reputado, sendo que nos restaram 27 Violinos; Guarneri del Gesù, apelido de Bartolomeo Giuseppe Guarneri, também de Cremona, que fez instrumentos tocados por Nicolò Paganini, Henri Vieuxtemps, Jascha Heifetz e Yehudi Menuhin. Dele restou algo em torno de 200 Violinos; e outros.


 

o Cravo

O Cravo era o instrumento de teclado mais tocado à época. Foi criado no final da Idade Média, mas só no Barroco se tornou popular. Possuía um ou dois teclados, um sobre o outro, com timbres diferentes. Seu mecanismo é diferente do do piano. Enquanto este faz as cordas vibrarem por meio de um martelo aveludado, o Cravo belisca a corda com um plectro, uma palheta. Este mecanismo foi o que o levou a ser substituído, posteriormente, pelo piano. Porque ele tem uma limitação: o músico pode pressionar suas teclas com força ou com suavidade, mas o som produzido é o mesmo, sem refletir a intensidade aplicada por quem tocou. Isso foi sua fraqueza. O piano não tinha essa limitação, o que abria possibilidades expressivas e interpretativas.


Johann Sebastian Bach escreveu para ele sua famosa obra O Cravo Bem Temperado, que consiste em 2 Livros, cada um com 24 Prelúdios e Fugas, representando as 24 tonalidades, entre maiores e menores. Com isto o compositor queria mostrar a versatilidade do instrumento. A peça é muito tocada e gravada, tanto no Cravo quanto no Piano.


Além de instrumento solista, ele estava presente na orquestra, muitas vezes tocado pelo compositor/regente. Ele fazia parte do Baixo Contínuo, uma seção da orquestra que toca improvisos harmônicos e pode ser vista como a base musical. Como Baixo Contínuo ele aparece em músicas orquestrais e até em Música de Câmera. O próprio Bach escreveu uma série de 6 Sonatas para Flauta em que todas usam Cravo, mas em algumas ele é escrito nota a nota (quando sua parte é mais complexa e específica) e em outras ele é escrito em um sistema que o faz agir como Baixo Contínuo.


Veja Jean Rondeau tocando "Les Sauvages", da Suíte em Sol Maior, de Jean-Philippe Rameau. Aqui, o Cravo é instrumento solista.


 

o Órgão

O Órgão de Tubos é um instrumento absolutamente fascinante. Muito antigo, com antepassados que remontam à Roma Antiga, no Barroco ele pode ter 4 teclados, uma pedaleira, que é um teclado para os pés, e uma infinidade de botões. É uma verdadeira obra de arte, o maior instrumento musical e um capaz de produzir timbres diferentes.


Por ser muito grande é próprio para ser montado em uma igreja, geralmente se infiltrando nela e virando parte da sua arquitetura. Por este motivo é considerado por alguns um instrumento eclesiástico. Mas as peças para Órgão solista quase nunca são sacras.

Seu mecanismo é altamente intrincado, são gigantescos tubos e mais tubos, 2 mecanismos de ação, o sistema de vento, os registros, o console e o desenho, que cada Órgão tem o seu. Mas, de maneira geral, o que ocorre é que você pressiona uma tecla (caso a segure por 1 segundo, uma nota soará por 1 segundo; caso segure por 10 minutos, ela soará por 10 minutos) e libera passagem de ar para um determinado tubo (estou resumindo descaradamente). O ar passando pelo tubo é que fará soar uma nota. Em vários aspectos ele se assemelha a um acordeom.


Apertando um botão ou uma combinação de botões você troca o timbre do instrumento, e existe uma infinidade de timbres diferentes. Esses timbres podem ser divididos em 4 categorias: os Principais, as Flautas, as Cordas e os Híbridos. Tocar Órgão é se preocupar com o teclado, com a pedaleira e com os botões. Alguns organistas têm um assistente só para manipular esses botões.


Aprecie o organista, Reitze Smits tocando a Passacaglia em Dó Menor, BWV 582, de Johann Sebastian Bach.


 

o Fortepiano


Inventado por Bartolomeo Cristofori em 1698, o Fortepiano tinha esse nome por sua capacidade de tocar forte ou piano (fraco). Ele não tomou a Europa de assalto. Consta que Johann Sebastian Bach desaprovou o instrumento e fez várias críticas, de forma que ele só veio a cair em suas graças em 1747, após uma segunda testagem. Mas não era um instrumento usado pelos compositores Barrocos, eles ainda preferiam, de longe, o Cravo.


Ocasionalmente surgiu o Pedal de Sustentação, que permite que as notas continuem soando mesmo quando as teclas não estão pressionadas. Foi criado também o Pedal Una Corda. O que acontece é que, no Piano e no Fortepiano, quando se pressiona uma tecla, o martelo atinge três cordas idênticas - as três dão a mesma nota, a questão aqui é volume. O Pedal Una Corda, no Foetepiano, faz com que o martelo bata em uma ou duas dessas cordas escolha do freguês). Isso era para suavizar o som e fazê-lo perder potência.


A vantagem do Fortepiano, a de poder tocar forte ou fraco, no começo foi ignorada ou ele foi tratado como um instrumento de brinquedo. Mas aos poucos os executantes foram se dando conta que aquilo o aproximava dos instrumentos de corda, dos de sopro. Poder tocar mais forte ou mais fraco era ideal, se o músico estava com ideias expressivas. Ele podia crescer em uma frase para, então, diminuir nas últimas notas. Eram bilhões de possibilidades. Toda essa gama de possibilidadescomeçaria a ser explorada no Classicismo e, mais ainda, no Romantismo. Por enquanto ele é só um instrumento que surgiu mas ninguém sabia o que fazer dele. Seu alcance no Barroco era de 5 oitavas, mas ele continuaria evoluindo. O Piano Moderno tem 7 oitavas.


Quanto à sua sonoridade, era radicalmente diferente da do moderno. Mais parecia a de um Cravo. Observe abaixo Dongsok Shin tocando uma Sonata em Ré Menor de Domenico Scarlatti em um piano de 1720, o mais antigo Fortepiano preservado, do construtor - e inventor do pianoforte - Bartolomeo Cristofori.



 

Baixo Contínuo


Era uma seção da orquestra, geralmente formada por um desses: Cravo, ou o Alaúde, ou o Teorbo, instrumentos, enfim, capazes de tocar acordes; e um instrumento capaz de tocar notas graves, os baixos da música, como um desses: o Violoncelo, o Contrabaixo ou a Viola da Gamba. Eles não tocavam de uma partitura comum, mas de uma que continha o Baixo Figurado, uma notação em que se escrevem números sobre as notas dos instrumentos graves, e esses números são lidos como acordes. O músico tocava esses acordes de maneira improvisativa. A prática, hoje, nos conjuntos que reproduzem orquestras Barrocas, é de tocar só quando esses instrumentos graves tocarem. Se fizerem silêncio, o Baixo Contínuo não toca nada.


O Baixo Contínuo foi de extrema importância na Música Barroca, tanto que ficou onipresente. Não lembro de música orquestral em que ele não apareça.


A prática é completamente Barroca, tendo caído em desuso já no Classicismo. Se bem que, de maneira esporádica e pontual, ele continuou sendo usado, até no Romantismo, em obras sacras, como Missas e Réquiens.



 

Temperamento Igual

, Dó Sustenido, , Ré Sustenido, Mi, , Fá Sustenido, Sol, Sol Sustenido, , Lá Sustenido, Si, .


Antigamente, quando se dividia a escala (isto é, as notas que existem entre uma nota, digamos um e o próximo) em 12 notas, apareciam uns intervalos (a relação e a distância entre duas notas) anômalos, sem nada a ver com o intervalo esperado. Isso ocorria porque os intervalos iguais, antes, não eram idênticos. A Logarítmica nos deu uma forma de calcular certeiramente esses intervalos, de modo que a distância entre cada semitom de uma oitava será a mesma.


Mas antes não era assim? A afinação até a Renascença, quando a música era Modal, era cheia de anomalias. Alguns intervalos eram impraticáveis e algumas notas precisavam não ser usadas. Na Afinação Pitagórica, uma das mais usadas até o Barroco, é preciso fazer vários ajustes nos intervalos de . Os instrumentos têm que ser afinados com o prévio conhecimento da música, da escala que vai usar (partindo de qual nota) e do modo que vai usar.


No próprio Temperamento Igual, para que os intervalos tivessem valor semelhante, foi preciso convencionar que alguns intervalos de 5ª (como Dó-Sol) precisaram ser diminuídos. Nós não percebemos porque nosso ouvido é plenamente habituado à escala ajustada.


 

A Música Tonal

Podemos dizer Música Tonal em oposição a Música Modal ou em oposição a Música Atonal.


Como a Música Atonal só surgiria no século XX, aqui estamos falando em oposição à Música Modal. Nesta a escala podia ser montada com 8 modos diferentes, a Música Tonal padronizou e nos deixou com 2 escalas (idênticas a 2 dos modos, o jônio e o eólio). Isso facilitou a assimilação dessas escalas e o desenvolvimento de encadeamentos de acordes (pequenas sequências de acordes) que faziam sentido racional. Ainda usamos a Música Tonal, de modo que sabemos que depois de um acorde de 7ª dominante só pode vir o acorde da nota uma quarta acima dele. Talvez vocês não saibam colocar nesses termos, mas seus ouvidos estão condicionados a esses acordes e relações. São encadeamentos que já estão no subconsciente coletivomuito tempo.



A Música Tonal é, portanto, mais provável de sugerir emoções, pois temos - repito, mesmo quem não conhece teoria musical - todos uma relação afetiva com cada encadeamento de acordes.


Existe um campo do estudo musical, chamado Harmonia Funcional, que estuda precisamente essas relações, os encadeamentos.


 

A Ópera no Barroco

O Barroco foi o período em que a Ópera se sedimentou como válida opção de contemplação artística. As Óperas proliferaram, surgiram escolas, correntes: a Ópera italiana, representada por Alessandro Scarlatti, Giovanni Battista Pergolesi e Alessandro Stradella; a Ópera Francesa, de Jean-Philippe Rameau e Jean-Baptiste Lully; a Ópera alemã, de Heinrich Schütz; a Ópera inglesa, de Henry Purcell; e outras. Na Itália se fazia Ópera de dois jeitos: Opera Seria e Opera Bufa, sendo a segunda, cômica.


Teatro Argentina, em Roma, óleo sobre tela de Giovanni Paolo Panini, 1747
Teatro Argentina, em Roma. Óleo sobre tela de Giovanni Paolo Panini, 1747.

Só para deixar claro, Ópera é um drama musical, o teatro cantado, com um enredo (ele e as falas estão no libreto, que geralmente é feito não pelo compositor, mas por um libretista dedicado).


Na época do Barroco já existiam sopranos, contraltos, tenores, contratenores, barítonos e baixos de grande fama, quase análoga à dos artistas populares dos dias de hoje. Existiam também os Castrati, cantores homens que, no início da adolescência, antes de a voz mudar, eram castrados, para que ela permanecesse aguda.


As Óperas costumam ter uma Abertura, algumas Arias, Duetos, Trios, Quartetos e Recitativos. Eram apresentadas em teatros, mas também em cortes.


 

A Ascenção da Música Instrumental

A música puramente instrumental passou a ser vista como um empreendimento válido. Passou a ser valorizada e começaram a surgir os instrumentistas favoritos de todo mundo. O Barroco foi a época dos virtuosi.


J S Bach era um organista lendário, assim como G F Händel; Girolamo Frescobaldi, Louis Couperin e Domenico Scarlatti eram cravistas do mais alto nível; Antonio Vivaldi, Arcangelo Corelli e Giuseppe Tartini fizeram o Violino estrear de vez com a maior categoria; e Georg Philipp Telemann era um multi-instrumentista histórico.

De Johann Sebastian Bach, o 4º Movimento, Double, da Partita Nº 1 para Violino Solo, na interpretação da magnífica violinista estadunidense Hilary Hahn.


Cada um desses compositores/instrumentistas compunha peças para suas próprias habilidades, ou seja, difíceis. Isso ia fazendo o nível subir continuamente, como segue subindo ainda hoje. Foi no Barroco que surgiu o Concerto, uma peça em três movimentos para instrumento(s) solista(s) e orquestra, determinada a explorar o máximo que o solista é capaz de fazer.


Claro que isso iria evoluir no Classicismo e atingir o limite da sanidade no Romantismo, mas no Barroco é que foi iniciado esse frenesi de aperfeiçoamento técnico instrumental extremo.


 

O Estabelecimento da Orquestra

Também no Barroco começou a se montar a orquestra definitiva. Ainda não era a Orquestra Sinfônica, do Romantismo e Modernismo. O conjunto ainda não tinha sequer tamanho definido (tinha, muitas vezes, apenas 1 instrumentista para cada linha, em oposição aos 16 Primeiros Violinos de hoje, que tocam a mesma linha). No entanto, como o tamanho não era regrado, também puderam aparecer orquestras ocasionais bastante dilatadas (li sobre a orquestra romana de Arcangelo Corelli, que podia empregar 80 ou até 150 músicos). Os Violinistas e Violistas tocavam em pé.


Abaixo, a Portland Baroque Orchestra toca o Terceiro Movimento, Presto, de "L'estate", ou O Verão, que pertence ao grupo de 4 Concertos para Violino e Orquestra intitulado "As Quatro Estações", de Antonio Vivaldi. O Baixo Contínuo está com o Cravo, a Teorba, dois Violoncelos e um Contrabaixo. Além disso, tem 4 Primeiros Violinos e 3 Segundos Violinos. (É uma interpretação mediana, talvez estivessem nervosos.)


Mas o que importa é que agora eles usavam a orquestra para tudo, até Missas, e esta estava bem organizada.


 

O Surgimento do Oratório e da Cantata

Além da Ópera, dois grandes formatos passaram a existir. O Oratório, uma obra de porte enorme, com um parentesco operístico, que junta orquestra, coro e cantores solistas. Esses solistas cantam personagens, e esses personagens não interagem (sua diferença para a Ópera é que, enquanto esta é destinada ao teatro, o Oratório se destina às salas de concerto, não há ação física). Oratório é sem maquiagem, figurino e cenário. Tem vários movimentos (10m, 20, 40...) e é bem longo, podendo atingir mais de duas horas. Finalmente, os libretos abordam temáticas religiosas.


Já a Cantata, foi ainda mais importante na época. Trata-se de uma música vocal, com instrumentos acompanhantes. Pode ou não ter um coro e têm vários movimentos. É longa, mas não como o Oratório. Existem cantatas religiosas e cantatas profanas. Falando da cantata religiosa, foi o primeiro formato musical em que as autoridades eclesiásticas autorizaram a inclusão de instrumentos. Uma Cantata muito grandiosa, com orquestra imponente, coro e solistas em profusão, pode ser confundida com um Oratório, mas no geral, é isso que as distingue: a grandiosidade (no número de instrumentistas e cantores, nas dimensões de tempo e no próprio propósito). Digamos que a Cantata é mais modesta.


Bach era o principal escritor de Cantatas no Barroco. Não se sabe quantas ele escreveu, mas foram preservadas quase 200. Elas continuaram a ser compostas no Romantismo e no Modernismo. "Carmina Burana", de Carl Orff é uma Cantata profana; Ralph Vaughan Williams, Béla Bartók e Paul Hindemith escreveram as suas; a de Sergei Prokofiev é famosa, "Alexandre Nevsky"; Dmitri Shostakovich escreveu as patrióticas "Poema para a Terra Mãe" e "O Sol Brilha sobre nossa Pátria Mãe"; Dmitry Kabalevsky compôs 4 Cantatas; Heitor Villa-Lobos fez a Cantata profana "Mandu Çarará"; e mais Francis Poulenc, Igor Stravinsky, Benjamin Britten, Luigi Nono, Carlos Chávez, Arthur Honegger, Krzystsztof Penderecki, Michael Tippett e tantos outros.



 

O Concerto, a Sonata e a Sinfonia, mas não

O Barroco é responsável pela invenção de três conceitos de música instrumental? Na verdade, apenas parcialmente. Com exceção do Concerto, que só mudaria em tamanho, a Sinfonia e a Sonata Barrocas pouco tem a ver com aquelas de a partir do Classicismo. Vejamos:


Concerto, certinho.


Página do manuscrito de uma Sonata para Cravo de Domenico Scarlatti
Página do manuscrito de uma Sonata para Cravo de Domenico Scarlatti.

Sonata, a Barroca, pode ser, no caso de Domenico Scarlatti, uma peça para instrumento solo, Cravo, no caso. Essa peça tinha apenas um movimento e, com durações variáveis, sempre era curta (geralmente entre 3 e 6 minutos). A Forma Sonata ainda não tinha sido criada, o que daria à obra um bom crescimento. O que existia de mais próximo com a Sonata atual era o Trio Sonata, que pode ter vários movimento e eles são mais cumpridos. Chamam Trio Sonatas porque não são para instrumento solista. Nem três. Geralmente ouvimos quatro, porque são dois instrumentos principais, dialogando, e o Baixo Contínuo, geralmente um Violoncelo e um Cravo. É bonito, há Trio Sonatas de J S Bach, G F Händel, Georg Philipp Telemann, Arcangelo Corelli e uma infinidade de outros.


Escute o 1º Movimento, Allegro, de uma Trio Sonata em Dó Menor de Georg Philipp Telemann, executada por Tabea Debus, na Flauta Doce, Katharina Sprecklesen, Oboé, Satoko Doi-Luck, ao Cravo e Jonathan Manson, Violoncelo. Eles são membros da Orquestra da Era do Iluminismo, sediada em Londres, uma orquestra que utiliza instrumentos e práticas de época, especializada em Repertório Pré-Romântico.


Já a Sinfonia, que nós conhecemos como uma espécie de Sonata Orquestral, tem o nome usado por J S Bach para descrever suas Invenções a 3 Vozes, um livro didático avançado de peças para Cravo. As 15 Invenções são chamadas de Sinfonia Nº 1, Sinfonia Nº 2 e assim por diante. Não me entendam mal, são peças importantíssimas e fantásticas, todas tecidas em Contraponto a 3 vozes. Quando se estuda piano, um dos caminhos é Bach - você começa com o Livro de Anna Magdalena Bach, passa para as Invenções a Duas Vozes, depois as Invenções a Três Vozes (isso leva anos, normalmente) e, por fim, o passo final, O Cravo Bem Temperado, Livros 1 e 2.


Então, o fato é que as Sinfonias de Bach nada têm a ver com as Sinfonias do Classicismo e do Romantismo.


Repare na beleza e engenhosidade da Invenção a Três Vozes (Sinfonia) Nº 2, em Dó Menor, de Johann Sebastian Bach, interpretada ao Cravo por Kanji Daito.


 

A Música Barroca



A Transição da Renascença para o Barroco

Tudo começa quando, ainda na Renascença, o conde Giovanni de' Bardi cria a Camerata Fiorentina. Era um grupo de estudiosos que queria ter influência em vários aspectos da arte. Seus ideais tinham a ver com a (velha) adoração à Antiguidade Clássica e queriam recriar a música da Grécia Antiga, mesmo sabendo que nenhum registro dela havia sobrevivido. Acima de tudo eles se opunham à Polifonia, em especial ao Contraponto. Daí que passaram várias regras sobre ele: deveria ter tal número de vozes cantando apenas um texto e coisas do tipo. E, de fato, no Barroco o Contraponto era bem mais comedido que no auge da Renascença. Também aqui foi definido que eles usariam Música Tonal e passariam a usar o Baixo Contínuo. O Trítono, o ''intervalo do cão'' e com todas as lendas que trazia, pela primeira vez podia ser usado com mais liberdade.


Os primeiros compositores Barrocos assimilaram isso e aceitaram. A intenção da Camerata era limpar, enxugar a música, que, na Renascença tinha cometido excessos, como vozes demais, abuso do Contraponto e exagero até na letra, quando compositores usavam mais de um texto cantado pelo coro ao mesmo tempo.


 

Aqui, nesse ponto, o nosso construtor de site nos avisou com bastante tato, delicadeza e sutileza que o Barroco não poderia ser acomodado em uma postagem, sendo necessário dividi-lo em duas partes. Algo a ver com a possibilidade de romper uns tanques de gás por lá.


Aguardem, que a Parte 2 vai chegando.

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