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Foto do escritorRafael Torres

O Milagre dos Andes

Atualizado: 2 de jul.

Morte e Amizade



Em 13 de outubro de 1972 um avião da Força Aérea Uruguaia, FH-227, levando 40 passageiros e 5 membros da tripulação, caiu nos Andes, entre Argentina e Chile. Mas no lado argentino da cordilheira, já perto da cidade chilena de Puente Negro.


Eles enfrentaram uma jornada de 72 dias.  A maior parte era do time de Rugby Old Christians. A média de idade era de 22 anos. Hoje têm mais de 70.


Na primeira vez em que decolaram, fizeram um desvio para Mendoza por causa do frio. Passaram uma noite lá. Decolaram com o tempo ainda ruim.


O avião partiu de Montevideo (Uruguai) até Santiago (Chile), mas jamais chegou ao destino. Era pilotado pelo experiente coronel Júlio César Ferradas e o co-piloto era o não tão experiente Tenente-Cel. Dante Héctor Lagurara. Este último pilotava a aeronave na hora do acidente que, após análise, concluiu-se, caiu por erro do piloto.


Nando Parrado disse, em entrevista ao The Guardian, da Inglaterra.


"Atualmente, eu jamais me aproximaria desse avião. Um Fairchild FH-227D com motores muito fracos, lotado, completamente carregado, sobrevoando as montanhas mais altas da America do Sul, ainda com mau tempo! De jeito nenhum".


Veja trechos da entrevista do sobrevivente Antonio Vinzintin para a Revista Trip, em 1992.


Quando os pilotos tomaram a decisão de cruzar para Santiago, o que aconteceu depois?


"Bem, o acidente aconteceu porque os pilotos se perderam. Depois de determinado tempo de voo, dentro da velocidade que íamos, já tínhamos que ter chegado em nosso destino. Mas não foi o que aconteceu. Os pilotos começaram a baixar de altitude. Estavam perdidos e começaram a baixar, baixar, baixar, até encontrarem com a montanha. O avião bateu"


Acontece que, entre Chile e Argentina tem uma das cordilheiras mais traiçoeiras do mundo, os Andes. Não se pode traçar uma reta entre as capitais chilena e argentina, precisa-se viajar para o sul e aproveitar uma passagem na montanha, na altura do Monte Tinguiririca, hoje batizado por um dos sobreviventes, em homenagem a outro, de Monte Seler.


Lá o co-piloto esqueceu todo o seu treinamento. Pensou que já haviam cruzado a cidade de Curicó (e disse isso aos sobreviventes, deixando-os mais perdidos), olhou para fora e viu as montanhas e tentou ganhar atitude, tendo estado voando a 5,5 km para se comunicar e ainda errando na estimativa de chegarem em Curicó. Para a torre de Curicó. O avião estava pesado, lotado (tinha acabado de receber uma reforma, aumentando de 52 para 56 a capacidade máxima de passageiros), e não conseguiu. O clima estava péssimo, prejudicando a visibilidade, a aeronave estava perigosamente em seu limite de peso e o modelo do avião era famoso por não ter força. E foi o décimo FH-227 envolvido em acidentes.


Além disso, os passageiros sentiram a brutal ascendência do voo e puderam ver as montanhas abaixo. O desespero foi generalizado. Ao bater no chão, muita gente morreu, pela pancada e por asfixia (ficaram enterrados na neve). Às vezes faziam 30 graus negativos lá fora.


Nando Parrado escreveu, dois anos após o incidente, o livro Vivos. A História dos Sobreviventes dos Andes, que inspirou o filme Alive.


5 pessoas morreram na queda, quando a cauda se foi. Além delas, o piloto morreu no impacto e o co-piloto, pouco depois. 4, quando o avião bateu, ao deslizar, na neve. No final do ski do avião, dos 45 que partiram de Montevideo, apenas 33 estavam vivos. Na manhã seguinte, mais cinco sucumbiram aos ferimentos.


As buscas, partindo do Chile, começaram quase imediatamente, quando o voo atrasou e a terra não conseguiu contato. Mas foi um fracasso, pois não se sabia exatamente onde o avião estava (a última comunicação fora em Curicó), a visibilidade era péssima e o avião, branco, confundia-se com a neve. Ao voltar a Santiago, o pessoal da busca, sem ter obtido sucesso, ouviu mais detalhadamente as gravações das conversas de rádio e concluiu que eles estavam na área mais desértica e remota área dos Andes.


No dia seguinte, Argentina e Uruguai uniram-se ao Chile nas buscas. Mas elas foram canceladas no 8º dia. O desespero aumentou.


Até tinham um radinho de pilha, mas era de pilha... Foi por ele que souberam do término das buscas.


Os médicos e estudantes de medicina do grupo passavam o dia cuidando dos feridos, de suas feridas, suas mortes, suas dores de barriga...


Em 15 de novembro três sobreviventes encontraram a cauda da aeronave. Nela, acharam baterias, com o que queriam alimentar o rádio da carcaça (não deu certo, a bateria era muito pesada para carregar), roupas, chocolate, quadrinhos, rum e outras coisas.


O que comiam?


"Bom, o avião não tinha muita comida. Eram 28 pessoas vivas, no princípio começamos dividindo, um pedacinho de doce para cada um, pra fazermos uma boquinha. Uma tampa de desodorante de bebida, havia rum, e era só uma tampinha, eram 28 pessoas. Não havia muito, o tempo passou — isto foi antes da avalanche. Não havia nada para comer. Tinha uns estudantes de medicina que disseram que assim não sairíamos vivos. Mas antes de se chegar a essa decisão, discutimos a parte religiosa do assunto, teorias distintas, se era possível ou não. Um dizia que sim, outro dizia que não. Cada um com seu dilema, chegamos à conclusão de que era a última solução."


Isso, eles comeram a carne dos mortos - e são criticados até hoje por isso. Mas lembrem-se, era a única maneira de sobreviverem. E os mortos, em vida, deram autorização para a antropofagia.


Após todos decidirem que sua única chance de sobrevivência era buscar ajuda, Roberto Canessa, Nando Parrado e Antonio Vizintin partiram, no sentido errado, em busca de socorro. Vinzintin não conseguiu ir além do 3º dia, em más condições físicas, de modo que voltou aos destroços e os outros continuaram. Andaram, no total, por 10 dias.


No 10º dia viram dois homens em cavalos. Através de uma comunicação precária, pois estavam perto de um rio e não se ouviam, Canessa recebeu e devolveu uma pedra enrolada em um papel. Sua resposta foi:


"Venho de um avião que caiu nas montanhas. Sou Uruguaio. Nós estamos andando há 10 dias. Temos um amigo ferido, lá. No avião, ainda há 14 pessoas vivas e feridas. Precisamos sair daqui rápido e não sabemos como. Não temos comida. Estamos muito fracos. Quando vocês vêm para nos pegar. Por favor, nós mal podemos andar. Onde estamos?"


Quando foram resgatados, eram apenas 14 deles. Que vivem até hoje (2024).


Estavam todos desnutridos, desidratados e com geladuras.


Em 22 de dezembro, mais de 2 meses após a queda, foram resgatados.


2 helicópteros de resgate os conduziram à capital chilena. Os helicópteros enfrentaram um clima terrível.


De volta a, primeiro, o Santiago e, depois, Montevideo, foram recebidos com festa (embora o Chile vivesse uma ditadura), alegria, médicos, jornalistas e comida.


Assistam a essa situação retratada nos filmes:


  • Alive, Estados Unidos, 1993, de Frank Marshall;

  • Sociedade da Neve, Espanha, 2023, de J. A. Bayona.


Alguns dos sobreviventes, na hora do resgate.
Alguns dos sobreviventes, na hora do resgate.
Cruz no cemitério improvisado ao lado do avião.
Cruz no cemitério improvisado ao lado do avião.


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