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  • Foto do escritorRafael Torres

Riga, a cidade mística




Uma história curiosa sobre vozes (e um típico texto de blog): um dia, muito tempo atrás, eu estava jantando e o nome “Riga” me veio à cabeça. Eu nunca tinha pronunciado esse nome, não sabia sequer onde o tinha escutado. Mas de algum modo sabia que era uma cidade e que era linda. Pois foi na Wikipedia que eu descobri que Riga era a capital de um país báltico: a Letônia. Fiquei obcecado por ela, vi fotos da cidade, desejei conhecê-la como nunca havia desejado conhecer uma (e ainda desejo, os bons ventos não me carregaram pra lá até agora).


Algum tempo se passou. Estava eu na Desafinado (uma loja de discos) quando vi o CD do violinista Gidon Kremer. O disco se chamava “From My Home: Music From the Baltic Countries” e a capa era uma bicicleta em uma praia báltica. A praia era desolada e, com a bicicleta, triste. Como tristeza é comigo mesmo, comprei o disco, num ato de bravura não inédito (era caríssimo). Desde então “Báltico” pra mim é uma palavra mágica. Pois bem, nesse disco, uma das obras que mais me chamaram a atenção foi “Fratres” de um sujeito estoniano chamado Arvo Pärt.


Tempos depois. Eu estava em São Paulo e no auge do meu entusiasmo por Riga. Como passava o dia fazendo coisa nenhuma, ficava no computador baixando música no Lime Wire (antigamente baixava-se música assim). Foi quando a mesma vozinha (de voz, não de vó!) que me fez comprar o disco anos antes e que me sussurrou o nome “Riga” em um jantar começou a murmurar “Arvo Pärt”... No Lime Wire descobri dezenas de obras do cara. Ele segue uma corrente que alguns chamam de “minimalismo sacro”, com referências profundamente religiosas. Trata-se de uma obra altamente acessível, fácil de gostar, mas isso não a torna banal, há uma profundidade ali com que os outros minimalistas nem sonham.


Esse disco está no Spotify. A primeira faixa, é uma desolada "Elegia" de Dvarionas. Muito bonita, pra ficar só nos méritos estéticos. A segunda é "Fratres", música mais comumente gravada em sua versão para violino e piano, mas aqui, violino e orquestra. Aliás, você jura que vai ser um monólogo do violino até que entra a orquestra, com muito charme. Depois temos, sim, uma "Partita para Violino Solo", de Barkauskas. O disco gravita entre duas obras: "Fratres" e a belíssima "Nevertheless", de Pelēcis. Tudo é muito sombrio e soturno, dando um clima mágico ao CD. A maravilhosa "Conversio", de Tüür encerra o disco.


Hoje, no maravilhoso ano de 2020 (cof, cof), continuo fascinado por aquele mar, aquela bicicleta e aquela música. É dos países bálticos um dos meus regentes favoritos, Mariss Jansons (falecido em 2019). Além do clã de maestros Järvi. Não sei de ligações místicas. Só sei de uma coisa: eu ainda irei a Riga.


Em sentido horário: o violinista Gidon Kremer, o regente Paavo Järvi, o regente Mariss Jansons e o compositor Arvo Pärt.

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