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Renascença (parte 3) - Os Períodos da História da Música II

Atualizado: 1 de dez.

Por Rafael Torres

O Restante

Chamo de Restante essa parte que vai de 1530 a 1600, mas não de modo pejorativo. Aqui vivem os maiores compositores que a Renascença produziu. Tem o nascimento de um lendário coro com orquestra, em Veneza. Seu estilo era o Policoral Veneziano. Seu nome era Capela São Marco. Tão magnífico era, e tão grandiosa sua sonoridade que compositores de toda a Europa queriam compor para ele. Os músicos tocavam e cantavam de vários pontos da cidade, gerando um som quadrafônico que deve ter sido surreal escutar.


Em Roma, tem também a volta da Igreja Católica a tentar regrar e controlar novamente a música. Havia um grupo de compositores, a Escola Romana, que tinha ligações com o Vaticano. Seu compositor de maior destaque histórico foi Giovanni Pierluigi da Palestrina.



Giovanni Pierluigi da Palestrina (1525-1594)


Palestrina, juntamente com Orlande de Lassus e Tomás Luis de Victoria, formava o trio de compositores mais disputados da Escola Romana. Palestrina teve grande influência no desenvolvimento da Música Sacra e da Música Profana.


Ele nasceu na cidade de Palestrina e seu primeiro emprego foi o de organista na Catedral de São Agapito. Após 7 anos, o Papa o nomeou como Diretor Musical da Capela Giulia, que fica na Basílica de São Pedro, no Vaticano.


Seu primeiro casamento lhe trouxe 4 filhos, mas o que nos interessa é o segundo casamento. Ele se casou com uma viúva. E ela tinha dinheiro suficiente para que ele pudesse parar de circular de capela em capela e finalmente pudesse bancá-lo como compositor.


Em 1594, quando morreu, Palestrina nos deixou 105 Missas, 140 Madrigais e 300 Motetos. Sua maior causa, como músico, foi tentar fazer a igreja banir a polifonia, que ele via como complexa e ininteligível, por um estilo mais consonante e claro. Inclusive ele costumava escrever dissonâncias apenas nos tempos fracos, com isso em vista. Outra característica sua é era a de utilizar o Cantus Firmus com notas longas (semibreves).


O Contraponto estilo Palestrina que aprendemos na faculdade é, na verdade, uma recriação do compositor Barroco Johann Joseph Fux, que, partindo de seus estudos da obra de Palestrina, elaborou o Contraponto em Cinco Espécies no seu influente livro "Gradus ad Parnassum".


Dentre as obras principais de Palestrina estão as Missas In Festis Apostolorum, In Semiduplicibus Majoribus, Tu Es Petrus, Ecce Ego Joannes, Assumpta Est Maria, Missa Brevis, os Motetos Beata Es Virgo Maria, Regina Coeli, a série de Motetos Canticum Cantocorum, o Stabat Mater e 2 Livros de Madrigais Espirituais a 5 vozes e mais 3 Livros de Madrigais Profanos.


Observe que maravilha é o moteto Cicut Cervos, interpretado pelo Schola Cantorum of Syracuse.


 


Orlande de Lassus (1532-1594)


Orlande De Lassus teve grande influência no desenvolvimento da Música Sacra e da Música Profana. Seu nome pode ser grafado (e pronunciado) de várias formas, as mais comuns sendo Orlando di Lasso e Orlande de Lassus.

Orlande de Lassus.
Orlande de Lassus.

Ele nasceu em Mons, na atual Bélgica e sempre foi musical. Conta-se que, enquanto trabalhava de corista, foi sequestrado 3 vezes por conta da beleza de sua voz. Aos 12 anos, saiu do seu país e foi para a Itália, em Milão. ele conheceu músicos famosos. Andou por Nápoles, onde teve seu primeiro emprego, como compositor e cantor, depois foi a Roma, onde, em 1553, ele conseguiu um emprego sério. Era o posto de Maestro di Cappella (uma espécie antiga de regente e preparador de coro) da Basílica de São João de Latrão. Lassus tinha 21 anos e o emprego tinha muito prestígio.


Mas ele não queria emprego fixo, ele gostava de viajar. Falava francês, italiano, alemão, latim e outras. Em uma dessas viagens, para Munique, em 1558, ele passou a trabalhar para o Duque da Baviera. Acabou flertando e, depois, casando com a filha de uma Dama de Honra da Duquesa, Regina Wackinger, com quem teve dois filhos (que acabariam se tornando músicos).


As viagens terminaram quando, em 1563, ainda em Munique, foi apontado como Maestro di Cappella de Alberto V, o próprio Duque da Baviera. Lassus assentou lá e lá ficou para o resto da vida.


Ele ainda seria feito Cavaleiro do Esporão de Ouro pelo Papa Gregório XIII e pelo Rei da França, Charles IX e recebeu um Título de Nobreza pelo Imperador Maximiliano II, um Imperador Sagrado Romano que se tornou rei, de fato, da Boêmia, da Alemanha, da Hungria, da Croácia e, no final, Rei do Sacro Império Romano. Isso tudo atesta o alcance da fama de Lassus, mesmo fora dos meios musicais.


Lassus é autor de 2000 obras, dentre as quais se incluem: vários Madrigale Spirituale, sendo o mais famoso "Lagrime di San Pietro"; 530 Motetos; 150 Chansons (no estilo francês e em francês), 90 Lieder (no estilo alemão e em alemão). Agora a música sacra: 60 Missas, dentre as quais, "Missa Entre Vous Filles", "Tous les Regretz", "Missa Osculetur Me", "Missa Vinum Bonum" e "Missa Vanatorum"; os Motetos que formam o livro "Prophetiae Sibyllarum"; "A Paixão Segundo São Mateus", "A Paixão Segundo São Marcos", "A Paixão Segundo São Lucas" e "A Paixão Segundo São João"; "De Profundis" (salmos) e muitíssimo mais.


Ouça abaixo a bela e multipolifônica "Musica Dei Donum Optimi", um Moteto para 2 Sopranos, Contralto, 2 Tenores e Baixo. Lembrem-se que cada uma dessas vozes pode ser cantada por mais de uma pessoa. A obra é de 1576 e ele já usa polifonia avançada, com elementos de contraponto e de escrita harmônica. Aqui temos o grupo coral Tenebrae, regido por Nigel Short.



 

William Byrd (1540-1623)


E agora, para algo completamente diferente. William Byrd é outra coisa. Embora tenha uma vasta obra coral, ele é o primeiro compositor instrumental que veremos. Pertencia à Escola Virginalista Inglesa (que escrevia para um instrumento de teclado chamado Virginal).


As formas musicais pelas quais ele é mais lembrado são as Pavanas e Galhardas para Virginal. A Pavana é inspirada em uma dança muito lenta da Renascença, quase estática, enquanto a Galharda também é uma dança, mas apressada e alegre. Às vezes ele escevia uma ou a outra. Mas, escrevia, também, as duas juntas.


Byrd nasceu em Londres, em uma família abastada e em que corria a música. Não se sabe muito a respeito de sua infância (de nenhum deles, na verdade - mal sobreviveram as músicas!). Provavelmente foi aluno de Thomas Tallis na Chapel Royal, a Capela Real Britânica, que é um lugar em que se produz música para cerimônias religiosas e da realeza. E, segundo evidências, assim que Byrd mudou a voz, assumiu o cargo de assistente de Tallis.


William Byrd, em um retrato confiável, feito 150 anos após sua morte.
William Byrd, em um retrato confiável, feito 150 anos após sua morte.

Em 1563 ele assumiu o posto de organista e mestre dos coristas da Catedral de Lincoln, em Lincoln, uma cidade. Em 1569 William casou com Juliana Birley, com quem viria a ter sete filhos e uma vida feliz. Mas em 1572 ele volta a Londres, onde foi nomeado Cavalheiro pela Chapel Royal e, depois, organista. Sendo que o cargo de organista não era pago. Byrd foi mudando de cargos, adquiriu, ao lado de Tallis, o monopólio da impressão de música em Londres, foi conhecendo a realeza, inclusive a rainha Elisabeth I.


Ele viveu na época de William Shakespeare! Muito estudioso, aprendeu grego, latim e, provavelmente, francês, italiano e hebreu. Mas, em um mundo todo voltado à religião, ele demorou muito a adquirir sua fé. Quando adquiriu, ela veio na forma Católica. Acontece que a Inglaterra era oficialmente Anglicana (protestante). Escrever missas musicais era proibido. Ele jamais abandonou a fé (o que chamavam de recusante), e veio a escrever muita música sacra.


A sua família chegou a ser acusada de seduzir pessoas para a causa católica. A própria música de Byrd era "tão fora de moda quanto sua fé". No final das contas ele acabava escrevendo 2 tipos de Música Sacra: a anglicana e a católica.


Apesar de estarmos aqui dando o perfil religioso de sua música, ele é muito mais conhecido por suas músicas seculares, especialmente as instrumentais. Vou perfilar primeiro suas obras para coro e, em seguida, as instrumentais.


Suas principais obras corais incluem: a Missa a 4 Vozes, a Missa a 5 Vozes, a Missa a Três Vozes, 2 Livros de Canções Sacras, dezenas de Salmos, e muitas outras obras, predominantemente, canções.


Suas principais obras instrumentais incluem: "My Ladye Nevells Booke", de obras para teclado; "Fitzwilliam Virginal Book" para Virginal, mas hoje se toca ao Cravo ou ao Piano; e obras para consort. Geralmente, de Violas da Gamba.


Escute abaixo "In Nomine à 4", para consort de Violas da Gamba, em uma bela interpretação do grupo The Voice of the Viol, que pertence ao grupo Voices of Music.



E aqui, uma Galharda, do Livro Fitzwilliam, de Virginal, interpretada por Ernst Stolz.



 

Tomás Luis de Victoria (1548-1611)


Um dos mais conhecidos compositores do período final da Renascença, o espanhol Victoria era padre. Por isso mesmo, sua música é toda coral, polifônica, sacra e com textos em latim. Era considerada intensa como raramente se via na época. Mas vamos do início.


Catedral de Ávila.
Catedral de Ávila.

Tomás nasceu nas beiradas da cidade de Ávila, em Castela, na Espanha Contrarreformista. Ele foi menino cantor, aos 7 ou 9 anos, na suntuosa Catedral de Ávila. Era um exímio organista.


Em 1565, aos 19 anos, Victoria partiu, a pedido do Rei Philip II da Espanha. Partiu para Roma, como cantor e estudante no Collegium Germanicum et Hungaricum, fundado por Santo Inácio de Loyola e a mais antiga Universidade da cidade de Roma. Lá ele estudou Filosofia, teologia e, possivelmente, música com o grande Giovanni Pierluigi da Palestrina. Em 1573 Victoria fica se desdobrando com dois empregos: um como professor no Collegium Germanicum e o outro no Pontifício Seminário Romano. Lá ele foi Maestro di Cappella e professor de Cantochão.


Victoria foi ordenado padre em 1574 e, em 1975, foi nomeado Maestro di Capella da Igreja de São Apolinário. Depois, voltou à Espanha, quando Felipe II o chamou para ser Capelão de sua irmã, a Imperatriz Viúva Maria. Ele a acompanhou até a morte dela, por 17 anos.

 

É dito que sua música reflete sua personalidade, expressando seu misticismo e sua religião, sendo uma obra quase íntima demais. Ele tinha como característica a tendência de sobrepor e dividir coros com muitas vozes. As suas linhas melódicas em si eram complexas e o órgão sempre tinha grande importância, acompanhando o coro. Ademais, ele preferia que a obra soasse harmônica, pensando sempre na vertical, aos contrapontos elaborados de seus contemporâneos. Por fim, Victoria fazia uso abundante de dissonâncias.


Sua última obra é um Réquiem para a Imperatriz Maria.


Seus trabalhos mais importantes incluem: as Missas "Laetatus Sum", "Quarti Toni", "De Beata Maria Virgine" e "Vidi Speciosam"; vários "Magnificat"; várias "Lamentações"; 54 Motetos para 4, 5, 6, até 8 vozes; uma "Paixão Segundo São Mateus"; uma "Paixão Segundo São João" e os "Tenebrae Responsories", que são uma série de 18 Motetos a 4 vozes acappella.


Escute, abaixo, o Moteto a 4 vozes "O Vos Omnes", em interpretação do coral Tenebrae regido por Nigel Short.



 

John Dowland (1563-1626)


John Dowland foi um compositor, alaudista e cantor elizabetano que viveu no final da Renascença. Suas peças mais conhecidas costumam ser as para voz e alaúde, assim como as para alaúde solo, que, hoje, são tocadas majoritariamente ao violão moderno. É famoso, sobretudo, por suas Canções de Melancolia.


Do pouco que se conhece sobre sua infância, é possível supor que tenha nascido em Londres - mas pode ter sido em Dublin. O que se sabe é que, em 1580, foi para Paris para servir ao Embaixador da Corte Francesa. Nesse período ele se tornou católico. Neste momento ele já compunha bastante e publicava suas obras na Inglaterra.


John Dowland.
John Dowland.

Em cerca de 1584 ele voltou à Inglaterra e, logo, casou e teve um filho, Robert. Em 1588, John é graduado Bacharel em Música pela Universidade de Oxford.


Assim como William Byrd, é um católico em um país protestante. Isso trazia dificuldades. Por exemplo: em 1594 surge uma vaga de alaudista na corte. Mas sua aplicação foi deferida e ele sempre pensou ter sido por causa do seu Catolicismo, frente ao Protestantismo da Rainha Elizabeth I.


Quatro anos depois assume uma vaga na corte do Rei Christian IV, da Dinamarca. O rei era fascinado por música e o salário que ele entregava a Dowland era fabuloso. Mas, certa vez, Dowland, a pedido da corte dinamarquesa, foi à Inglaterra para comprar instrumentos musicais. Ocorre que, resolvendo problemas de publicação de suas obras, acaba ficando tempo demais em Londres, desagradando os patrões. Foi demitido em 1606 e voltou, mais uma vez, a Londres.


Em 1612 ele conseguiu o cargo de alaudista na corte de James VI, rei da Escócia. A partir daí suas composições começaram a escassear e John morre em 1626.


Suas obras principais incluem: 1 Livro de Salmos; 3 Livros de Canções para Alaúde e Coro ou Alaúde e Voz; Lacrimae, or Seven Tears, um Livro de Músicas Instrumentais para 5 Violas da Gamba e Alaúde e a sua última obra, A Pilgrim's Solace, para Violas da Gamba, Alaúde e Voz ou Coro.


Ouça abaixo a linda e famosa "Flow My Tears", uma de suas Canções de Melancolia, extraída do Segundo Livro de Canções. Os intérpretes são Phoebe Jevtovic Rosquist, a soprano e David Tayler, alaúde, eles pertencem ao grupo Voices of Music.



 

Claudio Monteverdi (1567-1634)


Claudio Monteverdi, por Bernardo Strozzi, em 1630.
Claudio Monteverdi, por Bernardo Strozzi, em 1630.

Claudio Monteverdi foi um compositor, regente de coro e instrumentista de corda do que, agora, podemos chamar de Transição de Renascença para o Barroco. Alguns estudiosos já querem catalogá-lo como Barroco. E tudo isso por causa de uma invenção que ele trouxe. Algo que era completamente inesperado enquanto ele estava vivo - não que ele tenha criado. Algo que encantaria multidões por, pelo menos 400 anos. A Ópera. Monteverdi fez isso 200 anos antes de Verdi fazer suas Óperas.


Mas vamos ao compositor. Ele nasceu em Cremona, Itália. Teve 5 irmãos e irmãs. Sua educação musical é toda incerta. Mas em 1613 ele foi Mestre do Coro da Capela de São Marcos, em Veneza. Aos 15 anos já havia composto 23 Motetos e outras obras.


Entre 1604 e 1646, Monteverdi escreve óperas. Muitas delas. L'Orfeu, uma de suas mais gravadas e tocadas nas salas de ópera, foi composta em 1607. Suas partituras não foram bem conservadas, de modo que das dez óperas que lhe são atribuídas, apenas 3 nos chegaram intactas: L'Orfeu, Il Ritorno d'Ulisse in Patria (de 1640) e L'incoronazione di Poppea (de 1643). Das outras, faltam pedaços da música ou do libretto.


Mas ele era consistente, também, em Música Sacra. Escreveu 8 Livros de Madrigais e Selva Morale e Spirituale, constituída por Motetos, Salmos, três Salve Regina, duas Missas e dois Magnificat.


Monteverdi morreu doente, em Veneza, em 29 de Novembro de 1643. Foi um músico respeitado, famoso e com a reputação de não ter medo de quebrar regras. E era moderno.


Veja, abaixo, trecho de Vespro Della Beata Vergine, com o Coro Monteverdi, regido por John Eliot Gardiner.



 

Maneirismo


Maneirismo foi um estilo artístico que apareceu na Itália e se desenvolveu entre (cirurgicamente) 1520 e 1600. Ou seja, nos últimos suspiros da Renascença. Era uma expressão, em especial, da escultura, da pintura e da arquitetura, mas se alastrou por todas as artes e também por toda a Europa. É possível que o movimento tenha sido engatilhado pela descoberta, em 1506, de uma escultura helenística em Roma (sim, helenística em Roma), chamada Laocoön. Também foi influenciado por artistas da própria Renascença e ainda vivos, especialmente Michelangelo e Benvenuto Cellini (este, converteu-se em um magistral escultor Maneirista).


Calcado no Humanismo Renascentista e naquela velha vontade que eles tinham de reviver, em muitos aspectos, a Antiguidade Clássica, e, também, em uma autopercepção de intelectualidade explícita, o Maneirismo era uma abordagem exagerada de elementos da arte. Tomemos a escultura como exemplo. A conduta Maneirista consistia em distorcer as características físicas do objeto (da escultura), muitas vezes com apuro técnico bastante alto, em aplicar artificialidade nas expressões e na aparência do objeto, em utilizar a técnica "Figura Serpentinata", que se originou ainda na Grécia Antiga e consistia em fazer, aplicando movimento à escultura, com que sua forma geral fosse espiralada e repleta de curvas. Tudo isso com o objetivo de tornar a obra mais expressiva, elegante ou autoritária.


O Rapto da Sabina, 1583, do flamengo Giambologna.
O Rapto da Sabina, 1583, do flamengo Giambologna.

Na música o Maneirismo tinha pouco cabimento: o contraponto estava em seu auge, e era uma técnica altamente regrada, quadrada e com pouco espaço para expressão. E aconteceu que o Maneirismo foi menos sentido pelos compositores. O que não significa que não tenha sido sentido. Mas é confuso. Denominar um compositor ou uma obra de Maneirista chega a ser polêmico. Não há consenso entre os musicólogos.


Há quem sugira que é Maneirista a música que utilize intervalos anômalos, harmonias experimentais e até que ensaie implantar o Temperamento Igual (tema que será abordado no Barroco). Mas não seria isso, simplesmente, a música tentando evoluir? De fato, encontramos esses elementos na música da época, assim como encontramos evoluções em todas as décadas desde o final da Idade Média.


De modo que eu vou lhes deixar um exemplo de música nesses moldes e vocês decidirão se é ou não Maneirista.


Fique com o Madrigal do Sexto Livro de Madrigais a Cinco Vozes do excepcional compositor e infame feminicida (link externo) Carlo Gesualdo. É "Io Parto, e Non Più Dissi". Nesse trecho tão mínimo de música você encontrará dissonâncias, algumas altamente radicais, e mudanças súbitas e igualmente futuristas na harmonia. A interpretação é do grupo Les Arts Florissants, dirigido por William Christie.

 


 

Considerações Finais


Se a Idade Média viu séculos de estagnação, a Renascença foi objetivamente mais inovadora. Hoje se enxerga a Idade Média com mais cautela e contextualização, tirando o veneno que, em boa parte, foi aplicado pelos Renascentistas. Mas, como disse, não há como negar a potência dos novos ares, parece que, bastou virar do ano 1399 para 1400, e o excesso de tragédia foi suavizado e as pessoas se tornaram mais pensadoras, progressistas e perfeccionistas. Ponderando que as mudanças ocorreram gradualmente, desde o fim da Idade Média até o fim da Renascença.


Gostaria de lembrar alguns progressos obtidos durante a Renascença (no que tange à música):

  • Maior utilização e organização da Polifonia, sobretudo do Contraponto;

  • Aprimoramento dos instrumentos musicais e surgimento de novas famílias;

  • Inovações na harmonia;

  • Utilização mais ampla e certeira das dissonâncias;

  • Melodias mais elaboradas;

  • Aprimoração da notação (escrita de partituras);

  • Surgimento da ópera;

  • Surgimento da editoração musical.


Mais do que podemos exigir de um período de apenas 200 anos. A Música Antiga é um período fascinante. De estudar, mas, principalmente, de ouvir.


 

Acho que o restante cabe na parte 4.



 


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