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Foto do escritorRafael Torres

Por que não gosto de ópera?

Por Rafael Torres

Bom, primeiramente, feliz ano novo. É a minha primeira postagem de 2025. E já é um esbravejar. Ou mais ou menos, vejamos.


Uma montagem sueca da ópera "Don Giovanni", de W A Mozart.
Uma montagem sueca da ópera "Don Giovanni", de W A Mozart.

Sempre me fiz essa pergunta (e, sem perceber, sempre tive a resposta). Ópera tem, pelo menos, duas "barreiras" a superar, já na sua concepção: a temporal; são peças longas, seja em dois, três ou mais atos. (Uma ópera de Wagner pode durar 4 horas. Fora a Abertura, que pode ser uma peça orquestral simples que introduz a ópera ou uma sessão inteira; ou o que Wagner chama de Vorspiel, ou prelúdio, que é, simplesmente, uma peça tocada pela orquestra antes que as cortinas subam, geralmente, entre os atos).


A outra é a linguística. Antes do nacionalismo atingir a Europa, nos anos 1850, tínhamos apenas Óperas cantadas em Italiano ou Alemão. Depois, vieram o tcheco, o russo, o inglês, o português e o espanhol. E qualquer língua que se interesse. A língua corrente é o inglês, o que quer dizer que a maior parte das óperas compostas hoje em dia, são (ou têm versões) em inglês.


Se eu quisesse apreciar a arte, a solução, óbvio, seria aprender italiano e alemão e ir "me virando" nas que são em outras línguas.


Isso, ou ler muto bem o resumo da ópera (que vem no programa da noite e você tem uma meia hora para ler) e ler as legendas.


Sim, porque, estamos em 2025. E eu tinha essa dúvida: óperas tinham legendas ou não? Ficou , a dúvida, ruminando, que é o que as dúvidas fazem, retroalimentando uma espiral louca, ao mesmo tempo em que ficava facilmente disponível para ser sanada.


Bastava ir a uma ópera. Ou perguntar ao meu irmão, que começava a apreciar. Mas eu não me interessava (a esse ponto). Foi então que, em uma das minhas primeiras viagens, a São Paulo, com meu pai, por volta de 2001-2, ele anunciou que tinha comprado dois ingressos para a ópera "Il Rigoletto", de Guiseppe Verdi (1813-1901). Seria no Municipal da cidade, com a orquestra e elenco do Theatro. Vou falar a verdade: nem lembro se era "Rigoletto", mesmo. Só lembro de impressões. A orquestra era muito melhor do que eu esperava (ainda é), os solistas eram excelentes (obviamente, nos papéis principais). E tinha legenda. Sim. Era toda legendada.


Mas você pensa que isso me fez "gostar de ópera"? Não. Sou muito cabeça-dura. Mas, afinal, por quê não gosto de ópera?


Poque eu acho muito brega, cafona. De mal gosto. Extravagante, exagerado. Motivo pelo qual jamais escutei ou escutarei o famoso "Concerto em Dó", para Piano, Orquestra Gigante e Coro Masculino Invisível, de Feruccio Busoni.


Mas, se fosse por isso, eu não gostaria da obra de Heitor Villa-Lobos (1887-1959). Mas, acontece que apenas uma das 11 Sinfonias sobreviventes (a 10ª) de Villa tem cantores. Das Bachianas, apenas a e a têm vozes. Dos Choros, apenas o 10º usa, necessariamente, um coro. Eu não ouço as peças. Em todas as minhas playlists, elas são eliminadas. Fora isso, Villa era o compositor extravagante mais cativante do mundo.


Veja, abaixo, as Bachianas Brasileiras nº 4, com a Orquestra Sinfônica Estadual de São Paulo, regida por Wagner Polistchuk. Esse tema (refiro-me ao do 1º movimento) é baseado em um tema que foi dado a Bach para que ele improvisasse uma fuga a 6 vozes. Bach sentou, cansado da viagem, observou o tema, e improvisou uma fuga (ricercar) a 3 vozes. E foi dormir. E, duas semanas depois, enviou ao desafiante uma obra chamada "Oferenda Musical", em que "trata" o tema (chamado thema regium, o tema do rei, já que o desafiante era um) das mais diversas formas: ele repete a referida fuga a 3 vozes, faz diversos cânons (cânon é uma forma um pouco mais simples de fuga), adiciona camadas, inverte, espelha, faz a tal fuga a 6 vozes etc. Você pensa que Bach o tinha tratado de todas as maneiras sãs. Mas faltavam as insanas.



 

Enfim...


Pois bem. Essa é a minha justificativa. Considerando que ninguém jamais perguntou sobre o assunto, está de bom tamanho. É uma mistura de preguiça com a crença firme de que ópera não é para os nossos tempos. O canto lírico, com todo o respeito aos cantores, verdadeiros artistas, não condiz com a nossa realidade, na minha imaginação.


 

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