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  • Foto do escritorDaniela "Chimp" Dias

O país está queimando

Atualizado: 17 de nov. de 2020


Mata nativa do pantanal em chamas.
Entre janeiro e julho, segundo o INPE, foram registrados cerca de 3.179 focos de incêndio no Pantanal.

O bioma Pantanal é considerado uma das maiores extensões úmidas contínuas do planeta. Este bioma continental é considerado o de menor extensão territorial no Brasil, entretanto, este dado em nada desmerece a exuberante riqueza que abriga.


Apesar de sua beleza natural e diversidade abundante de espécies (entre elas, o lobo-guará, criticamente ameaçado de extinção, e a onça-pintada, espécie alvo de planos de conservação), este bioma sofre constantemente com a atividade agropecuária, principal responsável pelos incêndios criminosos que, em 2020, tomaram proporções catastróficas. Sem planos de combate e fiscalização, nos colocamos diante de uma das maiores tragédias ecológicas do planeta.

Divulgação/AMPARA Silvestre. A maior concentração de onças do mundo está no Pantanal.

No ano de 2019, foram queimados 3,2 milhões de hectares entre Bolívia, Paraguai e Brasil nos meses de agosto e setembro. O céu de parte desses países ficou coberto de fumaça por semanas. Nas previsões climáticas para o período mais crítico de 2020, era evidente que a falta de chuvas e o tempo seco seriam acentuados, quadro que deveria ter levado à preparação de um plano específico para cada estado (MS e MT) e um outro conjunto entre os dois, considerando prefeituras, Ibama, Marinha e outros.


Com a ausência de investimento, bem como da organização de comitês específicos responsáveis pela contenção dos focos de incêndio, que deveria ser prioridade, rapidamente essa região tão rica do nosso país vem sendo dizimada. Segundo o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), foram mais de 67 mil focos registrados até junho, sendo 70,3% no Mato Grosso do Sul. Na agenda, deveria estar a proteção de Unidades de Conservação (UCs), que correspondem a apenas 4,6% do Pantanal, dos quais 2,9% correspondem a UCs de proteção integral e 1,7% a UCs de uso sustentável (Ministério do Meio Ambiente, 2020). No momento, somam-se 3 milhões de hectares perdidos por conta de queimadas, o que equivale a 10% do bioma.


Obviamente, precisamos também citar a impunidade acerca dos autores desse crime ambiental e o clima de baixa umidade, que é um fator que naturalmente colabora com a propagação do fogo com uma maior velocidade. Outro fator marcante, é que muitos incêndios se iniciam a partir das estradas que adentram o Pantanal, não existindo ações especiais preventivas com foco nessas rodovias.


Dito isso, observando todos os aspectos naturais da região, que propicia esse tipo de incidente, o que incomoda é precisamente a falta de fiscalização, planos de contenção e, principalmente, a falta de punição aos causadores de todo esse caos.


Não existe a possibilidade de debater tal assunto, sem mencionar a falta de compromisso e coerência por parte do principal órgão responsável (Ministério do Meio Ambiente), bem como a falta de interesse em relação à conservação de biomas brasileiros em geral, que já se encontram prejudicados em muitos quesitos de forma irreversível.


No dia 10 de setembro de 2020, um vídeo produzido pela Associação de Criadores do Pará (AcriPará), que reúne pecuaristas do Estado, circulava nas redes sociais, inclusive compartilhado pelo atual ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e do vice-presidente da República Hamilton Mourão. Como uma ação de "contrapropaganda", seria uma resposta a grupos que criticam a política ambiental do governo do presidente Jair Bolsonaro. Esse vídeo trouxe informações de ascendência duvidosa, sendo utilizado para rebater os dados de ONGs de conservação em relação às queimadas. Segundo os pecuaristas, as ONGs estariam “difamando a imagem dos agropecuaristas da região amazônica”.

Lalo de Almeida/Folhapress. Carcaça de macaco-prego.

A justificativa de Mourão para o misterioso aparecimento de um mico-leão-dourado no vídeo, tendo este sua ocorrência exclusiva no bioma Mata Atlântica, foi a de que “os agropecuaristas do Pará conseguiram fazer uma integração Amazônia-Mata Atlântica” e que “o Brasil é o país que mais preserva suas florestas no mundo”. Enquanto isso, o presidente do AcriPará informou que o uso do mico-leão-dourado foi uma “gafe” cometida pelos produtores do vídeo e “o que importa é a mensagem”.


Em entrevista à CNN, o secretário do Meio Ambiente de MS, Jaime Verruck, alertou: "Ouvi uma matéria em que o vice-presidente diz que nem todas as queimadas são ilegais. No Mato Grosso do Sul, todas as queimadas são ilegais, porque elas estão proibidas desde o mês de julho, a gente veda qualquer tipo de queima controlada".


E, segundo matéria do site Clima Info, a Polícia Federal cumpriu 10 mandados de busca e apreensão no Mato Grosso do Sul, em endereços de cinco fazendeiros que teriam se organizado para atear fogo intencionalmente na vegetação de suas fazendas em áreas remotas do Pantanal.


No ano de 2019, mais precisamente no dia 28 de agosto, foi publicada uma matéria no site do G1 que apontava três fazendeiros como autores também de crime ambiental no sudeste do estado do Pará, responsáveis pela queimada de uma área de mais de 5 mil hectares de floresta em local de reserva ambiental. O que dá a entender é que esses criminosos se aproveitam da época que propiciam as “queimadas naturais” para cometerem esses atos, que são chamados de “dia do fogo”, que, na maioria das vezes, fogem ao controle.


Ano passado, houve intervenção de vários órgãos ambientais, bem como do Exército Brasileiro, no combate às chamas, diferente deste ano, que, sem verba governamental, os órgãos responsáveis precisam contar com a ajuda de voluntários e doações para a interrupção das queimadas.


E sim, o título está com o verbo no tempo certo. Está queimando. Continua queimando e parece não ter data para acabar. O que se espera, no mínimo, é uma resposta do governo federal a respeito de quais ações serão adotadas para resolver esse problema que já se instalou, e de punição aos aparentes culpados por iniciarem essa situação que está destruindo o que resta de mais precioso em nosso país.


Em tempo: O Buzzfeed fez uma matéria sobre como ajudar e se informar sobre a situação que pode ser lida no link abaixo:



Fontes acessadas:

Ministério do Meio Ambiente: www.mma.gov.br





DANIELA "Chimp" DIAS é professora de Biologia e Ciências, e amante de etologia e evolução, principalmente de primatas. É mestra em Avaliação de Impactos Ambientais (Manejo e Conservação da Biodiversidade). Se amarra em tudo relacionado ao terror/horror e serial killers. Curte uns metal e sua banda favorita é o Pantera. 

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