Milagres de Mozart: O Duelo Musical
- Rafael Torres
- 28 de set.
- 3 min de leitura
Por Rafael Torres
Dezembro de 1781 veria um verdadeiro duelo de gigantes. O relativamente jovem (25 anos) Wolfgang Amadeus Mozart e o célebre virtuose italiano Muzio Clementi (de 29) tocariam ao teclado, perante um público enorme e o imperador José II.
Era mais do que um duelo musical. Cada parte tinha seu interesse. Para Clementi, era mais um concerto natalino e, ainda mais, um que valia um prêmio. Para Mozart, era chegada, finalmente, a hora de impressionar o imperador e ganhar um cargo comissionado na corte (e ainda tinha o prêmio).
Para Viena, cidade que receberia o duelo, para a Áustria e para o mundo germânico, valia a sensação de libertação. De que um compositor austríaco poderia vencer um "italiano".
O Prêmio era de 100 Ducados. Era muitíssimo.

As Regras
Na primeira rodada, ambos tocariam uma peça de sua escolha.
Na segunda rodada, eles revesar-se-iam tocando movimentos de uma sonata.
O Duelo
Mozart escreve:
"O Imperador (depois que eu e Clementi trocamos elogios suficientes) declarou que Clementi tocaria primeiro. 'La Senta Chiesa Cattolical' (Vamos ouvir algo da Igreja Católica, ele disse, sendo Clementi de Roma). Ele improvisou e tocou uma sonata."
Clementi tocou sua própria Sonata em Si Bemol Maior, Op. 24, Nº 2.
Logo depois, segundo Mozart, o imperador disse, simplesmente: "Allons, off you go!" (algo como vamos, vamos lá). E "eu improvisei e toquei umas variações".
Eram as Variações sobre a marcha "Dieu d'Amour", da ópera "Les Mariages samnites", de 1776, do compositor francês André Grétry. Alguns dias depois, ele as escreveria ipsis literis.
No final, o público aplaodiu Mozart vorazmente. O imperador, claramente inclinado a premiar Mozart, foi tomado de surpresa quando sua cunhada, a Grã Duquesa Maria Luisa (que tinha suas preferências pela música italiana) pediu que premiasse Clementi.
José II, então, resolveu premiar os dois: cada um com 50 ducados. Mas, secretamente, depois, José ganhara uma aposta da Grã Duquesa. Não se sabe como (e nem de quanto era a aposta), mas ela admitiu que Mozart fora melhor.
Considerações finais
Mozart não era (e nem pretendia ser) considerado o mais elegante dos seres humanos. Enquanto Clementi se derreteu em elogios até a morte (em 1832, aos 80 anos), Mozart esreveria, mais tarde:
Clementi toca bem, no que concene à execução da mão direita. Sua maior força está em passagens de terça. Além disso, ele não tinha um senso de gosto e sentimento com Kreutzer - resumindo, ele é mecânico... Clementi é, como todos os italianos, um charlatão. Ele marca presto, mas toca apenas, allegro.
O italiano, ao contrário, foi um entusiasta de Mozart.
Até então eu nunca tinha ouvido ninguém tocar com tanto espírito e graça. Eu fiquei particularmente tocado por um adagio e por várias das suas variações, para as quais o imperador escolhera o tema, sobre o qual improvisamos alternadamente.
Na Abertura de sua ópera "A Flauta Mágica", Mozart utiliza o tema da sonata de Clementi - a mesma, Op. 24, Nº 2.
1m18s, no vídeo abaixo, com a Sinfônica de Bournemouth, regida por Kirill Karabits.
Mas preciso lembrá-los que era comum e perfeitamente aceitável um compositor utilizar um tema que não era seu. Podia ser uma homenagem ou uma troça...
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