Por Rafael Torres
Enquanto o mundo inteiro, intrigado, discute sobre as intenções e motivações de Elon Musk, o Brasil parece que já sabe... Musk transformou o que deveria ser um entrevero entre sua rede social e a justiça brasileira, em um embate pessoal este si e o Ministro do STF Alexandre de Moraes.
Eu costumo assistir a YouTubers falantes de inglês, não sei pra quê. Mas eles estão preocupados, também. Há muito antagonismo a Musk na Europa, especificamente, no Reino Unido. Em Southport, 10 pessoas foram atacadas e três crianças morreram quando um rapaz de 17 anos entrou na escola de dança em que as vítimas estavam e as atacou à faca. Musk nada tem a ver com isso, claro. Mas, no X, foi amplamente espalhada a falsa informação de que o rapaz era muçulmano.
Há um imenso choque cultural entre Muçulmanos e Europeus do Oeste. Como há entre latinoamericanos e estadunidenses, nos EUA. São culturas inteiramente diferentes, com valores diferentes, educações diferentes, situações financeiras diferentes... O que leva o país rico a tratar mal o imigrante legal ou ilegal. A negar-lhe direitos, poibir que trabalhem. Então, acontece o óbvio. O Muçulmano ou o latinoamericano, empobrecido, desesperado, entra em uma vida criminosa. Ele nem mesmo imagina que a culpa disso tudo é da atual estrutura geopolítica. O país rico vê os índices de estupro, assassinato e assaltos subir e sua má vontade contra quem vem de fora aumenta mais e mais.
Se a direita aqui do Brasil já não tem um álvo específico (graças a uma luta intensa das instituições, tentando barrar o "olavismo"), ela atira para todo lado: homossexiais, transsexiais, umbandistas, candomblecistas, nordestinos (aí, mesmo quem não é de esquerda tenta desdenhar do nosso sotaque), indígenas e outros.
Isso me dói muito, porque acredito francamente que os indígenas vivem a vida ideal. Numa floresta de tamanho além da nossa capacidade de imaginar; com rios onde tomam banhos a céu aberto e de onde retiram sua água; respeitam os mais velhos, respeitam os mais novos, os pajés, os caciques, as mulheres... Eu, aos 43 anos e não pertencente a nenhum desses grupos, ainda assim, seria respeitado. Ou comido de uma vez (talvez, de bom grado).
Pois bem, no Reino Unido sucederam-se vários ataques da população à polícia, com a agragação de várias cidades, inclusive Belfast, a capital da Irlanda do Norte. Elon Musk, se tem uma coisa que ele sabe, uma única informação naquele cérebro de ficção científica, é que ele tem influência sobre os jovens (e muitos não-jovens). Na metade norte do mundo, existem até os Elon Musk fanboys, que passam praticamente toda a sua vida inútil justamente na internet defendendo o guru.
E o que uma pessoa com esse poder deveria fazer? Informar-se ao máximo sobre a situação, escrever, se quiser, palavras de conforto, com uma postura centrada e com cuidado máximo ao recomendar algo em sua rede. Foi o que ele fez? Veja o que ele postou:
Eu não acho que alguém devesse ir ao Reino Unido quando eles estão libertando pedófilos condenados para prender pessoas por suas postagens na mídia social.
Claro, houve uma chuva de ataques a ele, e de contra-ataques por lá. E isso gerou mais brigas e ataques, espalhou-se para a Alemanha e outros países e culminou em uma postagem arrasadora (no pior sentido) de Musk:
Se a atual corrente continuar, uma guerra civil na Europa é inevitável.
Isso, até onde eu sabia, é crime. Ele está, sim, incitando a população a se rebelar. Inventa argumentos, alavanca os de outras pessoas que pensam como ele e a desinformação só aumenta.
Veja a interação abaixo.
Gad Saad diz: "Já por muitos anos, tenho dito que o caminho que o ocidente tomou vai resultar em guerra civil. Pode ser em 5 anos, 50 anos, 100 anos, mas é inevitável."
Elon Musk divulga a mensagem completa do Gad Saad e arremata: "Você está certo!".
(Quando, por acaso, eu me imagino interagindo com o Musk, sempre me vem à mente sua voz: "Hello. I'm Elon, the asshole, Musk".)
A situação é a seguinte: Europa e Estados Unidos têm, muita coisa entalada na garganta. Mas a maioria é mentira. Imaginação. Eles são táo fáceis de ser enganados quanto nós (ou melhor, metade deles... enganados quanto metade de nós) E ficar usando essas mentiras como escudo das suas próprias, me lembra um "olavete" que eu conheci: "É como o professor Olavo diz. Se entrar um aluno meu dizendo que a partir de agora seu nome é Amanda, eu tenho que chamar de Amanda? Senão vou preso?". Bom, primeiro, eu respondo que a pergunta já está mal elaborada, provavelmente de maneira ardilosa. A pessoa que te pediu para chamá-la de Amanda, não é mais o Felipe, o Juan, o Artur. É a Amanda. Sei que você não entende isso. E nunca entenderá, está além de você.
Mas, se pesquisasse, entenderia. E, até mesmo, por respeito à Amanda e tantas outras que vão aparecer, eu digo: você tem obrigação de se informar. De se informar direito! Segundo, olavetes têm pavor de ser presos (como não?) ou forçados pela justiça a fazer ou não fazer algo, mas, acreditanto estar seguindo os seus princípios, certamente se recusariam a falar o nome com que ela se sente confortável. Seriam presos, "o mundo é injusto" etc... Amanda trocaria de professor, nunca mais pensaria no assunto, teria um namorado, marido, poderia adotar crianças, ter uma vida. Como o "olavista" jamais terá.
O vídeo abaixo é completamente opcional, pois não tive como traduzir. O YouTuber canadense Ryan George, com toda a sua ironia e humor compacto, fez este esquete imaginando a situação de Elon querer comprar aquele restaurante por não gostar do lugar. Vai comprá-lo pelo dobro do valor de mercado, demitir todo mundo, automatizá-lo e chamá-lo de 'Z'.
E no Brasil?
Quando Donald Trump virou Presidente dos Estados Unidos, da noite para o dia (para mim, foi. Fui dormir e, quando acordei...), eu pensei: "Jamais um verme deste tamanho seria eleito por eleitores brasileiros." Claro que, por aqui, já despontava o verme-mor, mas, acreditava eu, as suas chances eram muito pequenas.
A "verdade em que acredito", digamos assim, é que Alexandre de Moraes começou agindo pelos melhores interesses do Brasil. Falando simplesmente, fica óbvio. Muita gente publicando mentiras que só fazem afundar o país. Alexandre manda que Musk retire essas páginas do ar. Musk fica ofendidinho e ameaça tirar seus funcionários (do X) do Brasil. Alexandre diz que, segundo as leis brasileiras, respeitadas por todas as redes sociais, um serviço como o X só pode permanecer no ar se tiver representantes físicos aqui. Musk se recusa a obedecer. O X é tirado do ar.
No fim desse processo todo, creio eu, Alexandre passou a agir o pela própria dignidade do Brasil. Como falei, assisto a YouTubers da Inglaterra, Escócia, Estados Unidos, Canadá e até França. Existe um respeito imenso pela gente. Claro, é decadente mendigar aprovação de países grandes. Mas não é isso. Eles se encantam com muita coisa daqui. E não só natureza e mulheres. Mas com coisas que muita gente daqui sequer sabe. O PIX, o calor humano, o tamanho, a literatura, a saúde gratuita, o cinema. A nossa própria humanidade. O que eles chamam de casamento interracial, nós chamamos de casamento. Talvez o Brasil precisasse se enxergar com os olhos de algum deles.
A situação estava assim, para Alexandre: ou eu faço o meu trabalho, consultando e seguindo todas as regras, ou abro uma exceção inédita para esse ricaço sem controle. Entenderam? A dignidade do Brasil! Não podemos abrir exceção para alguém só porque é rico. Além disso, o Brasil tem várias outras formas de comunicação. Outras redes sociais (estrangeiras, naturalmente) em que a mentira também é derramada. Mas eles parecem compreender que a soberania de um país não pode ser comprada.
Brasil 2019
Quando o Bolsonaro subiu a rampa, em Brasília, não foi um homem que subiu. Foi o cinismo. O cinismo do Brasil, que se concentra em metade de sua população. Um amigo meu ouviu, de seu irmão, no mesmo dia: "Toma cuidado, que, agora, viado vai apanhar cedo!". O irmão falou de brincadeira, mas totalmente fora de hora. O bolsonarismo não criou nada. Trouxe à tona o que já estava, digamos, entalado na garganta de milhões. Frases feitas mentirosas, ódio (dessa metade do Brasil) contra o que julgava inferior (sem perceber que inferior era ela), Caio Coppola, Monark, a familícia evangélica Bolsonaro e ainda mais visibilidade ao "filósofo", "professor" Olavo de Carvalho. Eu mesmo considero que perdi irmãos e tios. Tenho um amigo que perdeu os pais. Muitas famílias chegaram ao ponto de nunca mais poder voltar a ser o que outrora fora.
Eu não sei se é preciso, mas é, ao menos, importante relembrar alguns absurdos que esse povo dizia sem ir para a cadeia porque a gente, os normais, não sabia reagir:
"O homem medíocre não acredita no que vê, mas no que aprende a dizer." Olavo de Carvalho, sem saber que falava de si mesmo e de seus seguidores;
"Moderação na defesa da verdade é um serviço prestado à mentira." Olavo de Carvalho, em momento de não-percepção semelhante;
"Se a hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude, o cinismo é a afirmação ostensiva do vício como virtude." Olavo de Carvalho falando filosofês para as massas, língua em que não sou (e prefiro jamais ser) fluente, mas traduziria como uma reavaliação da hipocrisia ante o cinismo. Do tipo: "Se eu sou hipócrita, o senhor, pior, é cínico". "Mas tem que ler todo o texto, tudo o que ele jamais escreveu e leu para debater com ele!", diria a "olavete". Mas aí fica difícil. Acho que só umas mil pessoas no mundo poderiam falar alguma coisa e, provavelmente, como no caso do Olavo, só sairia bobagem;
"A crítica não tem sobre a psicologia das massas o poder sugestivo que têm as crenças afirmativas, mesmo falsas." Olavo de Carvalho. Olha aí... começando a admitir...;
"Melhor um latifúndio de falas, que um deserto de ideias." Caio Coppolla, provando que os direitistas pensam no seu próprio deserto de idéias quando vão criticar algo;
"No Brasil do Século 21 não importa o que diz a lei, mas quem diz a lei." Caio Coppolla, sem notar que isso ficou super evidente na época do Bolsonaro.
“Eu sinto simpatia pelas pessoas que estão protestando, esse nosso estado é uma ditadura nefasta e autoritária, só roubam o povo. Algo deve ser feito, mas nossa classe política se provou covarde e conivente, com isso é normal o povo se sentir sem esperanças e rebelar.” Monark, ante os atos anti-democráticos de 8 de janeiro de 2022, mostrando que entendeu tudo de cabeça para baixo.
"A coisa tem 3 caminhos agora (sic) para seguir: Estado cede aos manifestantes ao ponto (sic) de desmobiliza-los; Estado usa da força para retirar tudo mundo e prendendo algumas pessoas; os manifestantes se cansam e vão para casa." Monark, formulando tão mal a frase que nos faz relê-la até compreender onde estava o terceiro caminho. E eu facilitei, com o ponto e vírgula.
"As operações de paz da ONU acertadamente usam armas (quê?). Mas na entrada do prédio da ONU em NY fica essa escultura desarmamentista. Como todo bom desarmamentista eis a máxima 'armas para mim, desarmamento para os outros'." Eduardo Bolsonaro, com sua máxima de valor argumentacional mínimo. Se é que ele está tentando fazer o que eu entendi: defender o armamentismo (é possível que eu tenha criado essa palavra).
"Itália de olho na economia (sic) muda a estratégia contra o alarmismo." Eduardo Bolsonaro, ignorando voluntariamente que a Itália, no dia em que ele publicou esta postagem, estava em lockdown.
"No Brasil, ainda, nós temos por ano mil amputações de pênis por falta de água e sabão.” (sic) Jair Bolsonaro, tirando essa estatística do próprio reto.
"Os gays não são semideuses. A maioria é fruto do consumo de drogas..." Jair Bolsonaro, tentando tirar da nossa cabeça esse "preconceito" de que os gays são semideuses.
Agradeço pela visita. Aviso que, se me esculhambar nos comentários de maneira educada, um dia, eu respondo.
Veja aqui uma lista de links interessantes da Arara Neon.
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