Em 1998 e 1999 a Philips lança o maior projeto fonográfico da história. A caixa Great Pianists of the 20th Century. Os discos duplos custavam, à época, exorbitantes 50 reais. Que na época valiam 50 dólares! Não me pergunte onde eu arranjava esses reais.
Foi assim, escolheram 72 pianistas e os organizaram em 100 volumes. Isso porque, embora a maioria tivesse apenas 1 volume, alguns tinham 2, como a Martha Argerich, o Walter Gieseking e o Friedrich Gulda. Outros chegavam à marca de três volumes: Vladimir Horowitz, Emil Gilels, Sviatoslav Richter, Claudio Arrau, Alfred Brendel, Arthur Rubinstein... Eram 100 volumes duplos, ou seja, 200 CDs. E cada CD tinha cerca de 80 minutos, o que até então nós considerávamos impossível: sabíamos que os CDs tinham sido projetados para comportar 74 minutos de música (quando a Sony e o maestro Herbert von Karajan estavam idealizando o formato do CD, chegaram a esse número pensando na duração da 9ª Sinfonia de Beethoven).
Eu e meu irmão passávamos horas discutindo sobre as gravações, algumas tão perfeitas que é difícil hoje achar iguais. Claro que, numa seleção de 72 não podiam caber todos os pianistas notáveis do século, e as ausências mais notáveis foram: Guiomar Novaes, Emanuel Ax, Philippe Entremont, Ferruccio Busoni etc. Mas era graças às inclusões que ficávamos sabendo de intérpretes do piano sobre os quais dificilmente ouviríamos falar de outro modo. Sofronitsky, Solomon, Bruk e Taimanov, Fischer, Friedman e tantos outros.
Era difícil, na época, acharmos discos de Nelson Freire, por exemplo. Ainda mais Alfred Cortot. Aí veio a coleção e trazia não só gravações remasterizadas como, muitas vezes, inéditas. As lojas de disco tinham uma seção para música clássica, e nelas sempre tinha vários volumes. Havia aqueles que eram fáceis de achar: Argerich, Arrau, Horowitz, Nelson Freire; e outros que não achamos nunca. Tinha, na Amazon americana, a caixa com todos os volumes. Era 2.500 dólares. Ainda hoje, sempre tem lá. E pelo mesmo preço.
Eu tenho 32 volumes, porque continuo comprando até hoje. Os outros eu consegui baixar, na época. Com os encartes e tudo. O que não me impede de comprar quando os encontro.
As gravações que mais me chamaram atenção foram: Nelson Freire - Fantasia em Dó, de Schumann e das Terceiras Sonatas de Chopin e Brahms; Martha Argerich - Concertos para Piano Nº 3 de Rachmaninoff e Prokofiev e o Concerto em Sol, a Sonatina e Garspard de la Nuit, de Ravel; Michelangeli - os Prelúdios de Debussy; Horowitz: a Kreisleriana e a 3ª Sonata de Schumann; Gilels - a 8ª Sonata de Prokofiev; Weissenberg: os 3 Movimentos de Petrushka, de Stravinsky e as Estampes, de Debussy (na verdade, acabei de perceber que vou ficar o dia todo aqui, de modo que vou parar agora).
Aconselho a você pesquisar sobre esta coleção e sair atrás de escutar algumas dessas gravações. Infelizmente os discos não podem ser encontrados no Spotify nem no iTunes, exceto alguns poucos. Mas os encartes, responsáveis por grande parte da graça, só se você compra-los no mercado de usados.
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