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  • Foto do escritorNílbio Thé

A Revolta das Roupas


Claro que é uma foto de banco de imagem, porque as minhas meias sumiram

A gente não sai de casa nessa quarentena, mas as roupas saíram do canto como? Dia desses fui procurar uma meia e não lembrava mais onde ficavam as meias aqui em casa. Um cinto, eu passei dez minutos para achar. Passar meses só de cueca, quando não pelado, deve ter desligado algumas sinapses que passei anos para construir.


Então não é a roupa que se mexe, é a memória de onde a gente guarda as roupas que muda, mexe, desaparece. Uma espécie de revolta. Talvez façam isso justamente para a gente não ter como sair de casa. Sim, vamos analisar....


Comecemos pelas meias. Ninguém gosta de ganhar meias de natal, por exemplo (experiência própria, estou plenamente no meu lugar de fala aqui). Sobretudo quando você ganha meias de presente de natal em mais de um natal na sua vida. Ou mais de dois natais na sua vida. Mas ainda assim, a meia é um acessório que não se pode ignorar se você não gosta de ter chulé ou se você está num dia frio. E elas não gostam de ser ignoradas. E por isso somem.


Já imagino um especial de jornalismo investigativo com a voz do Sérgio Chapelen: “Meias, aonde vão, quando voltam, porque se desreproduzem?” “Espera, para tudo um instante: você escreveu ‘desreproduzem’, mesmo?” Sim, escrevi, um neologismo crônico, isso aqui, e pensa comigo que quando um ser se reproduz ele gera ao pelo menos um outro ser semelhante, ele duplica. Não é? pois ao invés de duplicar como toda boa reprodução minimamente exige elas se perdem dos pares então somente o Saci Pererê conseguiria usar esses “pares” de meias fisicamente limitados em 50%.


E ainda existe, para aqueles que se preocupam (ou precisam se preocupar) com o visual, a necessidade de se harmonizar (seja por semelhança ou por contraste) as roupas com o acessório obrigatório da temporada: A máscara. Mas de nada adianta sair de casa com uma máscara se você não acha um cinto, pois se suas calças caírem no meio da rua, ainda que de máscara você passará por situações vexatórias.


E eu falei do cinto porque passei 10 minutos para achar o meu. Mas eu falei da máscara, né? Então... Máscara usa quando sai de casa, você não sai de casa e.... A máscara vai parar junto com as meias, ou seja: num buraco de minhoca interdimensional.


Contudo, as coisas sempre podem piorar, tipo... E quando a máscara some e some junto com a carteira? E quando você precisa usar uma cueca e ela some? Eu nem vou contabilizar as mulheres que geralmente têm o dobro de roupa íntima por causa do sutiã, e nem vou falar do misterioso caso das mulheres que têm que usar calcinha e sutiã combinando, limitando ainda mais a esperança de achar simplesmente algo que possa ser vestido de qualquer jeito. Eu fico imaginando se eu precisasse de sutiã, eu mal consigo combinar meias, imagina combinar a roupa de baixo! Eu tenho (ou tinha, essa quarentena, como disse, tá bem misteriosa em relação ao vestuário doméstico) um par de meias soquetes que usava pra caminhar e malhar, sobretudo. Descobri que uma era da Nike e a outra não tinha marca. E pra mim uma era o par da outra, imagina então se eu ia usar uma calcinha e um sutiã da mesma cor? Eu digo isso porque tenho uma amiga que só pendura uma roupa amarela no varal com um prendedor de roupa igualmente amarelo, se não for da mesma cor ela não consegue colocar no varal. Eu pressuponho que se ela tem esse cuidado no varal deve usar calcinha e sutiã combinando também.


Mas por falar em varal... E o ferro de passar? Nem ferro de passar tá passando em nada. Eu estou tentando não enlouquecer, vou me preocupar com o ferro? Nem sei onde tá. Alias, não sei onde está muita coisa, cancelei foi o meu cartão do banco digitando a senha errada porque os números não estavam no canto certo da minha cabeça, decerto!


Mas as roupas... Ah!, se pudéssemos ser todos naturistas. Mas, claro, tem coisas que não dá pra fazer pelado, como cozinhar (que é o que aparentemente a maioria das pessoas tem feito). Eu conheço a triste história de um cara, do pinto dele e de uma jarra de café que só não é mais trágica e triste porque envolve o poético orvalho da manhã o que torna tudo mais suave numa narrativa. Até uma queimadura no pinto (acho, porque agora eu não estou no meu lugar de fala, já que nunca queimei o meu).


E outra: ainda existem os casos em que encontramos a roupa, mas ela mudou de tamanho, ficou apertada e não nos serve mais. Por que será? Duvido que eu tenha engordado. Mas, ainda assim, é raro, porque, ao que parece, o fato é esse... A roupa não somente desconhece o isolamento dentro da gaveta como, ao que parece, também está roupando as sinapses da gente e desenvolvendo sua própria inteligência artificial.


Em breve, mais um conto apocalíptico de 2020: A revolução das roupas! E talvez eu descubra que pior que ganhar meias de presente talvez seja ser enforcado por elas como exemplo para todos os outros seres humanos pararem de deixa-las cheirando a mofo e naftalina.

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