O poderoso poema antirracismo da cantora irlandesa Imelda May, “You Don't Get To Be Racist And Irish” (Você Não Pode Ser Irlandês e Racista), está sendo exibido em outdoors por toda a Irlanda.
Imelda fala para o jornal Irish Independent mais sobre a mensagem por trás da sua poesia, que faz parte da campanha Rethink Ireland, um fundo de apoio para organizações e grupos que capacitam comunidades marginalizadas e enfrentam a desigualdade sistêmica.
Ela diz: "Somos todos humanos e, portanto, devemos mostrar nossa humanidade uns aos outros, caso contrário, o que seríamos? Estou muito feliz que o poema tenha fomentado alguma discussão e sou grata por ter encontrado as palavras para ser capaz de escrevê-lo. Mas acho que agora não é o momento de ouvir minha voz. É hora de ouvir as vozes daqueles que precisam ser ouvidos."
Após a morte de George Floyd nos Estados Unidos e os protestos que se seguiram ao redor do mundo, o povo em toda a Irlanda refletiu sobre os próprios problemas raciais de seu país. Isso levou a manifestações em massa em Dublin e cidades como Galway e Cork, bem como ao reconhecimento entre os líderes de todos os partidos políticos de que a mudança é necessária.
O poema, além de uma resposta aos eventos ocorridos recentemente, também faz lembrar que a própria história irlandesa, por ser vítima da opressão, torna o racismo imperdoável. You Don't Get To Be Racist And Irish pode ser lido integralmente no original, em inglês, e logo em seguida a versão para o português da tradutora brasileira Paola Benevides, que reside na Irlanda desde 2016.
You don’t get to be racist and Irish
You don’t get to be proud of your heritage,
plights and fights for freedom
while kneeling on the neck of another!
You’re not entitled to sing songs
of heroes and martyrs
mothers and fathers who cried
as they starved in a famine
Or of brave hearted
soft spoken
poets and artists
lined up in a yard
blindfolded and bound
Waiting for Godot
and point blank to sound
We emigrated
We immigrated
We took refuge
So cannot refuse
When it’s our time
To return the favour
Land stolen
Spirits broken
Bodies crushed and swollen
unholy tokens of Christ, Nailed to a tree
(That) You hang around your neck
Like a noose of the free
Our colour pasty
Our accents thick
Hands like shovels
from mortar and bricklaying
foundation of cities
you now stand upon
Our suffering seeps from every stone
your opportunities arise from
Outstanding on the shoulders
of our forefathers and foremother’s
who bore your mother’s mother
Our music is for the righteous
Our joys have been earned
Well deserved and serve
to remind us to remember
More Blacks
More Dogs
More Irish.
Still labelled leprechauns, Micks, Paddy’s, louts
we’re shouting to tell you
our land, our laws
are progressively out there
We’re in a chrysalis
state of emerging into a new
and more beautiful Eire/era
40 Shades Better
Unanimous in our rainbow vote
we’ve found our stereotypical pot of gold
and my God it’s good.
So join us... 'cause
You Don’t Get To Be Racist And Irish.
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Você não pode ser Irlandês e racista
Não dá para ter orgulho da sua herança
de suplícios e lutas por liberdade
enquanto se ajoelha no pescoço do outro!
Você não tem o direito de cantar canções
sobre heróis e mártires
mães e pais que choraram como morreram de fome
Ou do bravo coração de fala mansa dos poetas e artistas
fazendo fila num campo de extermínio
vendados e amarrados esperando por Godot
e ressoando à queima-roupa.
Nós emigramos
Nós imigramos
Nós nos refugiamos
Por isso, não podemos recusar
a nossa hora de retribuir o favor.
Terra roubada
Espíritos quebrados
Corpos esmagados e inchados
sinais profanos de Cristo pregado a uma árvore
(Essa) que você pendura em seu pescoço
Feito o nó da forca do libertado.
Nossa cor pastosa
Nosso sotaque grosseiro
Mãos como pás de argamassa e alvenaria
fundação das cidades
você agora se põe de pé
Nosso sofrimento escoa de cada pedra
onde surgem as oportunidades
pendendo sobre os ombros
dos nossos antepassados
que deram à luz à mãe de sua mãe
Nossa música é para os justos
Nossas alegrias foram conquistadas
Bem merecidas e servem
para nos lembrar de relembrar
Mais Negros
Mais Cães
Mais Irlandeses
Ainda rotulados de duendes, Micks, Paddys, brutamontes
nós estamos gritando para dizer
que nossa terra, nossas leis
estão progressivamente por aí
Estamos em uma crisálida
num estado de emergir em uma nova
e mais bela Irlanda (Eire)/era
40 Tons Melhor
Unânimes em nosso voto pelo arco-íris
encontramos nosso pote de ouro estereotipado
e meu Deus é bom.
Então, junte-se a nós... ‘porque
Você não pode ser racista sendo irlandês.
Abaixo um vídeo com Imelda declamando seu próprio poema em inglês.
PAOLA BENEVIDES nasceu em Fortaleza e é licenciada em Letras e pós-graduada em Linguística Aplicada (Tradução), pela UECE. De cantora e compositora em bandas independentes, transita entre performances em saraus, experimentos audiovisuais, midiáticos e místicos. Possui poesia e prosa publicadas em antologias, blogs, zines e revistas literárias. Cofundadora da @logoslanguageservices, é revisora textual, transcritora, tradutora e intérprete. Autoexilada em Dublin desde 2016.