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O Mistério do Trágico Incidente Dyatlov

  • Foto do escritor: Rafael Torres
    Rafael Torres
  • 25 de mar.
  • 18 min de leitura

Atualizado: 28 de mai.

Por Rafael Torres


Editado em 25/05/2025


Parte do grupo de Dyatlov.
Parte do grupo de Dyatlov.

A Terra tem muitos mistérios. Um mistério é ter gente que acha que ela é plana. Outro: como foi que o mundo se tornou tão desagradável? Se reduzíssemos a humanidade ao ideal de certas pessoas, só haveria: homens, loiros, altos, héteros (sei lá como, pois não existiriam mulheres), armados e com camisa xadrez. E nenhum deles poderia pilotar um avião. Não acho sustentável.


Tá bom, estou pensando alto. O que eu quero falar aqui é daquele que me parece um dos maiores mistérios da história. O Incidente Dyatlov. Eu tive minha fase, quando a internet era mais incipiente, de bancar o detetive e buscar respostas ou conjecturas sobre grandes enigmas. Não tenho mais, a maioria parece bobagem. O Mary Celeste, por exemplo: pode ter sido uma tempestade, ou então o capitão pirou e matou todo mundo. Ou acharam uma ilha tão bonita que quiseram ficar lá. Amelia Earhart tenho quase certeza que caiu. Mas o Incidente Dyatlov é o diacho. Simplesmente não tem explicação. Vamos do início.


Em fevereiro de 1959, Rússia, um grupo de 10 esquiadores e esquiadoras, liderados por Igor Dyatlov (pronuncia-se Diatlov, não Daiatlov), partiu em uma expedição pelos montes Urais. Eles queriam chegar ao monte Otorten, a 10 Km de onde partiram. Um dos esquiadores ficou doente e voltou, restando apenas 9.



Os Personagens

Os nomes russos são constituídos pelo prenome + o nome do pai, seguido de vich ou evich + o sobrenome do pai.


Yuri Yefimovich Yudin seria o 10º da expedição, mas a saúde o eliminou (salvou?), no começo da escalada. Ele viveu com o trauma, declarando à imprensa que, se pudesse fazer uma pergunta a Deus, seria: "O que aconteceu com meus amigos naquela noite?" Morreu em 2013, tão ignorante da resposta para sua hipotética pergunta divina quanto todos nós.


Abaixo: Nikolay Vladimirovich Thibaux-Brignolelle, Rustem Vladimirovich Slobodin e Semyon Alekseevich Zolotaryov;



Zinaida Alekseevna Kolmogorova, Georgiy Alekseevich Krivonischenko, Igor Alekseevich Dyatlov;



Yuri Nikolaevich Doroshenko, Aleksander Sergeevich Kolevatov, Ludmila Aleksandrovna Dubinina.




O Incidente

O objetivo da expedição era alcançar o Monte Otorten, na Cordilheira dos Montes Urais, Rússia (então, União Soviética). O grupo estava animado. A trilha era difícil, mas todos eles tinham experiência. Ora, alguns fizeram a expedição para ganhar o nível 3 no montanhismo. No dia de fevereiro eles acamparam numa passagem conhecida como Kholat Syakhl, que significa Montanha dos Mortos na língua Mansi, do povo local. Ou, então, Montanha Estéril.


Hoje o lugar é conhecido como Passagem Dyatlov - não há quem traduza essa coisa? Não há consenso sobre nada a respeito do Incidente Dyatlov? Verão que não.


Até quando acamparam, tudo estava bem, os diários e fotografias nos certificam disso. Mas de madrugada alguma coisa aconteceu. Alguma coisa fez aqueles 9 jovens abandonarem o calor de sua barraca e irem procurar refúgio na floresta, a cerca de 1.500 metros da clareira onde estavam.


Eles saíram da barraca, não pela porta, mas por cortes feitos à faca no pano da lateral. Alguns saíram de meias, outros com apenas um sapato e outros, ainda, descalços. O frio era desesperador, cerca de - 30º C. As pegadas indicam que eles não estavam correndo em desespero, mas que saíram ordenadamente.


Semanas depois, quando eles não apareceram, as autoridades começaram a encontrar os corpos. Foram encontrados nos mais diversos lugares. Alguns fizeram uma fogueira sob as árvores, mas morreram de frio, mesmo assim (estavam só com a roupa de baixo), outros caíram de uma ravina, outros morreram de hipotermia ao tentarem voltar para a barraca. No final das contas nenhum dos nove apareceu no ponto final.


Uma das moças tinha a língua decepada e estava sem os olhos (dizem que pode ter sido algum animal ou até mesmo o frio, mas muitos questionam essas hipóteses). Um outro tinha levado uma pancada no peito comparável à de um atropelamento. Outro estava sem a orelha! Outro, ainda, tinha um buraco na parte frontal da cabeça.


Na árvore, os galhos tinham sido quebrados até 5 metros de altura, dando a entender que alguém tinha subido para olhar a barraca.



(Parêntesis para Semyon Zolotaryev

- Um dos membros do grupo, Semyon Zolotaryev, era, no mínimo, estranho. Ele não era do grupo; tinha uma certidão de nascimento com data diferente da que constava no cartório; era bem mais velho (38) que os outros do grupo; tinha várias tatuagens (incomum, em 1959) incluindo um pentagrama; tinha dentes de ouro; era solteiro, o que era estranho, na sua idade; suspeita-se que trabalhasse para a KGB; e o pior de tudo: o DNA (mitocondrial) do corpo atribuído a ele não combina com o dos seus sobrinhos. Como se jamais tivessem enterrado o verdadeiro corpo de Semyon.


Em seu favor, havia se entrosado com o grupo porque era divertido, cheio de histórias da 2ª Guerra e ainda tocava música para dançarem (e sabia várias). E, de qualquer forma, se alguém matou o grupo, não levou qualquer pertence deles (câmeras, diários, dinheiro...).


Uma teoria diz que ele forçou os outros a sair da barraca, andar até a floresta, e os matou. E achou alguém para servir de corpo em seu lugar. Tá bom, improvável.



Fecha Parêntesis)


Investigação

A investigação subsequente demonstrou que: três morreram de ferimentos ou pancadas e, seis, de hipotermia; a possibilidade de avalanche era baixíssima (era uma passagem relativamente plana e o grupo saberia onde acampar para fugir da possibilidade de uma. Além disso, eles fugiram montanha abaixo, exatamente para onde uma avalanche correria); eles não foram atacados pelos Mansi e nem por algum animal selvagem, pois não havia pegadas que o indicassem; havia radiação nas roupas deles (o que pode ser explicado pelo fato de que alguns trabalhavam, na universidade, com produtos radioativos); a pancada em um dos rapazes foi fatal e tem uma particularidade: não pode ter sido causada por alguma criatura, pois não havia dano na pele dele, o ferimento era interno! Durante o funeral, as pessoas notaram que eles todos tinham um bronzeado laranja bem forte.


Os primeiros a serem achados, em 27 de fevereiro de 1959, foram Yuri Nikolaeevich Doroshenko, Yuri Alekseevich Krivonischenko, Igor Alekseevich Dyatlov e Zinaida Alekseevna Kolmogorova. Estes morreram de hipotermia. Mas há um porém: Doroshenko tinha (revelado depois, na autópsia) um edema pulmonar e uma concussão pulmonar; Krivonischenko tinha queimaduras de 3º grau e Dyatlov vomitara sangue. Kolmogorova tinha um hematoma em forma de batom, na cintura.


Em 5 de março do mesmo ano, foi encontrado o corpo de Rustem Vladimirovich Slobodin. Possuía um trauma craniano que nunca se soube explicar. Os corpos restantes, de Lyudmila Aleksandrovna Dubinina, Aleksander Sergeevich Kolevatov, Nikolay Vladimirovich Thibeaux-Brignolle e Semyon Alekseevich Zolotaryov, foram achados pelos nativos locais Mansi, meses depois de mortos.



As Mortes

As buscas se iniciaram por causa da falta de notícias. Eles deveriam escrever em 12 de fevereiro, mas atrasos eram comuns naquele tipo de expedição. Entretanto, dia 20 de fevereiro, com a pressão dos pais, o Instituto Politécnico Ural (em que a maior parte do grupo estudava), enviou uma equipe de resgate, formada por professores e alunos voluntários. Logo, o exército se jutou.


Os 4 primeiros corpos encontrados estavam entre o pinheiro e a barraca, a maioria em postura de quem quer voltar a esta. A busca pelos outros 5 esquiadores durou mais de 2 meses.



Os corpos


Encontrados sob o cedro, na beira da floresta:


- Georgiy Alekseevich Krivonischenko: Georgy é um dos poucos a que se pode atribuir com exatidão a causa da morte. Hipotermia. Suas roupas foram retiradas pelos seus amigos. Seu corpo foi descoberto sob o pinheiro. Vestia apenas: uma camiseta; uma camisa xadrez e calças.


Dos seus ferimentos, temos:

01. Hemorragia difusa na região temporal;

02. Ferida no osso temporal esquerdo;

03. Pele da mão esquerda, danificada (sugere-se que ele queria passar o maior tempo possível na árvore e, para se manter acordado, mordia a própria mão);

04. Abrasão vermelho-clara na lateral direita do seu peito;

05. Abrasões vermelho-escuras na parte frontal da coxa esquerda.


Georgiy Alekseevich Krivonischenko
Georgiy Alekseevich Krivonischenko

- Yuri Nikolaevich Doroshenko: Com 1,80m, Doroshenko era o mais alto do grupo. Sua coloração post mortem também era estranha: púrpura-amarronzado. Foram achadas manchas de hipóstase na parte traseira do seu pescoço, torso e extremidades, o que não condiz com a posição em que o corpo foi achado. Pode indicar que o corpo foi movido depois da morte. A quantidade de urina em sua bexiga também não se aplica a alguém que tenha morrido por hipotermia. Os legistas da época identificaram as feridas e abrasões como nada que pudesse matar uma pessoa - explicando que Doroshenko podia ter se tacado em rochas, gelo etc., em um estado de agonia. Ele vestia: camiseta de algodão; camisa de mangas curtas; shorts; calças e um par de meias.


01. Cabelos queimados, do lado direito da sua cabeça;

02. Lábios, nariz e orelhas cobertas de sangue;

03. líquido cinzento saindo pela boca (possivelmente, um edema pulmonar);

04. Feridas marrom-avermelhadas na parte de cima do seu antebraço direito;

05. As mãos e as pontas dos dedos tinham úlceras de frio (diz-se que, se Yuri Nikolaevich Doroshenko tivesse sobrevivido, teria que amputar todos os dedos das mãos e dos pés) etc.


Incidente Dyatlov em Português - Yuri Nikolaevich Doroshenko
Yuri Nikolaevich Doroshenko

Encontrados entre o cedro e a barraca:


- Igor Alekseevich Dyatlov: Dyatlov, o líder do grupo e quem dá, hoje, nome à passagem em que morreram, foi encontrado há 300 metros do pinheiro, entre este e a barraca. Por sinal, sua cabeça estava levantada, como se estivesse tentando ir em direção a esta. Vestia (relativamente bem): jaqueta desabotoada; sweater; blusa de manga longa; camisa; calças de ski. Sua jaqueta desabotoada é incomum para quem tem hipotermia e para quem tem "desnudamento paradoxal". Seu corpo tinha uma coloração post mortem um tanto estranha. Era vermelho-azulada.


01. Pequenas abrasões na testa e nas pálpebras superiores;

02. Sangue seco na boca;

03. Faltava-lhe um dente incisivo inferior;

04. Joelhos machucados, sem sangramento nos tecidos infeirores;

05. Abrasões vermelho-amarronzadas nos calcanhares, com hemorragia nos tecidos internos;

06. Descoloração cinza-púrpura na parte traseira da mão direita.


Igor Alexeevich Dyatlov
Igor Alexeevich Dyatlov

- Zinaida Alekseevna Kolmogorova (Zina): Zinaida estava melhor vestida do que os outros três (4 foram encontrados, primeiro). Tinha: dois chapéus; camiseta de manga longa; sweater; camisa xadrez; calça de algodão; calças de montanhista e três pares de meias.


01. Uma abrasão vermelho-escura na saliência frontal do crânio;

02. Abrasão vermelho-escura nas pálpebras superiores;

03. Várias feridas na bochecha esquerda;

04. Manchas na pele no lado direito da face;

05. Pele faltando na base do terceiro dedo;

06. Uma longa ferida na região lombar, na parte direita das costas.


Zinaida Alekseevna Kolmogorova
Zinaida Alekseevna Kolmogorova

- Rustem Vladimirovich Slobodin: Slobodin estava melhor vestido que seus companheiros achados anteriormente. Uma blusa de manga longa, camiseta, um sweater, duas calças, dois pares de meias e uma bota de feltro (valenki).

Incidente Dyatlov em Português - Valenki
Um par de botas de feltro - valenki.

Seu corpo foi encontrado um dia após a autópsia dos 4 corpos encontrados primeiro, com o relógio marcando 8:45 da manhã.


01. Hemorragias nos músculos temporais;

02. Pequenas abrasões marrons na testa;

03. Ferimento vermelho-amarronzado na pálpebra do olho direito;

04. inchaço e vários pequenos ferimentos em ambos lados da face;

05. Feridas nas juntas de ambas mãos (que são comuns em lutas corporais);

06. Lábios inchados;

07. Fratura no osso frontal (testa).


Incidente Dyatlov - Rustem Vladimirovich Slobodin
Rustem Vladimirovich Slobodin

Encontrados sob uma ravina (2 meses após os demais)


- Nikolay Vladimirovich Thibaux-Brignolelle (Tibo): Um dos mais bem agasalhados do grupo, na hora do incidente, Thibaux-Brignolelle vestia: um chapéu; camiseta; jaqueta; luvas (encontradas em um de seus bolsos); meias e um par de botas (valenki).


01. Várias fraturas no crânio;

02. Um ferimento no lábio superior;

03. uma hemorragia no braço direito.


Na conclusão da autópsia, o médico atesta que tais machucados não poderiam ter sido causados por uma queda ou um lançamento ou empurrão do corpo. A fratura no crânio era equivalente à que se espera de um impacto com um carro em alta velocidade.


Nikolay Vladimirovich Thibaux-Brignolelle
Nikolay Vladimirovich Thibaux-Brignolelle

- Lyudmila Aleksandrovna Dubinina (Lyuda): Esta foi encontrada em um declive (por onde passava um rio e, por isso, a queda era grande). Estava vestida com: uma camiseta de manga curta; uma de manga longa; dois sweaters (que, posteriormente, mostrou-se conter mais radiação do que se pode esperar em qualquer estudante de química); meias longas; duas calças e um chapéu.


Sua autópsia (ou, ao menos, o resultado) foi superficial. Os legistas disseram que ela não estava sexualmente ativa (ou seja, não tinha sido atacada por ninguém - o que não deixa de ser uma informação extremamente inútil). O relatório da autópsia dizia, apenas isso e que "a língua está faltando". Os corpos anteriores tinham tido uma autópsia detalhada.


1. Tecido mole faltando ao redor dos olhos, nariz e sobrancelhas;

2. Faltavam-lhe os olhos; tinha o nariz quebrado;

3. Faltava-lhe o tecido mole do lábio superior;

4. Faltava-lhe a língua;

5. Várias costelas quebradas;

6. Uma hemorragia enorme no coração.


Incidente Dyatlov em Português - Ludmila Aleksandrovna Dubinina
Ludmila Aleksandrovna Dubinina

- Semyon Alekseevich Zolotaryov: Semyon Alekseevich, assim como Dubinina, tinha um padrão de feridas muito parecido. Como se, o que quer que o tenha causado, fosse da mesma fonte, do mesmo evento. Também foi achado na ravina. Ele vestia: dois chapéus; cachecol; camisetas (1, de manga curta, a outra, de manga longa); sweater e um casaco desabotoado em cima. Provavelmente, não morreu de hipotermia. Seu corpo tinha uma câmera ao redor do pescoço, o que, segundo Yuri Yudin (o que voltou), era uma completa surpresa. Tendo estado no grupo nas fases iniciais da expedição, Yuri afirmava que o grupo só tinha 4 câmeras (todas encontradas na tenda). Essa era, justamente, a . E o filme fora danificado por causa da água do rio.


  1. Olhos faltando;

  2. Faltava tecido mole perto da sobrancelha esquerda;

  3. Feridas abertas no lado direito do crânio, ficando o osso, exposto.


Incidente Dyatlov - Semyon Alekseevich Zolotaryov
Semyon Alekseevich Zolotaryov

- Aleksander Sergeyevich Kolevatov: Aleksander era o atleta do grupo. Era um caminhante nato. Tinha apenas 24 anos de idade, ao falecer. Cursava o ano de física (era especializado em física nuclear) na Faculdade Politécnica dos Urais. Estava vestido, quando encontrado, com uma camiseta de manga longa, dois suéteres, calças, roupas de baixo compridas, dois pares de meias, um par de chinelos feitos em casa, uma jaqueta e um relógio. Precisamos notar que suas roupas estavam intactas, comparadas às dos outros membros do grupo, mas isso pode se dever ao fato de que estes usaram suas roupas, após sua morte. Aleksander Sergeyevich Kolevatov era um dos mais enigmáticos do grupo, tendo sido, anteriormente, convidado a trabalhar em um laboratório nuclear, em Moscou.


Segundo seus colegas, Alexander era inteligente, estudioso, calmo, reservado, patriota, confiável, maduro e respeitado por todos. Alexander tinha voltado à Universidade Politécnica dos Urais para terminar seus estudos, logo antes da expedição.


1. Seus olhos estavam intactos, mas suas sobrancelhas estavam carcomidas;

2. Morreu de graves concussões;

3. Sua roupa testou positivo para radiação.


Incidente Dyatlov em Português - Aleksander Sergeevich Kolevatov
Aleksander Sergeevich Kolevatov

Perguntas

A pergunta não é nada sobrenatural. Na verdade, é bem simples: por que 9 jovens abandonam a aparente segurança de uma barraca, alguns só de cueca, e não voltam posteriormente pra ela? O que houve naquela tenda?


A cada década surge uma nova teoria, recebida sem entusiasmo: nenhuma conseguiu explicar cada um dos aspectos do Incidente Dyatlov.


Para completar, você vai achar que estou brincando, mas duas outras expedições em locais próximos relataram ter visto OVNIs (OVNI não quer dizer Disco Voador, mas simplesmente um objeto voador não identificado) verdes sobrevoando o local.


Pronto, mais um mistério para a história do nosso planetinha redondo. Para esse, duvido que você encontre resposta. Eu fico arrepiado pensando se eles ouviram algum rugido assombroso e correram, se tiveram um acesso de loucura coletivo, se houve um vento sobrenatural, um barulho subgrave...


Recentemente deram novo "veredicto": houve uma avalanche, fugiram da tenda, alguns morreram de hipotermia, outros de uma queda. Ponto. Só que isso está longe de ser satisfatório. Por que correram para tão longe? Por que, ao menos, não agarraram umas roupas (enquanto várias pessoas saem por um buraco na sua frente, há tempo de você puxar sua mochila)? Como não havia sinal de avalanche? Os investigadores da época descrevem com clareza as pegadas que saíam do acampamento... Imagino que, se houvesse avalanche, isso não seria possível.


Editado em 26.09.2020



Algumas teorias e por que elas não funcionam


1. Avalanche – É tentador acreditar que tenha sido uma "simples avalanche", mas não havia sinal de deslizamento no local. A barraca ainda estava levantada, apoiada em pás de esqui, também ainda em pé. A neve que cobria parte da tenda tinha caído de cima, passaram-se 20 dias até que os corpos fossem descobertos. Além disso, a hipótese de avalanche foi levantada desde a primeira investigação, já na época e considerada fraca. Eles eram experientes, se houvesse essa possibilidade estariam mais agasalhados. Além disso, ela explica alguma parte da situação, mas se combinada à teoria do Vento Catabático. E, sendo ela tão forte, teria derrubado a barraca. Por fim, se ouviram sinais de avalanche por que de tentaram abrir a barraca por dentro? (deve demorar). Saíram sem pressa e com pressa ao mesmo tempo?


2. Assalto – Um assalto a mão armada - Os oficiais foram bem claros: havia 8 ou 9 pares de pegadas saindo da tenda, não mais. Além disso, por que eles teriam feito um corte lateral na tenda, em vez de sair pela entrada?


3. Ataque pelos MansiHomens Mansi foram torturados pelas (covardes) autoridades, segundo alguns documentários. Mas mesmo sob tortura a história que eles contavam era que tinham encontrado os esquiadores quando eles iam entrar na montanha, e os alertaram para que não fossem por ali. Era a Montanha dos Mortos. As histórias dizem que tinha esse nome porque os Mansi não encontravam nada pra caçar naquela região (a tradução pode ser "Montanha dos Mortos", mas também pode ser "Montanha Estéril"). Há, ainda, a lenda de 9 Mansi que teriam morrido no lugar em circunstâncias jamais elucidados.


4. Um som subgrave que eles teriam confundido com uma avalanche se aproximando – Um infrassom muito específico, de alguma natureza, os teria posto em desespero, pensando tratar-se de avalanche - Mas não explica por que eles saíram “de maneira organizada” e sequer pegaram alguma mochila. Além do mais, na direção para a qual andaram, jamais teriam conseguido correr do que pensavam ser uma avalanche por 1.5 km.


5. Vento catabático – É um vento que vem encosta abaixo, carregando um ar de alta densidade. É um fenômeno raro e muito violento. Mas esse vento teria derrubado a barraca.


6. Ieti – Não preciso falar sobre Ieti, mas vou. Defensores dessa "teoria" sustentam que havia pegadas enormes no local, mas as autoridades não documentaram. Além disso, em uma das últimas páginas do diário do grupo, que era todo escrito de forma irônica e brincalhona, eles escreveram “agora sabemos que o homem das neves é real”... Tá. Então o monstro os teria atacado e perseguido por mais de 1 km e depois matado um por um só por matar? Ou então teria sido responsável pela saída deles da tenda e dado uns golpes em alguns e, posteriormente, eles, não conseguindo voltar ao acampamento, teriam morrido de hipotermia? Amigo, se você quer acreditar nisso, vá em frente.


7. Frozen (Slab avalanche) - Quando estavam produzindo o filme Frozen, desenvolveram um algoritmo do comportamento da neve que chamou a atenção de dois cientistas suíços. Fizeram simulações de computador a respeito do caso Dyatlov. Elas mostraram uma nova possibilidade: a de uma slab avalanche (algo como avalanche em bloco), que, segundo os cientistas e animadores do filme, explicaria, por exemplo, as escoriações e fraturas de alguns. Essa avalanche, diferente da de neve, é de gelo, o que explicaria os golpes que alguns sofreram, que foram comparados, na época, aos da onda de impacto de uma grande bomba. Mas não explica como eles escaparam, todos, do deslizamento e por que não voltaram depois. O vídeo abaixo detalha essa tese. Em 2021, um grupo de físicos e engenheiros publicou um artigo demonstrando que, mesmo um deslizamento relativamente pequeno de avalanche em bloco, no Kholat Syakhl, poderia causar danos na barraca e ferimentos condizentes com os do grupo.



8. Surgiu, recentemente, da boca do canal National Geographic, a hipótese de que o grupo tenha sido assassinado por seu ex-integrante Yuri Yudin, que havia ficado para trás. Mas essa tese é tão leviana que eles não se preocupam em explicar nada do incidente. E, muito menos, de explicar as inconsistências (a ausência de suas pegadas, suas motivações etc.).


9. Testes militares – Talvez alguma arma nuclear da própria União Soviética tenha atordoado o grupo, com um calor e uma radiação absurdas. O problema é que haveria marcas, pistas dessa detonação. E a barraca, novamente, não estaria íntegra.


10. Despir paradoxal - Uma explicação que só valeria para alguns dos membros do grupo, o despir paradoxal é um fenômeno que ocorre com certa frequência. O corpo "confunde" o frio com o calor e a pessoa se despe. Estatisticamente, esse fenômeno é responsável por quase metade das mortes por hipotermia. Mas, para mim, explica nada.



As Expedições Investigatórias


Além da original, de 1959, que comentou apenas que eles foram atingidos por uma "força impulsionadora irresistível", o próprio governo russo encomendou uma investigação, entre 2015 e 2019, ao Comitê Investigativo da Federação Russa. Os experientes detetives tiveram acesso, não ao local, mas a todos os documentos existentes. No final, eles acrescentaram dados importantes, como: a velocidade do vento, de cerca de 20 a 40 metros por segundo (algo entre 70 e 110 km/h); uma tempestade de neve e a temperatura de -40º C.


Em 2015, Keith McCloskey, um dos grandes estudiosos do assunto, reuniu um grupo, com um membro da Fundação Dyatlov, e foi, ele mesmo, para a passagem Dyatlov. Lá, ele descobriu várias discrepâncias, especialmente nas distâncias descritas pela expedição original. Além disso, perceberam que o lugar em que a barraca estivera era completamente inapropriado para uma avalanche.


Além disso, o chefe de Lev Nikitch Ivanov (um dos investigadores originais), Okishev Evgeniy Fyodorovich, ainda estava vivo em 2015 e havia dado uma entrevista em que afirmava que estava formando uma missão à Passagem Dyatlov para investigar, especificamente, as quatro últimas mortes (immagino que se refira aos quatro últimos corpos achados), mas o Procurador Geral Adjunto Urakov chegou de Moscou e mandou cancelarem a missão.


Okishev também observa, na mesma entrevista, que o presidente do Escritório da Procuradoria de Sverdlovsk, Klinikov, esteve presente no necrotério e passou três dias lá.




Pontos a se observar


- A maioria deles tinha alguma pancada muito violenta. Pode ser que quatro deles tenham caído de uma ravina, de uma boa altura, mas e os outros?


- Um deles morreu com um papel em uma mão e uma caneta na outra, como se estivesse prestes a escrever algo.


- A causa oficial da morte, na investigação de 1959, foi “por uma força desconhecida”.


- A entrada da barraca não tinha zíper, mas botões, o que, pela demora de desabotoar, poderia ter levado o pessoal a fazer um corte na lateral da tenda.


- Alpinistas e trilhadores de caminhos muito gelados não tiram as roupas de frio nem para dormir, principalmente quando, lá fora, está fazendo – 30º.


- Uma das câmeras do grupo nunca foi encontrada (oficialmente).


- Um dos diários, também não.


- Um puttee, ou obmotki, que é uma espécie de bota que militares usavam, foi encontrado perto dos corpos. Não pertencia a nenhum deles, segundo parentes e o amigo (Yuri Yefimovich Yudin) que faria a viagem com eles, mas teve que voltar.


- Eles não pegaram roupa, mas tiveram tempo de pegar uma câmera e uma lantena.


- A radiação encontrada nas roupas deles era muito maior do que o esperado de quem trabalha em laboratórios, como alguns.


- Sobre Yuri Yudin, já foi dito "ou ele é um cara muito sortudo, ou é o assassino. Eu investigaria mais Semion Zolotaryev".


- Quanto mais você investiga, mais esquisito fica.


- As mais recentes expedições e os mais recentes estudos para elucidar o ocorrido (o último ocorreu em 2021) são mais fantasiosas que o próprio ocorrido; envolvem ventos catabáticos e um tipo específico de avalanche - a slope avalanche.


- Não é apenas um caso de morte. É preciso explicar por que eles sobreviveram na barraca e não, na árvore.



Rumores falsos sobre o Incidente Dyatlov


Há, claro, muitos "fatos" que circulam pela internet, que são falsos. Vejamos alguns:


- O grupo falou que o Yeti existe - Na verdade, eles mencionam em um dos seus diários: "Agora, sabemos que o Yeti existe". Mas foi em tom de troça, de brincadeira;


- Os membros do grupo não demonstravam sinais de envelhecimento;


- Não havia expressão de horror neles;


- A cor da pele era alaranjada, mas, segundo este site, era consistente com as condições (decomposição no frio extremo);


- As últimas quatro pessoas foram enterradas em caixões de zinco - A suposta verdade, segundo o mesmo site, é que esses caixões eram fáceis de achar e baratos. A expressão russa "vestido de zinco" é um eufemismo para morte.


Um memorial foi erguido no cemitério de Ecaterimburgo em homenagem aos 9 esquiadores.
Um memorial foi erguido no cemitério de Ecaterimburgo em homenagem aos 9 esquiadores.

Leia mais:


Perdoem a Jaqueline Guerreiro, ela estava começando:


E, aqui, algumas das dezenas de matérias sobre a "resolução" do caso:


Em inglês:


Fique à vontade para comentar o que você acha. Que tipo de desespero os teria tirado da tenda com tanta (e, ao mesmo tempo, tão pouca) pressa?


Para comentar, basta rolar abaixo e encontrar uma caixa de diálogo vermelha.



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